“E essa é a galinha gorda”, disse a nossa guia, apontando para a águia que é símbolo do Parlamento Alemão, também conhecido como Bundestag. A enorme escultura de metal tem esse apelido engraçado e chama a atenção na sala onde o Parlamento se reúne e a Chanceler Angela Merkel discursa. Estávamos sentados na área aberta para o público, diante do plenário vazio. Acima de nós, dava para ver pessoas cruzando o domo de vidro no topo do prédio.
O Bundestag fica no Palácio do Reichstag, um prédio construído pelo Rei (ou Kaiser) Guilherme I, em 1894. O local só se tornou a sede do parlamento depois do fim da Primeira Guerra, quando acabou a monarquia e foi proclamada a República de Weimar. Essa função durou pouco tempo, porque em 27 de fevereiro de 1933, um mês depois da nomeação de Hitler como chanceler, o prédio pegou fogo num incêndio até hoje bastante suspeito.
Os nazistas acusaram os comunistas de terem colocado fogo no prédio e se aproveitaram do fato para lançar um decreto que basicamente colocava fim na constituição e dava espaço para instaurar o regime totalitário. Marinus van der Lubbe, um ativista de extrema-esquerda, “confessou” ter iniciado o incêndio e foi condenado à morte. Hoje, muitos historiadores afirmam que na verdade foi o próprio Hitler quem orquestrou toda a ideia do incêndio para seguir com seus planos de governar por decreto, sem interferências.
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O Terceiro Reich durou 12 anos e nesse período houve pouquíssimas sessões parlamentares. Quando elas ocorreram, não foram no Palácio do Reichstag, que continuou destruído pelo incêndio, sem reforma. Durante a guerra, foi usado para fins militares. Porém, em 1945, o Exército Vermelho ainda considerava esse um símbolo do regime de Hittler e portanto foi um dos principais alvos dos ataques de Stalin na Batalha de Berlim.
Mesmo depois da reforma, o prédio ainda conserva duas paredes com marcações de soldados russos quando invadiram o Reichstag.
Quando acabou a guerra, com a divisão de Berlim, o Palácio do Reichstag continuou em ruínas e o parlamento alemão passou a se reunir em Bonn, a partir de 1949. O prédio começou a ser restaurado nos anos 1960 e ficava bem na beira ocidental, quando o Muro de Berlim foi construído. Com a queda e a reunificação alemã, houve uma cerimônia simbólica de reunião do Bundestag, em 1990, mas o prédio só passou a ser utilizado oficialmente em 1999, após uma reforma executada pelo arquiteto Norman Foster. Além de remodelar o interior do Palácio, foi ele quem reconstruiu a cúpula de vidro, numa referência à cúpula original do prédio, que hoje é aberta gratuitamente para visitação.
Como acabei de dizer, a visita ao Palácio do Reichstag é gratuita. Mas não basta simplesmente chegar lá e tentar entrar. Existe todo um processo burocrático, afinal o Bundestag se reúne ali e várias pessoas importantes frequentam o prédio.
Entre no site de visitantes do German Bundestag, que só está disponível em alemão, inglês, francês e árabe. Se você não fala nenhuma dessas línguas, use o Google tradutor, porque é importante ler todas as informações.
O texto diz que esse é apenas um pedido de reserva, que depois será confirmado por email e também que é necessário ter o nome completo e a data de aniversário de todos os visitantes do seu pedido de reserva. As requisições para visitas guiadas só podem ser feitas no mesmo mês ou nos dois meses seguintes do pedido. Já para visitar a cúpula, só valem pedidos para o mesmo mês e para o mês seguinte. Além disso, serviços parlamentares, condições climáticas e situações de segurança podem afetar as visitas – e algumas vezes elas podem ser canceladas de última hora, sem aviso prévio.
A partir daí, você precisa escolher qual das três modalidades de passeio quer fazer:
A visita ao terraço e à cúpula do palácio inclui também um audioguia. Fica aberto todos os dias, das 8h até meia-noite, mas a última admissão é às 22h. Visitantes podem subir a cada 15 minutos e ficar lá o tempo que quiserem. As visitas são fechadas nos feriados de Natal, Ano-Novo e em alguns dias do ano para manutenção, que são indicados no site.
