O santuário de Pachacamac, em Lima: mil anos de história

Num dia qualquer de 2012, Lima acordou com trânsito caótico, oito milhões de moradores e 80 múmias recém-descobertas. Escavadas por um grupo de arqueólogos belgas do Santuário de Pachacamac, que fica a 40 quilômetros do centro da capital peruana, as múmias estavam enterradas há cerca de mil anos – e muitas delas eram de crianças.

Essa não foi a primeira descoberta do tipo em Pachacamac, um lugar que já foi habitado por diversos povos, e certamente não será a última. Os arqueólogos acreditam que as primeiras construções da região foram erguidas dois séculos antes de Cristo caminhar por Jerusalém. Os povos que controlaram a área se sucederam: Lima, Wari, Yshma e, já no final do século 15, os Incas.

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Onde ficar em Lima: dicas de hotéis e bairros

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Em todo esse tempo, a função da região era religiosa. Pacha Kamaq era um deus da mitologia local, considerado o criador dos primeiros homens. Como acontece em várias religiões – inclusive no cristianismo – se tornou comum que os humanos desejassem ser enterrados perto de seu deus. Há evidências de que sacrifícios humanos também foram feitos ali.

Aos poucos, Pachacamac, além de um centro religioso, tornou-se também um grande cemitério. Não é preciso ser um arqueólogo para achar restos humanos por lá. O vento faz o trabalho e diariamente desenterra ossos que dormiam há séculos. “Uma equipe é responsável por recolher esses restos, todos os dias, mas tem muita coisa”, explicou o guia que nos acompanhava no passeio, enquanto apontava para o que parecia ser um osso humano.

Pachacamac era um importante centro de peregrinação religiosa e funcionava como uma espécie de oráculo quando os incas anexaram o território, no final do século 15. Eles resolveram respeitar a religião local e Pacha Kamaq foi incorporado ao panteão do império, embora com menos poder que o Deus criador inca, Viracocha. Os incas também ergueram suas próprias pirâmides e acrescentaram história num santuário que já tinha quase 1500 anos.

Quando os espanhóis chegaram, Pachacamac não escapou da invasão. Na Batalha da Cajamarca, os espanhóis capturaram Atahualpa, imperador inca que tinha aceitado um convite para conversar e compareceu ao encontro apenas com uma guarda cerimonial. Cerca de seis mil soldados incas foram mortos nos eventos seguintes e Atahualpa ofereceu um grande valor em ouro e itens preciosos aos espanhóis, na tentativa de pagar o próprio resgate.

Francisco Pizarro, o conquistador espanhol, ficou tentado pela oferta e enviou seu irmão e outros 14 homens até Pachacamac, para coletar os itens valiosos. Hernando Pizarro entrou em Pachacamac, mas, segundo algumas versões da história, boa parte das riquezas do santuário – em especial do Templo do Sol – já tinha sido retirada de lá.

Anos mais tarde, os espanhóis derrubaram partes de Pachacamac e transformaram o local numa espécie de pedreira de onde tiravam material para construir suas igrejas e prédios. O passar dos séculos, o El Niño, e a explosão populacional que ocorreu em Lima na segunda metade do século 20 ajudaram a deteriorar ainda mais o antigo santuário pré-colombiano.

Como é a visita ao Santuário de Pachacamac

Não espere ruínas bonitas à moda Machu Picchu. Ao contrário, ali você verá poeira, muita terra e 16 pirâmides sem topo, construídas em diferentes épocas, entre 900 e 1533 d.C. Cada prédio tinha uma função, que poderia ser administrativa, religiosa ou residencial, para autoridades da época que viviam em palácios por ali.

Cada pirâmide foi feita com uma série de plataformas, acessíveis por uma rampa central. Ruas conectam todo o complexo e hoje são frequentadas por turistas e, nos dias de semana, excursões com alunos de Lima. A área é enorme. Além de percorrer uma boa distância a pé, a van que nos levou ajudou a diminuir a distância entre as ruínas.

Construído após o domínio inca em Pachacamac, o Templo do Sol está no cume de um monte e voltado para o mar. Ali eram depositadas oferendas (e alguns sacrifícios humanos). Também era ali que estavam as riquezas prometidas por Atahualpa ao conquistador espanhol.

No começo de 2016 foi inaugurado o Museu de Sítio de Pachacamac, onde são exibidas cerca de 300 peças que contam um pouco da história pré-colombiana da região. Vale visitá-lo, até mesmo para entender a história de Pachacamac e aproveitar melhor a visita.

Você pode chegar ao Santuário de Pachacamac de duas formas: alugando um carro – e enfrentando o caótico trânsito de Lima – ou contratando os serviços de uma agência local. Acho que a segunda opção é uma escolha melhor. O passeio dura metade de um dia e custa em torno de 30 dólares (nesse valor já está incluído o ingresso no santuário). O Santuário abre de terça a domingo, geralmente das 10h às 17h. Aos domingos o local fecha às 16h. A entrada em Pachacamac, caso você vá por conta própria, custa 10 soles. Eu viajei a convite do Submarino Viagens, que organizou este passeio em conjunto com Condor Travel.

*O 360meridianos viajou ao Peru a convite do Submarino Viagens e da PromPerú.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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