Se andar por Roma é pisar na história, passear pela Via Appia é uma jornada por uma estrada de 2300 anos. Muito mudou nesse trajeto de mais de 500 km, que foi traçado desde os tempos da Roma antiga e continuou existindo e sendo usado na Idade Média, Renascença até se tornar um museu a céu aberto no século 19. Hoje a Via Appia Antica é acessível de transporte público, tem uma série de paradas em pontos históricos importantes e sem dúvida é um passeio que vale a pena.
Por volta do século 3 a.C. não existiam tantas estradas longas no mundo. Mas a necessidade fala mais alto e os romanos, mais exatamente o censo Appius Claudius, desenhou uma rota, a Appia, que conectaria diretamente Roma a Cápua, um caminho reto, direto e que pudesse ser trafegado facilmente por pedestres e carruagens. O objetivo inicial era permitir o movimento rápido das tropas romanas durante uma guerra contra os Samnitas, no sul. Mais tarde, depois do conflito, a rota foi estendida ao Porto de Brindisi, que era a ligação direta de Roma com Grécia, Egito e Oriente Médio.
Graças a essa importância, mesmo com aquela expressão de que “todas as estradas levam a Roma” (baseada no fato de que realmente Roma era considerado o ponto inicial de qualquer rota), a Via Appia tornou-se a mais importante estrada do mundo romano, a rainha de todas as estradas, ou Regina viarum. Outra curiosidade é que essa foi a primeira grande estrada romana cujo nome não foi dado a sua função ou destino, mas ao magistrado que a construiu.
E se em 2016 ainda não é tão simples fazer longas estradas, imagina em 321 a.C? O projeto era uma verdadeira revolução da engenharia e demandou muito dinheiro para transformar o antigo caminho acidentado numa estrada digna. Inicialmente o pavimento utilizado era uma pedra de lava, mas em 189 a.C foi repavimentada com pedras especiais para isso, aquelas grandes de basalto, polidas, que passaram a ser usadas em todas as estradas romanas daí por diante, visto que conseguia drenar a água e era resistente a passagem dos carros.
No entorno da Via Appia ficavam pequenas fazendas. Mas, nos últimos séculos da República, os ricos romanos passaram a comprar terras ali para fazer Villas enormes e luxuosas fora da cidade. Um exemplo a ser visitado é a Villa dos Quintili, um complexo construído pelos irmãos que dão nome à vila.
De tão incrível, o projeto chamou a atenção do Imperador Comodo, que mandou matar a família Quintili e tomou o espaço para si, fazendo algumas reformas para transformar o palácio em um complexo imperial. A área é enorme e as ruínas estão em bom estado de conservação. Dá para ver parte das termas, anfiteatro, muitos mosaicos e cômodos.
Além disso, correios, tavernas, hotéis e outros serviços para viajantes ficavam ali, como hoje, na beira da estrada. Claro que vários eventos históricos tiveram como palco a Via Appia. Como a revolta de Spartacus, que terminou com 6000 escravos rebeldes capturados e crucificados ao longo da estrada, de Roma a Pompeia. Sem contar que Julio Cesar e outras figuras importantes de seu tempo certamente passaram por ali para celebrar vitórias ou partir para batalhas.
Mais tarde, no início dos primeiros séculos depois de Cristo, a Via Appia também se tornou um grande atrativo para peregrinos cristãos, que iam atrás dos santuários fora dos muros da cidade, catacumbas onde se encontravam as tumbas de mártires. Vale lembrar que até 321 d.C. os cristãos eram perseguidos pelos romanos e tinham que se esconder atrás de símbolos e códigos.
Permanecem ali preservadas as tumbas, afrescos e salões. Por exemplo, as Catacumbas de São Calisto são as maiores de Roma: um labirinto de túneis de 19 km a vinte metros de profundidade. Ainda, há as Catacumbas de São Sebastião, de onde surgiu o nome “catacumba”, por conta de poços de argila que ficavam ali. Também dizem que por muitos anos ficaram escondidas ali os ossos de São Pedro e São Paulo. A visita é guiada e é bem interessante, porém, só há opções em inglês, italiano, espanhol e alemão. Custa 8 euros.
