Piranhas, Alagoas: o que fazer na capital do Xingó

Quando Dom Pedro II desembarcou em Piranhas, Alagoas, uma cidade às margens do São Francisco, ele ouviu de um morador uma constatação que seria repetida por inúmeros visitantes anos depois: “que solão”. O Imperador anotou em seu diário o gosto popular pelo aumentativo, esfregou o suor da testa e tentou enfrentar o calor do sertão alagoano.

Isso foi em 1859. Naquele dia Piranhas deu seus primeiros passos para ser conhecida nacionalmente. O povoado, importante parada comercial para os barcos que navegavam pelo Velho Chico, contava com menos de 400 residências. Muitas dessas construções históricas – incluindo sobrados, uma Torre de Relógio, igrejas, mirantes e uma estação ferroviária – encontram-se preservadas e já são um baita motivo para te levar até lá.

Piranhas

Mas tem mais. A cidade cresceu, entrou para o mapa turístico e o centro histórico de Piranhas foi tombado como Patrimônio Artístico Nacional. São quase mil edificações preservadas, todas coloridas e pintadas pela prefeitura da cidade. Não bastasse tudo isso, mais dois acontecimentos reforçaram a importância de Piranhas. O primeiro deles foi o Cangaço, fenômeno de banditismo que ocorreu no nordeste nos séculos 19 e 20 e que teve em Piranhas dois capítulos importantíssimos.

Em 1936, Piranhas se tornou célebre ao resistir a uma invasão de um grupo de cangaceiros comandado pelo temido Gato, que morreu ali. O detalhe é que a cidade estava sem soldados e que o delegado e mais oito militares fugiram assim que souberam da invasão. Foram moradores locais, do alto de suas casas, que impediram o avanço dos cangaceiros.

Dois anos mais tarde, Piranhas voltou ao noticiário. É que partiram dali os soldados que encontraram e mataram Lampião e seu bando, praticamente pondo um ponto final no cangaço. Sabe aquela icônica (e macabra) foto das cabeças dos cangaceiros expostas numa escada? Isso ocorreu na escadaria da Prefeitura de Piranhas, para onde os soldados voltaram depois da batalha da Grota do Angico.

Imagem, de autor desconhecido, feita em Piranhas, em 1938

Não bastasse a história, na década de 90 um último ato fez de Piranhas um lugar ainda mais procurado. E dessa vez foi um alagamento. A criação da Usina do Xingó, no Rio São Francisco, formou cânions navegáveis de água esverdeada. Piranhas, em Alagoas, e Canindé de São Francisco, no Sergipe, são as duas bases tradicionais para explorar a região. Mas não se engane: pelas construções seculares, pela Rota do Cangaço e pela História, Piranhas é o lugar onde você quer ficar.

Veja também: Lampião, Maria Bonita e a história do Cangaço 
Onde ficar no Cânion do Xingó: pousadas e hotéis
Como chegar ao Cânion do Xingó

Cânions do Xingó

O que fazer em Piranhas: pontos turísticos

Chegamos em Piranhas no começo da tarde, quando já não era mais possível fazer passeios de barco – em geral eles saem de manhã. Por falar nisso, existem dois passeios. O mais tradicional sai de Canindé de São Francisco ou de Olho d’água do Casado, cidades vizinhas, e passa pelos cânions. Ele pode ser feito de lancha ou catamarã. O outro, que parte do píer de Piranhas, navega pelo leito natural do Rio São Francisco, passa por comunidades ribeirinhas e termina na Grota do Angico, local onde Lampião e seu bando foram vencidos.

Veja também: Passeio de barco pelo Cânion do Xingó

Como eu já dediquei outros textos só sobre esses passeios e os Cânions do Xingó, neste falarei apenas das atrações de Piranhas. Começando pela prainha de onde partem os barcos e que também é usada para banho. Boias marcam a área segura, guarda-sóis e cangas se espalham pela areia e um punhado de bares servem comida e bebida a poucos metros do rio. Almoçamos ali, com Velho Chico engolindo o horizonte.

Se de tarde o ponto de encontro é a prainha, de noite todos correm para o centro. Ali, em meio a restaurantes de todos os tipos, mesinhas se espalham pelas ruas e o forró toma conta – é assim todo final de semana e feriado. O estabelecimento mais conhecido é a Cachaçaria e Restaurante Altemar Dutra.

Rio São Francisco – Vista a partir do Mirante Secular

 Além da noite, perambular pelas ruelas observando as casas coloridas e as quase mil construções tombadas pelo IPHAN já é um programão. Um dos mais importantes é o prédio da antiga Estação Ferroviária, construída no final do século 19, anos depois da visita de Dom Pedro II. Hoje no prédio funciona o Museu do Sertão, que reconta a história de Piranhas e do cangaço. O local é pequeno e a entrada custa apenas dois reais. Os trilhos da antiga ferrovia foram removidos, assim como a rotunda, trilhos circulares usados para inverter o sentido das locomotivas – ela ficava onde hoje há uma praça e um campo de futebol.

