Pontos turísticos de Tóquio: conhecendo a cidade

*Por Leonardo Motta

Tóquio é um mar cinza. E o centro da maior região metropolitana do planeta, com quase 2900 km² e mais de 13 milhões de habitantes. Nem se eu tivesse morado lá por anos poderia entendê-la do jeito que gostaria.

A verdade é que Tóquio não é uma cidade só, e sim a reunião de mais de 40 municipalidades, incluindo as 23 cidades especiais (special wards), dentro de uma legislação especial, em que elas possuem governo próprio, mas têm certos serviços providos pelo Governo Metropolitano de Tóquio. Os 23 “special wards” formam o que foi a cidade original, ocupada desde sua criação, em torno da Baía de Tóquio.  É neles que ficam pontos turísticos, administrativos e históricos clássicos. Além das 23, existem ainda as municipalidades da Área de Tama, na região que se estende até quase o Monte Fuji.

Ou seja, conhecer todos os principais aranhas-céus, templos, restaurantes e parques de lá é uma ilusão, mas dá pra visitar pontos chaves de um jeito fácil: o metrô.  É só se preparar para bater perna, pois as estações são enormes, e se acostumar com a ideia de estranhos te encarando. Afinal, você é estrangeiro, “gaijin”, e não passa despercebido.

Asakusa

Asakusa é um lugar de opostos. Construído ao lado do rio da cidade, o Sumida, historicamente foi o bairro boêmio de Tóquio, com casas de sake e apresentações de gueisha, reunindo uma galera não muito familiar. Hoje, o lugar é bem mais sossegado, mas ainda na rota do turismo, já que abriga o templo budista mais famoso de Tóquio – o Senso-ji.

A visita a Senso-ji começa no portal Kaminarimon, que representa os deuses do Trovão e do Raio e é o início do caminho até o templo em si, que fica do outro lado do bairro.  Para chegar até lá, o visitante passa pela Nakamise-dori, um calçadão que abriga uma charmosa feirinha permanente, que tem quinquilharias, comida, apetrechos artesanais japoneses, souveniers bonitos, souveniers feios, numa mistura de feirinha Benedito Calixto com lojinhas do entorno da Times Square. Fiz todas as minhas compras de viagem nela e recomendo para quem busca peças japonesas que não digam “I love Japan”. É só peneirar um pouco.

Passado o portal e a feira, chegamos ao templo. O telhado curvado do salão principal, o “hondo”, impressiona com sua forma que mais parece uma onda gigante, que segue em nossa direção. Essa grandiosidade quase desvia nossa atenção da pagoda de 5 andares, a ponta e os adornos banhados em ouro.

Adjacente ao templo budista, à sua esquerda, o santuário xintoísta. É fácil reconhecer um santuário, pois a sua entrada sempre possui um portal, “tori”, geralmente de madeira. Dois centros religiosos tão distintos num mesmo terreno num exemplo perfeito de convivência religiosa.

Sky Tree

O tempo todo em Asakusa é possível ver do outro lado do Sumida uma torre alta, altíssima. É a Sky Tree Tower, o ponto mais alto de Tóquio e o segundo do mundo. De Asakusa até ela, numa caminhada modesta, dá uns 30 min sem parada. Inaugurada em maio de 2012, esse gigante de aço e concreto, de 634 metros de altura, foi construído na realidade para abrigar antenas de televisão, cujos novos sinais digitais precisavam de um ponto mais alto do que Torre de Tóquio. Mas como o potencial turístico era óbvio, foram feitos impressionantes decks de observação, com lojas e restaurantes.

Prepare-se para longas filas – as maiores que enfrentei – e tente ir cedo para não ser vencido pelo cansaço. Mas a vista compensa. Lá de cima, a visão é vertiginosa, tão superior (em todos os sentidos) que somente uma imagem explica bem (olha aí abaixo). O bairro ao redor é residencial e não tem prédios altos como o centro da cidade, então a Sky Tree se destaca de forma quase agressiva.  Tudo fica muito pequeno, muito irreal. Dá pra ver o Fuji de lá? Até daria, mas a poluição cinzenta encobre o vulcão.  E por isso dizer que o cinza é a principal cor da cidade: resultado de anos de tanta gente morando e construindo no mesmo lugar.

Existem diferentes opções de visita, indo ao ponto de observação mais “baixo” para o  topo, incluindo ou não uma foto tradicional tirada lá em cima. Dá para ver os detalhes aqui.

Akihabara

Pegando a linha Ginza (a laranja) e fazendo uma baldeação para a linha Hybia (cinza), na estação Ueno, dá para chegar à Akihabara, o epicentro do eletrônico.

Originalmente um portal de entrada para Edo, que mais tarde se tornaria Tóquio, a região era frequentada, no século 19, por comerciantes e artesãos, numa área sem muito requinte. Com a construção de uma estação de metrô, no início do século 20, a vocação para vendas cresceu ainda mais, e, após a Segunda Guerra, o distrito se consolidou como ponto central do mercado negro, principalmente de eletrodomésticos. Com o boom japonês dos anos 80, a mercadoria da vez eram os eletrônicos e computadores, não demorando muito para que os otaku, aficionados por mangás, anime e tecnologia, invadissem o local. Assim, o que não falta em Akihabara são nerds atrás do último jogo e da última publicação de um mangá.