Tal como Roma, a Via Appia começou a sofrer com as invasões e guerras nos séculos 4 e 5 e ficou muito perigosa para ser usada. Isso só mudou no século 6, quando a Igreja tomou conta e o local passou a ser protegido e se tornou uma forma de acesso à área rural da cidade. Na Idade Média, as terras foram passadas para famílias ricas, que começaram a construir verdadeiras vilas fortificadas por ali, chamadas castras. Um dos mais famosos desses é o Castrum Caetani, um espaço onde a família Caetani construiu, com direito a muralhas, casas, igreja e um palácio.
Ainda dá para ver as ruínas da igreja, logo em frente do Mausoléu de Cecilia Metella. Cecília era a matriarca de uma família romana importante e mais tarde a família Caetani se aproveitou da construção para fazer seu palácio. Ou seja, na visita ao mausoléu você encontra partes dessas duas histórias. O ingresso para o Mausoléu está incluído num bilhete combinado das Termas de Caracalla e a Villa dos Quintili. Custa 6 euros.
A propriedade da família Caetani também gerou outras mudanças da Via Appia. É que eles passaram a cobrar um pedágio tão alto para quem quisesse visitar o local que, em 1574, o papa Gregório XIII decidiu construir uma estrada alternativa, a Appia Nuova. Assim, a antes grandiosa Appia Antica tornou-se somente uma estradinha suburbana e seus monumentos viraram ruínas.
Foi Napoleão quem pela primeira vez sugeriu que toda a via Appia fosse desenhada como um grande parque arqueológico. Mas o plano só saiu do papel mesmo no século 19, com o papa Pio IX. Seu plano era recuperar a Appia Antica, as catacumbas e basílicas e fazer com que visitantes pudessem andar pelos primeiros quilômetros da via na saída de Roma e admirar os monumentos tal como um museu a céu aberto.
Além dos lugares que eu já citei neste post, é possível visitar várias coisas na Via Appia Antica até a milha 11. O caminho começa na Porta Capena, onde antigamente ficavam as muralhas da cidade, bem próximo às Termas de Caracalla. Depois, no século 3, com a construção das Muralhas Aurelianas, a porta Capena foi destruída e foi construída a Porta San Sebastiano, que está lá até hoje. Daí se seguem várias igrejas, sepulcros e catacumbas. É possível ver o mapa completo e interativo no site oficial da Via Appia Antica.
Além de circular a pé ou de bicicleta, é possível chegar e percorrer parte da Via Appia de transporte público. A linha circular 118 sai do centro de Roma (passando pelo Coliseu e ao lado da Vitório Emmanuelle) e passa praticamente por toda a Via Appia Antica, inclusive até a Villa dos Quintili, que é mais afastada. As linha 660 e 218 cobrem a parte inicial da Via Appia, onde ainda há tráfego de carros.
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Olá, gostaria de fazer esse passeio alugando uma vespa; iríamos eu e meu marido.
Você acha viável?
Oi Mirela,
Acho que é viável sim, porém tem um pedaço da via appia que é fechado para trânsito
Lu: vc é descendente dos fenícios. Tem a cabeça na Lua e os dois pés na estrada. Bora lá pra Marte. Este planeta está muito pequeno para nós.
hahahahaha
Ainda tem muito da Terra para visitar
Oi Luiza
Sabe onde alugar as bicicletas para o passeio?
É pelo meio da via ou existe pista exclusiva para as bikes?
Abraço
Oi Francisco,
Não sei onde você poderia alugar. Achei aqui algumas opções: https://www.yelp.com/search?cflt=bikerentals&find_loc=Roma
Não existe pista exclusive para bikes. Em certas partes, pedestres, carros e bicicletas dividem o espaço.
Boa noite Luiza, tudo bem?
Gostaria de saber se eu fizer o trajeto da via Apia Antica a pé até a Villa dei Quintilli, terei que voltar todo o trajeto a pé para conseguir pegar um Uber ou transporte público?
Oi Daniela,
Você consegue voltar de uber ou de transporte público. Foi o que eu fiz, na volta pegamos o ônibus que passa em frente a Villa (só tem que atravessar a avenida) e te deixa ali na região do Coliseu ou Praça Veneza.