Selva Sassiri, circuito de arvorismo no Espírito Santo

Só não me agarrei à árvore e me recusei a continuar para não passar vergonha. Arvorismo pode ser brincadeira até para crianças, eu sei, mas é capaz de causar tremedeira em marmanjos. Tipo eu. O pior é que há muitos anos eu queria passar uma tarde empoleirado perto das belíssimas copas das árvores, mas a oportunidade nunca tinha aparecido. Até o último mês de novembro, quando eu percebi que as raízes das árvores também têm seus atrativos, com a vantagem de ficarem mais perto do chão.

O problema é que minha ideia de arvorismo se provou bem diferente da realidade. Na minha mente completamente coerente, eu pensava que entre as árvores existiriam largas pontes de madeiras, quase avenidas, todas devidamente equipadas com grades de proteção. A cada árvore eu encontraria pequenas casinhas, onde seria possível bater um papo descontraído e observar o mundo do alto. Sem querer ser irrealista, pra mim seria mais ou menos como as casas dos elfos de Lothlórien, de “O Senhor dos Anéis”. Eu passaria algumas horas entoando canções élficas e falando sobre a Terrá-Média, tudo completamente protegido, afinal o Sauron não sobe em árvores. Ó:

Não fosse assim, poderia ser pelo menos como a Vila da Árvore Brilhante, de Guerra nas Estrelas – Episódio VI. Nas palavras do sábio filósofo C-3PO: “Uma vila no topo das árvores! Isso não é esplêndido? Pontes de madeira no ar e casas esculpidas em troncos de árvores”.  E isso sem nem falar nos ewoks, seres simpáticos que moram na tal vila e dão festas de arromba lá.

Imagem: Guerra nas Estrelas – Episódio VI

Você pode até dizer que eu era um nerd com expectativas erradas, mas não pode dizer que minhas expectativas eram ruins. Fato é que eu fui para meu primeiro arvorismo esperando uma coisa e encontrei outra, também muito legal, só que bem mais radical. Isso:

Equilibrar um pé ali, outro lá, pular de galho em galho… enfim, uma coisa completamente diferente. Mesmo assim, me enchi de coragem e resolvi encarar o desafio. Afinal, até um ewok encararia. E o desafio seria logo marcante: junto com outros blogueiros, nós conheceríamos o Selva Sassiri, maior circuito de arvorismo da América Latina, que fica no Espírito Santo. O circuito tem 1,5 quilômetro de comprimento em três níveis diferentes: o mais baixo (e fácil), com altura de 3 metros, o médio, a cerca de 12 metros, e o mais fodão, que fica a 18 metros do chão e tem obstáculos mais complicados.

Para estrear no arvorismo, primeiro vesti os equipamentos de segurança, a parafernália que me manteria perfeitamente seguro a quase 20 metros de altura. Risco de cair não há. Só mesmo o da sensação de quase queda.

Antes de começar o percurso, fizemos um treinamento a poucos centímetros do chão, numa pista criada somente para esse fim. O instrutor explicou que uma vez no alto da árvore, nosso equipamento de segurança seria ligado de forma contínua aos cabos de aço instalados no circuito. E que para não desequilibrar nos obstáculos, o método é colocar o pé na diagonal e andar devagar.

“Beleza, não parece complicado”, pensei. Ainda mais vendo os outros blogueiros que participavam da aventura, quase todos muito bem sucedidos no circuito de testes. E lá fui eu. Um pé aqui, outro ali, mais um passo adiante e… caí. “Beleza, foi só um acidente, azar mesm…” caí de novo. “Calma, Rafael, você está a 20 centímetros do chão, isso aqui nem é para valer aind…” cai outra vez. “Porra, faz esse negócio direito, seu…” Sim, despenquei outra vez.

Se aquilo fosse um videogame, eu não teria mais vidas. Seria tipo um Donkey Kong ruim de serviço. Nesse momento eu já estava pensando se rolava de dar uma desculpa qualquer, tipo “machuquei minha panturrilha” ou “sou alérgico a árvores”, para desistir do programa. Como isso era ridículo, pensei em até fazer o percurso, mas na pista para inciantes e crianças de oito anos, a três metros do chão. “Isso, Rafael, agora você tem um bom plano”, pensei.

“Então, gente, em qual circuito vocês vão? Quem vai no primeiro?”, perguntou o instrutor.

Ninguém.

