Teotihuacán, no México: visita e história das ruínas

Ninguém sabe quem construiu a terceira maior pirâmide do mundo, mas todos os dias milhares de turistas descobrem como é difícil alcançar o topo dela. A Pirâmide do Sol tem 75 metros, o equivalente a um prédio de 20 andares. E está ali, como o monumento mais importante de Teotihuacán, há pelo menos 1800 anos.

Durante esse período, fez queixos caírem sistematicamente. Os turistas de todos os dias se impressionam e tentam reunir forças para subir os cerca de 250 degraus que levam ao céu; enquanto os primeiros europeus a chegarem ali tiveram reação parecida. E até os astecas, que redescobriram as ruínas séculos depois de seu abandono, ficaram impressionados, transformando a cidade perdida num local sagrado: Teotihuacán significa algo como “o lugar em que os Deuses foram criados”.

E não, Teotihuacán não foi construída pelos astecas, embora muito do que se saiba sobre a cidade, inclusive nomes e algumas lendas, se baseie nas impressões que esse povo, os primeiros arqueólogos a passarem por ali, desenvolveu ao longo dos anos. O Império Asteca teve seu apogeu quase mil anos depois de Teotihuacán.

A confusão entre os muitos povos pré-colombianos ainda tem outro ingrediente, já que a capital dos astecas tinha nome parecido: Tenochtitlan, hoje conhecida como Cidade do México, muito prazer. Apenas 55 km separam Teotihuacán da antiga capital dos astecas e atual capital do México.

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A Pirâmide do Sol, maior estrutura das ruínas de Teotihuacán, só é menor que a famosíssima de Gizé, no Egito, e a desconhecida Grande Pirâmide de Cholula, também no México – e que é tão grande que por séculos foi confundida com um morro. Na antiguidade, a Pirâmide do Sol era vermelha, o que, vamos concordar, deveria formar um cenário impressionante.

Foto: Wikimedia Commons

Mas as ruínas tem mais, muito mais. O segundo ponto mais alto do complexo é a Pirâmide da Lua, com 43 metros, onde começa a  Calçada dos Mortos, uma via de quatro quilômetros que passa pela Pirâmide do Sol e termina na Cidadela. Cercando o Templo da Lua estão 12 pirâmides menores. E por ali ainda estão a Casa dos Sacerdotes, o Palácio de Quetzalpapalotl,  o Palácio dos Jaguares, mais pirâmides e outras construções, todas com quase dois mil anos de idade.

Quer ficar ainda mais impressionado? Essa parte cerimonial de Teotihuacán, que é basicamente tudo que você vê durante a visita e onde ocorriam celebrações e sacrifícios humanos e de animais, representa apenas 10% do total da cidade em seu momento mais grandioso. O restante da área era ocupado por quarteirões residenciais.

Teotihuacán começou a ser construída 100 anos antes de Cristo e teve seu auge cinco séculos depois. Foi abandonada por volta do ano 700 d.C, por motivos até hoje não totalmente explicados – incêndios, mudanças climáticas e problemas políticos são algumas das possibilidades levantadas por estudiosos.

Que também não batem o martelo na hora de estimar a população da cidade. Alguns dizem que pelo menos 120 mil pessoas chegaram a viver ali em algum momento do século 5; enquanto outros historiadores afirmam que Teotihuacán teve pelo menos 200 mil habitantes em seu auge, o que faz dela a maior cidade do Hemisfério Ocidental em seu tempo – só no século 15 ela foi superada.

Entender que povo construiu aquilo, como era seu sistema de governo e por que Teotihuacán caiu é o objetivo dos pesquisadores. Hoje, muitos acreditam que vários grupos – como os náuatles, os otomis e os totonacas – tiveram sua participação em Teotihuacán, que era um estado multiétnico.