Em frente ao Museu fica a Torre do Relógio, que fazia parte da estação e marcava a hora da chegada e saída dos trens. Hoje funciona no alto da torre um café, que abre de terça a domingo, das 15h às 20h. Esse é apenas um dos mirantes da cidade. Eu encarei os quase 400 degraus (e um monte de sapos) para chegar ao Mirante Secular, erguido no final do século 19. Lá, uma placa diz que “Os homens do século XIX saúdam os homens do século XX”.

No Mirante Secular funciona o restaurante Flor de Cactus, um dos melhores da cidade. Também é possível chegar de carro. O outro, no lado oposto, é o Mirante da Igreja, que também fica no alto de uma escadaria. Confesso que me cansei com a subida e deixei esse para uma próxima visita, mas parece outro ponto de vista interessante.

Descendo a escadaria, praticamente do lado da Torre do Relógio, está o Centro de Artesanato de Artes e Cultura, onde funciona diariamente, até às 18h, uma feira de produtores locais. Igrejas, como a Matriz de Nossa Senhora da Saúde, e casarões completam a lista de pontos turísticos.

Quando ir

A temporada seca começa em agosto e vai até fevereiro, com destaque para outubro, que é o mês em que chove menos (ou quase nada). As chuvas começam timidamente em março, mas aumentam em intensidade em maio, junho e julho.

Piranhas, Alagoas: roteiro e transporte

Partimos de Aracaju. Até Piranhas são 220 km – espere gastar entre 3h e 3h30 no percurso. Dá para ir de ônibus, dá para fazer no esquema bate-volta, com diversas agências de turismo, mas eu acho que vale a pena passar pelo menos uma noite (o ideal é duas) na cidade.

Por causa da distância entre as atrações, que estão em estados diferentes, compensa muito alugar um carro. Neste texto aqui nós explicamos como alugar um veículo com melhor custo/benefício. Já nesse aqui está o passo a passo para ir de ônibus ou van para Piranhas a partir de Aracaju. Também é possível ir de Maceió. Só é um pouco mais longe: 270 km.

Hospedagem em Piranhas

Pousada Maria Bonita tem quartos simples, mas é perto de tudo e tem vista para o rio. Outra com vista para o Velho Chico é a Pousada Lampião Rio, assim como o Pedra do Sino Hotel, que tem uma vista espetacular da cidade, piscina e preços com bom custo/benefício, mas que está no fim de uma longa escadaria e ao lado do Mirante Secular.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Texto claro e com boas referências de tudo do local. Continue com este empenho e qualidade de trabalho.

  • Posso atestar tudo o que está escrito e descrito aqui. A cidade é linda e a história é viva no lugar. Transmite uma paz, uma sensação boa que faz a gente se sentir mais vivo. Os banhos nas águas do Velho Chico são inigualáveis. Recomendo sem medo de errar.

    • Olha, eu francamente não testei profundamente. Funcionou normal no pouco que usei.

      Abraço.

  • Rafael, gostei das dicas estou indo em Novembro agora, vc acha quantos dias e preciso ficar para os passeios?? obrigada

  • É MUITO LINDA A CIDADEZINHA MATRIZ PIRANHAS ALAGOAS. GOSTARIA DE VER PELO APARELHO FILMADORA DO DRONE FILMANDO TODA A CIDADEZINHA E O RIO SÃO FRANCISCO DOS DOIS LADOS, O DE PIRANHAS E DE SERGIPE À EXTENSÃO ATÉ PERTO DA REPRESA E DESCENDO ATÉ O LOCAL GROTA DE ANGICOS, MOSTRANDO TUDO COM DETALHES. POIS NUNCA PODEREI IR VISITAR ESSA REGIÃO E A LINDA CIDADEZINHA MATRIZ PIRANHAS.

  • Já fui umas 3 vezes a Piranhas, partindo de Paulo Afonso - BA. É um bate-e-volta super perto, e bem gostoso de fazer.

  • Oi. Muito legal seu post sobre Piranhas. Visitei a cidade em 2013 e realmente é fantástica. A paisagem do rio São Francisco do alto do restaurante flor de cacto congelou na minha memória pra sempre.

    • Vale muito a pena. Fui no ano passado com filhos e netos e todos voltamos encantados. pena que durou pouco. passamos apenas uma noite e ficamos na Pousada Velho Chico - maravilhosa! Almoçamos na beira do rio com a Salete, que nos fez na hora uma muqueca de peixe inesquecível. Nadamos na represa do Xingó e visitamos os cânions. É realmente de perder o fôlego! Quero voltar mas dessa vez, partindo de Maceió, e com mais calma. Nosso Brasil é lindíssimo e a acolhida do povo Nordestino inigualável!

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Publicado por
Rafael Sette Câmara

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