Não foram as obras do Gaudí, por mais que eu seja o primeiro a reconhecer que o trabalho deixado pelo arquiteto é espetacular. Também não foram as praias de Barcelona, o clima medieval de Girona e nem as vinícolas da região. O ponto mais alto da minha última viagem pela Catalunha, em outubro, foi a visita ao Teatro-Museu Dalí, em Figueres, cidade de 44 mil habitantes que fica a 140 quilômetros de Barcelona.
Figueres tem seu charme. Prédios e casarões históricos dividem espaço com restaurantes e ruas simpáticas. Mas o verdadeiro orgulho da cidade é outro: os filhos ilustres que nascerem e viveram ali. O primeiro deles você provavelmente não conhece, mas sua invenção é importantíssima. Estou falando de Narcís Monturiol i Estarriol, o inventor do primeiro submarino.
Feito para ser imortalizado como cidadão número 1 de Figueres, certo? Quase. O problema é que essa pacata cidade também testemunhou o nascimento de outro gênio, de grandeza ainda maior: Salvador Dalí.
“Foi nessa rua que nasceu Dalí”, nos explicou a guia, para logo depois mostrar a casa onde o pintor passou sua juventude, também na Rua Monturiol, e nos levar ao hotel e restaurante onde ele costumava frequentar, o Hotel Duran, que até hoje conserva do mesmo jeito a mesa que o pintor costumava usar.
Outro ponto tradicional na peregrinação que envolve o pintor é a Igreja de Sant Pere, onde Dalí foi batizado, fez sua primeira comunhão e onde houve seu funeral, em 1989. Mas o lugar mais importante é logo ao lado do templo: o Teatro-Museu Dalí, que foi planejado pelo próprio artista e inaugurado nos anos 1970.
Dalí viveu no museu durante seus últimos anos e está enterrado lá. A tumba dele pode ser visitada e o local está marcado no chão, logo que você entra no museu. Mas por que esse museu é tão interessante? Por vários motivos. Vamos começar pelo motivo que mais importava para o próprio Dalí.
“Eu quero que meu museu seja um bloco único, um labirinto, um objeto surrealista. Será um museu totalmente teatral. As pessoas que forem lá irão embora com a sensação de terem tido um sonho teatral”. Foi assim que o próprio Dalí explicou como seria seu museu, um projeto gigantesco que tomou anos de trabalho do artista e foi inaugurado em 1974.
Foi erguido nas ruínas do antigo Teatro da cidade, prédio que foi destruído durante a Guerra Civil Espanhola. Depois de passar anos em ruínas, a prefeitura e o artista fizeram um acordo para transformar o endereço no Museu Dalí. Um endereço que era importante para o pintor, afinal foi ali que ele fez sua primeira exposição.
Hoje, o Teatro-Museu Dalí tem a maior coleção de trabalhos do artista no mundo. São pinturas, esculturas, desenhos, fotografias e diversas instalações de um dos maiores gênios da humanidade. Ao todo, cerca de 1500 trabalhos de Dalí são expostos ao público, incluindo o próprio prédio, que foi cuidadosamente pensado por ele – o museu garante ser a maior obra de arte surrealista do planeta.
Símbolos que foram importantes na carreira de Dalí, como o pão ou o ovo, fazem parte da decoração, inclusive externa, do prédio.
Assim que você entra no Museu, um carro chama atenção. Coloque uma moeda e veja a arte de Dalí começar a ocorrer – e a chuva também.
O antigo palco do Teatro Municipal virou o saguão de entrada do Museu. Uma cúpula que lembra os olhos de uma mosca – Dalí gostava delas e dizia que os olhos desses insetos permitiam que eles enxergassem nas mais variadas direções – cobre o saguão. É exatamente ali, abaixo da cúpula e onde antes ficava o palco do antigo Teatro Municipal, que está enterrado Salvador Dalí.
Por falar em moscas, o próprio Dalí era um personagem surreal. “Ele passava mel e outros produtos no bigode para atrair moscas”, explicou a guia. O bigode de Dalí era uma homenagem a outro pintor espanhol, Diego Velázquez, que viveu no século 17. Por falar nisso, Dalí era fã de Picasso e fez questão de conhecer o artista quando visitou Paris pela primeira vez. Depois, homenageou Picasso em vários de seus trabalhos.
Continuando a visita, você encontrará quadros importantes, muitos deles com mais símbolos dalinianos. E ainda falta falar do quarto Mae West, que tem um sofá inspirado nos lábios da atriz norte-americana. Todo o quarto é uma reprodução da obra Il volto di Mae West, também de Dalí.
Salvador Dalí morreu em 1989, já doente e fragilizado. Além da idade avançada, a morte da esposa e musa inspiradora, Gala Dalí, jogou o artista na depressão – há quem diga que ele tentou se suicidar algumas vezes, a última delas ao atear fogo no próprio quarto, incêndio que por pouco não o matou. Dalí morreu aos 84 anos, vítima de uma parada cardíaca.
É possível visitar Figueres num bate-volta a partir de Barcelona, mas eu acho que essa não é a melhor opção. Se você tiver tempo, o ideal é passar uma ou duas noites em Girona, uma cidade histórica que fica a 40 km de Figueres e pode ser usada como base melhor para conhecer a cidade e o museu Dalí.
Não tem tempo? Bom, ir de trem para Figueres a partir de Barcelona é fácil e o trajeto dura entre 1h e 1h45, dependendo do tipo do trem.
Por falar em entradas, eu recomendo que você compre as suas pela internet. É que as filas são grandes. Comprando online você evita perder tempo. O ingresso custa 12 euros. Detalhes, reservas e horário de funcionamento, que varia ao longo do ano, no site oficial.
Vai viajar? O Seguro de Viagem é obrigatório em dezenas de países da Europa e pode ser exigido na hora da imigração. Além disso, é importante em qualquer viagem. Veja como conseguir o seguro com o melhor custo/benefício e garanta promoções.
*O 360meridianos viajou a convite da TAM, por ocasião do voo inaugural da empresa para Barcelona.
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Ver Comentários
Vale muito à pena conhece,, há uma variedade imensa de obras, um verdadeiro paraíso pra fãs de Dalí. Eu fiz um bate volta de trem de Barcelona e foi tranquilo. É muito gostoso também passear pelas ruas, sem pressa. Girona também é sensacional, acho que ambas merecem um dia inteiro de visitação.
Girona é incrível e vai ganhar um texto aqui também.
Abraço, Rafaella.
Legal saber que sem querer acabei contribuindo com uma ideia. Tomara que role! ;-)
Nossa, muito legal esse lugar. Gosto muito do Dalí, deve ser uma visita interessante demais.
Foi incrível, Julia. O ponto mais alto dessa minha ida para a Espanha.
Abraço.
Sensacional o post e as fotos! Adorei as infos que você colocou e aprendi várias coisas que não sabia sobre Dalí. Vc chegou a visitar a casa dele em Port Lligat? Vale muito e pena, tanto pelo visual da Costa Brava quanto pelas maluquices da casa do gênio.
Beijos
Não cheguei, Mari. Vai ter que ser na próxima. Obrigado pela dica e pelos elogios ao texto. :)
Oi Rafa! Esse museu Teatro-Museu Dalí, parece ser magnifico,estupendo e inacreditável!
Nunca imaginei conhecer lugar nenhum na Espanha, mas agora fiquei curiosa!
Eu acho que localizei você na primeira foto,me lembrei de "Onde Está Wally?".
Energias positivas pra você!
haha! Mas eu tirei a foto. Então você só pode ter me encontrado num reflexo ou algo do tipo. :)
Abraço, Nat.