Sou um otaku em uma potência menor e gosto de certos animes e mangas mais tranquilos, com mais papo do que batalhas, mas até os meus olhos brilharam quando vi uma quantidade infinita de lojas voltadas só para isso, algumas com andares inteiros (sim, andares) de bonecos, fantasias, posters e quinquilharias pra todos os gostos. Acabou que me empolguei e gastei um dia inteiro para achar uma coleção de bonecos do meu favorito, Samurai X (Rurouni Kenshin). E isso do lado de dentro das lojas, por que, do lado de fora, as placas de neon formam um arco-íris artificial, também sem fim, que encanta o mais blasé dos compradores.

Se você já é crescido e não tem saco pra essas coisas, aposto que vai ficar perdido pelo menos nos eletrônicos, com uma variedade de celulares, tablets, fablets e afins. Não saco nada de tecnologia, mas sei que hoje o Japão não está mais na vanguarda de criação, afinal lá a marca mais forte também é a quase onipresente Apple. Porém, vender é com eles e se até eu voltei com um mini Ipad, com você não deve ser muito diferente.

Shinjuku

Fazendo uma baldeação mais complicada, da Hybia para a Ginza e Ginza para a Maronouchi (linha vermelha), chegamos ao “centro” de Tóquio, Shinjuku. É lá que estão as sedes das grandes companhias, da sede do Governo Metropolitano e da assustadora estação Shinjuku. Além de estação de metrô, também é uma estação de trem (incluindo os trem-bala), se tornando grande e confusa demais. Eu me perdi todas as vezes que passei por ela, com seus diferentes níveis, semi níveis, caminhos que exigem que você passe pela rua, shoppings no meio da estação e o diabo a quatro.

Sede do Governo Metropolitano

Mas fora dela, siga pela principal avenida da região e visite a sede de Governo. Um prédio impressionante, com duas torres paralelas. Nele também se tem uma bela vista da capital, essa mais central e mais rica, sendo possível ver os pontos marcantes da skyline de Tóquio.

Pouco mais a frente na avenida, o Shijuku Central Park, um parque simples, pequeno até, que reúne nos fins de semana e dias de folga pré-adolescentes brincando e dançando e oferece uma boa opção de verde. Perto dali fica o “verdadeiro” Central Park japonês, o Shijuku Gyoen. Uma área enorme, totalmente verde no verão e dominada pelo rosa na época das cerejeiras. A 10 min da estação Shinjuku, é uma excelente opção para quem quer ver as flores – mas evite ir no inverno.

Harajuku

“Posso tirar uma foto sua?”, perguntei para a figura. Ela nem respondeu, só fez a pose, com os clássicos dedinhos em sinal de paz. É assim em Harajuku: se vista e se faça ser visto. São muitos, muitos adolescentes vestidos de bonecas, gatas, personagens de animes, rappers, estrelas de cinema, numa onomatopeia fashionista em que não há como estar mal vestido. E, claro, um número também imensurável de turistas, conhecendo o estilo das “Harajuku Girls”, que Gwen Stefani já tinha cantado. Domingo, quando não tem aula, a muvuca geralmente é ainda maior.

Descendo pela JR line, a partir de Shinkiju, é bem rápido chegar até Harajuku. E logo na saída da estação fica o principal ponto do distrito, a rua Takeshima, um calçadão lotado de lojas, mas onde o que chama a atenção mesmo são as pessoas do lado de fora. A exemplo da minha modelo, elas topam tirar foto numa boa.

Mas não é difícil também encontrar lojas de roupas estilosas, ainda que menos chamativas, que os tokyoites (os que vivem em Tóquio) menos exibicionistas e, particularmente, de melhor gosto, exibem.  Tirando as extravagâncias, eles adoram do grunge ao color blocking, num estilo street, em que tudo se pode, desde que com bom senso. Só um detalhe, os tokyoites mais ferrenhos não parecem usar roupas que tenham aparência de velha, apesar de gostarem do vintage, estando sempre alinhados. Então, se você ignorar a sua aparência gaijin e tentar se infiltrar a eles, tome esse cuidado.

Ótimas opções de compra também na Meiji Dori, principal avenida à direita da estação JR, especialmente no cruzamento com a Omotesando dori. Mas prepare o bolso, já que comprar em Tóquio não é barato.

Shibuya

Tá cansando de tanta cidade, de tanto ambiente urbano, loja, trem e gente? Pois é, talvez a parada mais marcante e excitante dessa viagem ainda está por vir: Shibuya. O cruzamento de nove pistas, famoso pelo filme Encontros e Desencontros, está lá; a estátua do Hachiko também, o cachorrinho que esperava seu dono já falecido em frente a estação de trem, mesmo anos após a morte; mesma coisa de uma porrada de lojas de departamento, algumas com impressionantes 9 andares, pois Shibuya é mais um polo de moda.