Depois de clicar em visitar o domo, você preenche o número de visitantes e clica em next. Na página seguinte, você tem que especificar de uma a três possibilidades de datas e horários para fazer sua visita. A prioridade é dada à primeira opção na sua lista.
Em seguida, preencha seus dados e vá para a página seguinte, onde você pode revisar seu pedido e, se estiver tudo certo, é só clicar em “save request”.
Você vai receber um email com um link para preencher a lista de visitantes. Só depois disso é que o seu pedido de visita é confirmado. Depois de um ou dois dias, eles encaminham um novo email, com o convite oficial da visita e informações sobre qual das entradas do prédio você deve se dirigir no horário marcado.
Não é necessário imprimir o convite, basta mostrá-lo no seu celular.
Se você decidir tentar fazer a visita guiada, os tours de 90 minutos estão disponíveis nas datas em que o Bundestag não se reúne. Existem tours em várias línguas, incluindo em português. Na hora de fazer o pedido, é possível dar opções alternativas de passeios em outras línguas, se você, por exemplo, falar também inglês ou espanhol. Há ainda a possibilidade de indicar mais de um horário e dia de passeio, o que aumenta suas chances de conseguir.
Na página seguinte, é o momento de buscar um dia e horário disponíveis. Eu, por exemplo, não consegui nenhuma data para o tempo que estaria em Berlim, nem em português, nem em inglês.
Conseguindo uma data, o processo é o mesmo da visita à cúpula, você revisa seu pedido, salva e recebe um email com um link para preencher os dados dos visitantes. Uma vez que a visita é confirmada, você recebe um novo email com o convite oficial e informações sobre o que fazer no dia e horário da visita.
Como eu não consegui a visita guiada, resolvi tentar essa tal palestra na galeria plenária, seguida da visita liberada ao domo. São sessões de 45 minutos, que ocorrem na área de visitantes acima da câmara plenária do parlamento. Eles explicam todas as funções e composição do Bundestag e também sobre a história e arquitetura do prédio.
Esse tipo de visita em inglês só acontece às terças-feiras, às 11h, nos dias em que o parlamento não se reúne e fora dos feriados públicos. As apresentações em francês são nas terças, sempre às 13h. E em alemão há diversas opções de horários, durante todos os dias da semana. Quem fala alemão também pode tentar, em dias específicos, assistir a uma das sessões plenárias.
Os visitantes têm que ter no mínimo 15 anos para participar dessas sessões de apresentação.
O processo de reserva é semelhante aos que já descrevi acima. Você escolhe de uma a três opções de data, confirma a reserva, recebe um email para informar os nomes dos visitantes e depois, se confirmado, recebe um email com o convite oficial e informações do que fazer no dia da visita.
Foi necessário chegar lá com 45 minutos de antecedência, esperar na fila do lado de fora, passar pela segurança, aguardar todo o grupo, entregar todas as bolsas e casacos na chapelaria e só então nos sentamos na área de visitantes da sala do plenário para ouvir as informações.
Foi lá que a guia nos contou sobre a história de chamarem a águia de galinha gorda, nos mostrou exatamente como é a divisão dos assentos do parlamento, onde a Merkel se senta e nos contou que existe um funcionário específico que verifica se nenhum dos visitantes dorme durante as plenárias.
Essa informação eu achei particularmente engraçada, porque preciso confessar que eu quase dormi durante os 45 minutos de palestra. Sim, é uma boa guia e que dá informações interessantes, mas são informações demais, algumas delas muito técnicas. Enfim, foi legal poder ver tudo de perto e aprender um pouco sobre o governo alemão, mas poderia facilmente ter condensado a palestra em 25 ou 30 minutos, no máximo.
Depois que acabou, pegamos nossos casacos e bolsas e fomos para o corredor no qual estão as inscrições dos soldados russos, feitas no fim da Segunda Guerra. É o mesmo corredor que dá acesso aos banheiros e está aberto a todos os visitantes, mesmo aqueles que só vão ver a cúpula.
Em seguida, subimos na cúpula do palácio e no terraço. E sim, essa parte foi muito legal e recomendo para todo mundo. Se eu soubesse antes que a palestra seria tão maçante, teria apenas reservado a subida ao domo e pegado o audioguia gratuito para saber as informações. Lá também há uma pequena exposição com informações sobre o prédio. E a vista de Berlim, mesmo em um dia cinza, é bem bonita.
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