Dup. Das duas, uma: ou eu passava vergonha no circuito mais fácil ou teria que encarar pelo menos o de nível médio. Mas se eu tinha caído 157 vezes na fase de testes, imagina quando fosse pra valer, a vários metros do chão?  Na falta de coragem para enfrentar o ridículo, preferi criar coragem para enfrentar a altura. Subi no circuito de nível médio e comecei a me equilibrar de árvore em árvore, passando por cordas, pedaços de madeiras, tabuas, canos e outros obstáculos. As fotos que o Maurício, do blog Trilhas e Aventuras, tirou da gente esconderam bem meu pânico inicial.

No começo foi tudo bem – eu até passei a escutar o canto dos pássaros e a admirar a paisagem. Foi aí que cometi um erro crucial: olhei pra baixo. Foi nesse momento que eu quase me agarrei ao tronco da árvore para nunca mais soltar. “Calma, Rafael. Pensa em outra coisa, sei lá, num filme, qualquer um. Pode ser do Tarantino, do Spielberg ou do Hitchcock. Isso, tipo “Psicose”, “Os Pássaros” ou “Um corpo de Cai. Não Ahhhh”!

Só parei de ser ridículo quando a Naty, com muito jeitinho, disse uma coisa que me fez refletir. “Pare de ser ridículo”, ela falou, rindo. Ou alguma coisa do tipo. Pois bem, resolvi só curtir o momento, sabendo que o máximo que poderia acontecer era um pequeno desequilíbrio e uma sensação de quase queda. Pé aqui, outro acolá, e pouco a pouco as árvores foram ficando para trás. E não é que a partir da metade do circuito, com o medo já dominado, eu comecei a achar aquele lance de arvorismo muito legal? Pode até não ter elfos, nem ewoks e muito menos casas nas árvores, mas é de fato relaxante. E o mundo tem outra cara visto lá de cima. Só que as recomendações de segurança não permitiram que eu tirasse fotos de lá para mostrar para vocês, claro.

No fim, meu primeiro arvorismo foi uma experiência bastante positiva. Se caí 157 vezes na fase de testes, fiquei quase uma hora no alto das árvores e não vacilei uma única vez! Prova de que meu sangue frio e perícia sabem quando o desafio é para valer ou quando é só um teste para crianças. Ok, nada disso. Suponho que a fase de testes possa ter obstáculos mais bambos, justamente para deixar o galerê mais esperto.

Curtiu? O legal é que essa região capixaba oferece várias opções de esportes de aventura. Da próxima vez que eu passar por lá vou tentar rafting. O bom é que nesse caso eu não tenho nenhuma expectativa nerd/irrealística envolvida. Sei exatamente do que se trata. Ó:

Senhor dos Aneis – A Sociedade do Anel

Como fazer Arvorismo no Espírito Santo

O Selva Sassiri fica em Venda Nova do Imigrante e perto da Pedra Azul, na região das montanhas capixabas. Para participar é preciso ter altura mínima de 1,30 metro e mais de oito anos de idade (nessa faixa etária a criança precisa estar acompanhada por um adulto). O limite de peso é de 110kg. O preço varia entre R$ 20 e R$ 60 por pessoa, dependendo da atividade escolhida. Mais detalhes no site do Selva Sassiri.

O 360meridianos viajou a convite da Secretária de Turismo do Espírito Santo e o Sebrae.

 

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Não acho que você seja um nerd com expectativas erradas, Rafael. Juro que eu também achei os cenários bem parecidos. Acho, inclusive, que o rafting do Rio Jucu é igualzinho a esse cenário do Senhor dos Anéis aí. :-D
    Eu preciso confessar uma coisa: como é bom ler um post como esse, que se destaca daquela mesmice de informações óbvias. Um post autêntico de um blog de viagem autêntico. Parabéns!

    • hahaha! A gente devia sugerir pro pessoal da secretaria de turismo colocar uns Argonaths, as estátuas, em cada margem do rio Jucu. O turismo ia bombar. =)

      Obrigado pelo elogio ao post. Assim que acabou o arvorismo, falei com a Naty sobre isso e resolvi fazer o post assim. Afinal, um blog é relato pessoal. E eu juro que tinha outra visão de arvorismo. Culpa da cultura nerd. hahaha

      Abraço!

    • Pois é, Liliana. Eu descobri lá, no alto da árvore, que o medo de altura é uma coisa real. Acho que arvorismo até dá pra encarar com mais facilidade daqui pra frente. Agora, rapel, por exemplo, eu não animaria nunca. E ainda tem a galera do bungee jumping... isso sim é coragem! Tremo de medo só de pensar. hehehe

    • Que bom se divertiu com o texto, Fernanda.

      Bem que podiam contratar uns ewoks para o arvorismo. hehehe

      Abraço.

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Rafael Sette Câmara

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