Shiraz está para o Irã assim como a Bahia está para o Brasil. Bom, talvez não no quesito praia, mas certamente no quesito cultura e estilo de vida. Frequentemente chamada de “Cidade dos Poetas, Vinho e Rosas”, a região já foi o centro do Império Persa e tem uma população conhecida por sua personalidade alegre e relaxada.
Shiraz é o coração cultural do país e famosa por seus jardins persas preservados, arquitetura belíssima e uma herança literária de respeito. Além disso, é o ponto de partida para visitar as ruínas de Persépolis e Pasárgada, duas cidades famosas da era Persa.
Nesse texto, você vai ler mais sobre a cultura e descobrir o que fazer em Shiraz, além de dicas de onde ficar na cidade. Vamos lá?
Localizada no sudoeste do Irã, Shiraz é bem conectada por voos internacionais e domésticos, além receber ônibus vindos de muitas partes do país. Leia também: Como planejar seu roteiro de viagem pelo Irã.
A cidade oferece meios transporte local eficientes para facilitar a locomoção dos visitantes.
Leia também: O que fazer e onde ficar em Teerã, a capital do Irã
Uma vez em Shiraz, deslocar-se pela cidade é bem fácil. Eu preferi usar táxis e caminhar, já que estava em um hotel próximo à zona turística.
Shiraz é conhecida por abrigar uma das mesquitas mais deslumbrantes do mundo: a Mesquita Nasir al-Mulk. Conhecida como a “Mesquita Rosa”, o local é um dos grandes destaques da arquitetura islâmica mundo afora.
Mas o que faz dela tão famosa? É que o lugar é adornado com vitrais coloridos que criam um espetáculo de luzes e cores no interior do templo, tornando-a um destino imperdível (e provavelmente o mais instagramável) para qualquer visitante de Shiraz.
Para ver a mesquita no auge da sua beleza, é preciso visitá-la pela manhã. É que é nessa parte do dia que os raios de sol incidem sobre os azulejos, criando um caleidoscópio de cores sobre o tapete persa que cobre o chão. Este efeito é impressionante durante os meses de inverno, quando a luz do sol está em um ângulo mais baixo, intensificando as cores.
Mas não é só a parte de dentro da mesquita que merece sua atenção. A fachada externa é ornamentada com azulejos coloridos que exibem padrões geométricos e florais complexos, uma característica da arquitetura Qajar.
Também conhecido como Bagh-e Eram, o Jardim de Eram faz parte do Patrimônio Mundial da UNESCO, reconhecido por sua importância histórica e estética. O nome “Eram” se refere ao paraíso no Alcorão, e em uma visita ao jardim você logo entende o porquê dessa associação celestial.
Sua origem é incerta, mas acredita-se que ele tenha sido estabelecido durante a dinastia Seljúcida (século 11-12) e redesenhado durante a dinastia Qajar (século 19). O jardim passou por várias modificações ao longo dos séculos, cada uma refletindo o estilo e as preferências da época.
Uma característica marcante é a imponente mansão Qajar, situada no centro, que combina elementos da arquitetura persa tradicional com influências europeias.
O Jardim de Eram está aberto todos os dias, das 8h às 20h30.
No coração de Shiraz encontra-se o túmulo de um dos poetas mais venerados da Pérsia, Hafez. O Mausoléu de Hafez, também conhecido como Hafezieh, é um local de grande importância cultural e espiritual, atraindo visitantes de todo o mundo que vêm prestar homenagem a este mestre da poesia.
O poeta nasceu em 1315 e viveu a maior parte de sua vida em Shiraz. Ele é conhecido por seus versos que capturam a essência do misticismo, amor e sabedoria. Sua coleção de poemas, conhecida como Divan-e-Hafez, é considerada uma das maiores obras literárias em língua persa e é amplamente lida e estudada até hoje.
Suas poesias não são apenas recitadas em cerimônias literárias, mas também são uma presença constante nas casas iranianas. Sua obra é tão importante que muitos iranianos consultam seus poemas em momentos de dúvida, usando seus versos para obter orientação espiritual, em uma prática conhecida como “fal-e-Hafez”.
Não dá para ir a uma cidade iraniana e não passar pelo bazar, não é mesmo? Em Shiraz, o Bazar Vakil foi construído durante o reinado de Karim Khan Zand, que governou o Irã no século XVIII.