A teoria mais aceita diz que uma dinastia governava o local, mas até hoje não foram encontradas tumbas que justifiquem essa suposição ou que ajudem a dar pistas nesse sentido. Outros pesquisadores levantam a possibilidade da cidade ter sido governada por uma junta administrativa, algo mais ou menos democrático. Não seria a primeira vez que arqueólogos encontrariam vestígios de sociedades assim nas América – uma delas tinha até uma espécie de Senado!

Em 2003, chuvas torrenciais revelaram a entrada de túneis secretos embaixo da Pirâmide da Lua. Pesquisadores do Instituto Nacional de Antropologia e História do México entraram nos túneis em 2009 – foram as primeiras pessoas no local num período de pelo menos 1500 anos. Segundo o The Guardian, de lá foram escavados mais de 100 mil objetos, mas a descoberta mais impressionante foi outra: mercúrio.

O líquido parecia indicar o caminho para uma tumba, como um rio simbólico do outro mundo. Que, apesar dos esforços, nunca foi encontrada. E isso porque ela pode ter sido retirada de lá: “Nós temos evidências de que algo muito grande e pesado foi arrastado para fora do túnel em algum momento. Pode ter sido uma tumba, mas nós não temos certeza”, explica o arqueólogo Sergio Gómez, que diz ainda que o túnel foi selado por volta do ano 250 d.C, mas que há sinais de uma reabertura em 530 d.C. Quase dois milênios depois de seu surgimento, Teotihuacán ainda tem muita história para contar.

Visita a Teotihuacán: informações úteis

O sítio arqueológico de Teotihuacán está a pouco mais de uma hora de estrada da Cidade do México. Diversas agências de turismo oferecem tours para lá, que em geral têm uma parada também na Basílica de Guadalupe, que fica quase na saída da cidade. É possível contratar um passeio assim em praticamente qualquer hotel e também em quiosques turísticos que ficam em frente ao Palácio de Bellas Artes. Espere gastar em torno de 600 pesos por pessoa.

Fica bem mais econômico se você for por conta própria.  Para isso, vá ao Terminal Central de Autobuses del Norte (ou simplesmente Terminal Norte). De lá partem os ônibus para as Pirâmides, trecho feito pela Autobuses Teotihuacán. A passagem custa 100 pesos ida e volta. A forma mais prática de chegar lá, porém, é de uber/cabify. Nós fomos assim, partindo do Zócalo, e pagamos 365 pesos pela corrida. Dividindo por três pessoas valeu a pena. Também é possível chamar um uber para voltar de lá.

O sítio arqueológico funciona todos os dias do ano, de 9h às 17h. A entrada custa 70 pesos e só pode ser paga em dinheiro. Mais informações no site oficial.

Por ser enorme, o sítio tem vários portões de entrada. O melhor é o número três. Chegue cedo, principalmente aos domingos, quando o local fica lotado e as filas são grandes. O sol ali castiga, então é bom evitar as horas mais quentes do dia. Leve muito protetor solar, água (não vende do lado de dentro, só na portaria) e um boné, chapéu, sombrinha ou o item de sua escolha para se proteger do sol. E não se esqueça de ir com calçados confortáveis.

É provável que seu corpo acuse o cansaço no dia seguinte – eu, sedentário assumido, tive dores nas pernas por três dias. Vai valer a pena.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • estou indo para punta cana vou fazer conexão longa no Mexico, das 6 da manha as 23:45, gostaria de saber se você sabe como ir de condução publica, metro e ônibus para teotihuacan, ou onde posso encontrar as indicações certinhas.
    obrigado

  • Eu fui em um tour contratado no hotel, mas abandonei no local, pois queria subir, e subi,em meu ritmo ao topo , mas o tempo dado não seria suficiente. Depois retornei de ônibus local e metro até o meu hotel.
    Foi a melhor coisa que fiz.Portanto recomendo que vá por conta própria e fique por lá o tempo que quiser. Vale muito a pena

    • Verdade, Marcia. Acho que vale muito a pena ir por conta própria.

      Abraço e obrigado pelo comentário.

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Rafael Sette Câmara

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