De Harajuku até ali são meras duas paradas. Mas a estação Shibuya consegue ser quase tão confusa quanto Shinjuku, com passarelas que atravessam avenidas e entradas diferentes para linhas diferentes. Porém, uma boa opção é sempre procurar pela saída do Hachiko, o cachorrinho que parece estar também a sua espera.

Em NY, a Times Square impressiona, especialmente à noite, com todos os sinais e cartazes de neon. E se eu tinha achado que Akijabara já rivalizada com a praça mais famosa dos EUA, estava enganado. Shibuya não rivaliza com a Times, deixa ela no chinelo, por que não é só um cruzamento ou rua, são avenidas inteiras iluminadas, além de lotadas, numa Times Square vezes dez.

“Você teria tempo de fazer uma foto para mim?”, me perguntaram numa delas. Perguntei para que seria e explicaram: “É para uma revista”. Assustado com a ideia, não topei, mas descobri que é comum. Os nossos olhos, redondos e maiores fazem sucesso, por isso revistas e agências menores param pessoas no meio da rua para um photoshoot barato. O modelo sempre ganha mixaria, mas volta com o ego lá em cima.

E nada melhor para encerrar o dia em Tóquio do que um pulo em um dos vários izakaya. Parecem pub, mas com mesas baixas em tamamis, para que o cliente  possa, antes de qualquer coisa, beber. Todo mundo come também, geralmente aperitivos fritos diversos. Os homens tiram as gravatas, as mulheres param de sorrir mecanicamente, num raro momento de relaxamento para os japoneses. Aproveitei e relaxei também.

Vai viajar? O seguro de viagem é obrigatório em dezenas de países e indispensável nas férias. Não fique desprotegido no Japão. Veja como conseguir o seguro com o melhor custo/benefício para o país – e com cupom de desconto.

*Este texto foi escrito por Leonardo Motta. Jornalista, ele está sempre de olho no cinema e no mapa da próxima cidade que vai conhecer. Agradecemos ao Leo pelo relato. 

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360meridianos

Blog de três jornalistas perdidos na vida que resolveram colocar uma mochila nas costas e se perder no mundo.

Ver Comentários

  • Estou planejando ir ao Japão em abril 2019 com 5 amigas.Quanto dias para conhecer Toquio! ainda queremos conhecer Kioto,Osaka,Nara,Fuji-Hakone,Yokohama.Ishikawa,Aichi.
    Por favor, precisamos de dicas.Obrigada.
    Obs:estamos na faixa de 63 a 70anos.

    Atenciosamente

    Eneida nery

  • Olá a todos !
    Primeiramente parabéns ao blog aew galera ! Moro na terra do sol nascente e já tive o prazer de visitar esses lugares. Tokyo fascina realmente.
    Gastaria de deixar duas dicazinhas e fazer uma "correção", se possível.
    Uma dica boa eu acho a Tokyo Tower. Apesar de hoje existir a Sky Tree que é bem mais alta , o charme da Tokyo Tower é demais também.Nada melhor do que você reservar um quarto num hotel ao lado da torre, abrir a janela e dar de cara com um sol radiante e aquela torre.
    Outra dicazinha boa seria Roppongi com seus bares-baladinhas onde cada 10 pessoas acho que 9 são estrangeiras rs , e o Roppongi Hills (prédio shopping center).
    E a "correção" gostaria de fazer sobre o texto de Shibuya lá onde começa : " Em NY, a Times Square impressiona,...", foi escrito Akijabara onde o certo seria Akihabara , correto ? Nada demaaaaais assim ne mas pra gente que já conhece fica meio estranho ler "akijabara" rs

    Valeu , abraço !

  • Olá,

    Estava procurando um roteiro que contemplasse as melhores coisas de Tokyo e parece que este aqui está bem completo...so uma duvida, da pra realmente fazer tudo isso em um dia apenas? Tipo, desde o desembarque que sera provavelmente de manhazinha ate o fim da tarde ou sera que teria que ficar dois dias la pra conseguir ver tudo?

    • Oi, Yumi.

      Dá pra fazer em um dia, mas seria muito corrido, saindo de casa bem cedo e voltando bem tarde. Talvez o melhor seja ir com mais tranquilidade, sem correria. Três dias é o tempo ideal.

      Abraço.

      • Ok, obrigada pelas informações, ajudou mto a montar um roteiro...ja que vo usar so 15 dias pra passear por la...=D

        Ate mais

  • Pessoal, estou fascinada pelo blog de vocês.
    Não consigo parar de ler os posts!!

    Estou planejando uma viagem de 1 ano e vocês tem sido uma fonte de informação e inspiração.

    Estou com dúvidas sobre visto de turismo China e Japão, se puderem me ajudar agradeço imensamente!

    É possível obter estes vistos estando em outros países? Pois como eles tem validade de 3 meses apenas, não conseguirei providenciá-los no Brasil - antes da viagem - pois no meu roteiro tenho outros países para visitar antes e assim estes vistos vão expirar.

    Muito obrigada e parabéns pelo blog.

    Abraços.

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