Ele fez de Shiraz sua capital e empreendeu a construção de várias obras importantes, incluindo esse mercado. O bazar foi projetado para ser um centro comercial próspero, onde mercadores de todo o Irã e de além de suas fronteiras poderiam se reunir para negociar e trocar bens.
O design do Bazar Vakil reflete a grandiosidade e a sofisticação da era Zand. E ele é de fato um dos mais bonitos do país, com seus corredores amplos e altos, tetos em abóbada que permitem a entrada de luz natural e paredes adornadas com tijolos decorativos e azulejos coloridos que exibem padrões tradicionais persas.
O bazar é dividido em várias partes, cada uma dedicada a diferentes tipos de mercadorias. Isso inclui tecidos, tapetes, especiarias, joias, cerâmica e muito mais.
E se você está à caça de presentes e lembrancinhas do Irã, anota essa lista:
Além disso, esse é também um excelente local para experimentar a culinária local. Vários restaurantes e cafés estão espalhados pelo bazar, oferecendo pratos tradicionais iranianos.
Dica: Na praça em frente ao Bazar está meu restaurante favorito em todo o Irã, o Café Julep (Taleqani St, District 8, Opposite Vakil Bath).
O Vakil Bath é um tradicional banho público persa, ou hammam.
Durante a era Zand, os banhos públicos eram uma parte importante da vida cotidiana, servindo como locais de encontro e interação social. E o Vakil Bath foi um dos maiores e mais luxuosos da época, ainda hoje impressionando por sua arquitetura.
Embora não funcione mais como um hammam, o edifício foi preservado e transformado em um museu, então dá para ter uma ideia da sua beleza arquitetônica e histórica.
Outra mesquita pra lá de fotogênica em Shiraz é a Vakil, também construída durante o reinado de Karim Khan Zand. Estaremos aqui lidando com um caso de megalomania?.
Provavelmente. Aliás, o nome “Vakil”, que batiza as três últimas atrações desse texto, significa “regente”, refletindo o título de Karim Khan como o líder da Pérsia. E, sim, a mesquita faz parte de um complexo maior que inclui o Bazar Vakil e o Banho Vakil.
Na época de sua construção, esse complexo acabou criando um centro próspero de vida comercial e religiosa na cidade.
Outro grande feito do reinado de Karim Khan Zand, esta fortaleza serviu como residência real e centro administrativo. Mas como nada com ele era simples, a fortaleza foi projetada para combinar as funções de um palácio luxuoso e uma fortificação defensiva, refletindo o poder e a autoridade do principal residente.
Após a morte de Karim Khan, em 1779, a citadela passou por várias fases de uso e abandono. Durante a dinastia Qajar, serviu como prisão, e foi somente no século 20 que o local começou a ser restaurado e preservado como um patrimônio histórico.
O Lago Rosa é também conhecido como Lago Maharloo e fica nos arredores de Shiraz. Como o próprio nome já diz, suas águas tem uma cor rosa vibrante criando uma paisagem diferentona.
Essa cor é resultado das altas concentrações de sal e da presença de micro-organismos, como a alga Dunaliella salina, que produzem um pigmento vermelho chamado beta-caroteno (aquele mesmo, da cenoura) que se intensifica em condições de alta salinidade e temperaturas elevadas, especialmente durante os meses mais quentes do ano.
Por esse motivo, a melhor época para visitar é entre junho e setembro, mas nada impede de ir em outros meses.
O Lago rosa fica a cerca de 27 km a sudeste de Shiraz. A viagem de carro até o lago é linda, com vista das montanhas e da paisagem rural da região. O passeio cabe em um bate-volta.
Provavelmente o local religioso mais impressionante que eu já pisei na minha vida, a Mesquita Shahecheragh é também um dos lugares de peregrinação mais importantes do Irã.
O nome “Shahecheragh” significa “Rei da Luz” em persa, e lá dentro você vai entender o motivo! Dedicada a Seyyed Mir Ahmad, o irmão do Imam Reza, um dos profetas do Islã Xiita, o lugar tem um interior todo decorado com milhares de pequenos espelhos que refletem a luz de maneira impressionante, criando um efeito de caleidoscópio.
Esta técnica, conhecida como “ayeneh kari”, é uma especialidade da arquitetura iraniana e confere ao santuário uma atmosfera celestial.
A cúpula também é digna de nota, toda revestida com azulejos coloridos e mosaicos de vidro que brilham à luz do sol. Ela é visível de vários pontos da cidade e serve como um ponto de referência na cidade. Eu escrevi sobre ela aqui.
A Qavam House, também conhecida como Narenjestan-e Qavam, é uma casa histórica que relembra a riqueza e a elegância da aristocracia da era Qajar, no século 19.
Rodeada por jardins e decorada com mosaicos, pertencia a um político importante da família Qavam, uma das mais influentes e poderosas de Shiraz na época. A casa serviu como residência privada e centro administrativo, além de ser um local de recepção para dignitários e convidados importantes.
O lugar também serve de museu e exibe alguns artefatos e pinturas históricas.
No extremo nordeste de Shiraz, fica um dos marcos históricos mais emblemáticos do Irã: o Qur’an Gate, ou Portão do Alcorão. Este portal, está situado na saída da cidade em direção ao Monte Allahu Akbar e é um símbolo de proteção, espiritualidade e boas-vindas.
Lá pelos idos do século 10, dois volumes do Alcorão eram colocados em uma pequena sala no topo do portão, com a crença de que todos os viajantes que passassem por baixo dele seriam abençoados e protegidos pela leitura sagrada.
Este jardim histórico é um dos mais antigos e bonitos da cidade e remonta à era pré-islâmica. Mas foi durante a dinastia Zand que o jardim ganhou seu esplendor atual, transformando-o em um espaço de lazer e contemplação para a nobreza.
O nome “Jahan Nama” significa “Mostrador do Mundo”, e a ideia era que ele refletisse a beleza e a diversidade do mundo natural.
Mais um jardim persa para a lista! Não é à toa que Shiraz é conhecida como cidade dos jardins, não é mesmo?
Também de origem pré-islâmica, mas reformado durante a dinastia Qajar, o nome “Delgosha” significa “Coração Alegre” em persa, o que reflete a intenção de quem o construiu de proporcionar alegria e serenidade aos visitantes.
Leia nosso post completo sobre a imersão com a tribo Qashqai.
A experiência mais legal que eu tive no Irã foi passar um dia com o povo Qashqai, uma tribo nômade de origem túrquica que vive nas montanhas da Cordilheira de Zagros, nos arredores de Shiraz.
Essa é uma das maiores – e uma das poucas – tribos que ainda preservam o estilo de vida nômade nessa região. Eles são auto-suficiente e vivem de seus rebanhos e da venda de tapetes e produtos lácteos que são famosos pela qualidade, chegando a ser exportados para partes da Europa.
A estrutura social dos Qashqai é baseada em clãs, cada um liderado por um chefe (khan). A vida deles é regida por migrações sazonais entre as terras altas, onde passam o verão, e as terras baixas, onde passam o inverno. Esta migração, conhecida como “Kooch”, é essencial para o pastoreio de seus rebanhos de ovelhas e cabras, que são a principal fonte de sustento da tribo.
É preciso alertar que algumas agências de Shiraz oferecem a experiência com pessoas que não vivem mais, de fato, como nômades. São famílias que podem ser descendentes dos Qashqai, mas já se assentaram e somente fazem uma “encenação” do que seria o estilo de vida nômade.
Para garantir que você terá a experiência autêntica, procure pessoas que oferecem o passeio com base nas diretrizes do turismo de base comunitária. Veja aqui essa opção de passeio.
Além disso, tenha em mente de que, devido aos fluxos migratórios, só é possível fazer a vivência com os nômades no outono ou na primavera, abril a junho e de setembro a novembro, quando eles estão descendo ou subindo a montanha.
Se você quer uma experiência ainda mais rica, investigue se há algum festival ou evento cultural acontecendo durante o período da sua visita. Isso pode oferecer uma visão mais profunda da cultura Qashqai.
O centro histórico é a melhor escolha de região para se hospedar em Shiraz. Ficando por ali, você estará perto das principais atrações da cidade.
Essa é também uma região bem animada, cheia de lojas, cafés e restaurantes.
Para aqueles que procuram conforto e luxo, o Zandiyeh Hotel oferece proximidade às principais atrações e serviços de alta qualidade.
Para uma experiência mais autêntica e histórica, o Niayesh Boutique Hotel foi o local em que eu me hospedei e acredito que seja uma excelente escolha. Ele funciona dentro de uma enorme (e labiríntica), casa tradicional no centro histórico e conta com dois restaurantes que servem comida iraniana.
Encontre mais hotéis em Shiraz
Você provavelmente já ouviu falar delas, mas Persépolis e Pasárgada ficam pertinho de Shiraz e podem ser visitadas em um passeio bate-volta combinado!
Estas duas cidades antigas, repletas de história, nos ajudam a entender melhor o passado do Império Persa.
Para aproveitar ao máximo sua experiência, recomendo partir de Shiraz cedo pela manhã. Dedique cerca de 2-3 horas para explorar Persépolis e mais 2 horas para Pasárgada.
Não esqueça de levar água, lanches e protetor solar, pois a região pode ser bastante quente, especialmente durante o verão.
É possível chegar em Persépolis por conta própria, pegando um táxi em Shiraz. Porém, como se trata de um sítio arqueológico, recomendo a contratação de um tour guiado para que você possa compreender ainda mais toda a importância histórica do lugar. Esse aqui custa apenas 30 euros por pessoa e inclui também as paradas na Necrópolis e em Pasárgada.
Distância de Shiraz: Aproximadamente 60 km (1 hora de carro)
Persépolis, a capital cerimonial do Império Aquemênida, é um sítio arqueológico muito bem preservado que impressiona todo mundo.
Fundada por Dario I em 518 a.C., esta cidade foi projetada para ser o epicentro das celebrações e rituais imperiais. Dario era pai de Xerxes, ele mesmo, o rei interpretado por Rodrigo Santoro no filme 300!
Distância de Persépolis: Aproximadamente 80 km (1 hora e meia de carro)
Pasárgada foi a primeira capital do Império Aquemênida e foi fundada por Ciro, o Grande, no século 6 a.C. Não está tão bem preservada quanto Persépolis, mas por estar próxima, vale a visita.
Veja agora uma sugestão de roteiros de 3 a 5 dias em Shiraz para você usar na sua viagem!
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Se você tem mais tempo para explorar Shiraz e seus arredores, considere estas atividades adicionais:
Para aproveitar ao máximo que Shiraz tem a oferecer, a melhor época para visitá-la é durante a primavera, de março a junho. Durante esses meses, o clima é ameno e agradável, com temperaturas médias variando entre 15°C e 25°C.
Além disso, a primavera coincide com o Nowruz, o Ano Novo Persa, que é celebrado com festividades e eventos culturais em toda a cidade. Além da primavera, o outono também é uma ótima escolha, pois as temperaturas voltam a ser agradáveis.
Assim como em todo o Irã, o verão em Shiraz é escaldante, com temperaturas frequentemente ultrapassando os 35°C, sendo agosto o mês mais quente. Não chega a ser impeditivo, mas certamente será uma viagem menos confortável.
O inverno em Shiraz é bem frio, especialmente durante a noite, quando as temperaturas podem cair para perto de zero. Durante o dia, as temperaturas variam entre 5°C e 15°C.
Programe-se para ficar entre 3 e 5 dias em Shiraz. Esse tempo é suficiente para aproveitar as principais atrações.
Em três dias, você pode visitar todas as atrações do centro histórico, incluindo mesquitas, jardins e o mercado.
Se tiver mais tempo, considere uma estadia de cinco dias para incluir excursões aos sítios arqueológicos de Persépolis e Naqsh-e Rostam, além de uma visita à antiga capital de Ciro, o Grande, em Pasárgada.
Outras experiências culturais, como uma imersão com a tribo nômade Qashqai ou visitas a vilarejos tradicionais nos arredores de Shiraz, enriquecerão ainda mais sua viagem.
O visto do Irã é obrigatório para quase todas as nacionalidades (brasileiros e portugueses inclusos). Ele custa cerca de €85 e vale para 30 dias.
Para obter o documento, basta preencher um formulário no site oficial do governo com no mínimo 2 dias de antecedência da sua viagem (mas pessoalmente, recomendo fazer com um prazo maior).
Para evitar dor de cabeça, recomendo o serviço que usei, da 1stQuest, que cuida de toda a parte burocrática. Você só precisará ir retirar o visto no lugar escolhido. Para mais informações, leia o post abaixo.
O seguro de viagem também é obrigatório na chegada ao país e costuma ser exigido na hora da imigração.
O problema é que, por causa dos embargos, não são todas as empresas que operam por lá. Por isso, também contratei meu seguro pela 1stQuest. Em 2022, paguei €60 pela cobertura para 30 dias.
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