Turismo sustentável: guia para o viajante consciente

Como viajantes, a nossa tendência é querer que os lugares que visitamos e que ainda vamos visitar permaneçam o mais preservados e lindos que for possível. No entanto, isso pode ser um pouco contraditório se pensarmos que a nossa presença já causa um baita impacto ambiental e na vida cultural e econômica desses lugares.

Ninguém nega que o turismo é uma indústria importantíssima. Muitas vezes, é ele sozinho que sustenta cidades e até mesmo países inteiros. Contudo, a exploração do turismo de massa, quando é feita sem planejamento e sem levar em conta os impactos de longo prazo que o constante fluxo de visitantes pode causar, é capaz de simplesmente destruir um destino dos sonhos.

É o caso, por exemplo, da ocupação do forte de Jaisalmer, uma bela cidade do estado indiano do Rajastão. O problema é que a construção ainda é habitada como era na Idade Média, ao contrário do que acontece com as outras fortalezas da região, que hoje são apenas atrações turísticas. Viajantes em busca de uma experiência diferente acabam escolhendo hotéis que funcionam dentro do forte.

Só que com esse tanto de gente ficando lá, o consumo de água aumenta acima da capacidade que o antigo encanamento consegue suportar. Resultado: rachaduras enormes na estrutura da fortaleza e o risco de um dia ela se perder para sempre. Outras atrações que entram nessa lista são as ruínas de Angkor Wat, no Camboja, e de Machu Picchu, no Peru, ambas desgastadas pelo imenso fluxo de turistas.

Para evitar que isso aconteça, é preciso que existam políticas públicas voltadas para a exploração turística apropriada daquela localidade. Mas, ainda bem, nem tudo está nas mãos dos governos. Existem algumas práticas que a gente pode adotar para minimizar os problemas que causamos nas nossas andanças pelo mundo.

Escolhendo seu meio de transporte

Dependendo de como você escolhe se locomover durante suas férias, a taxa de emissão de carbono decorrente da sua viagem pode ser maior do que você emitiu no resto do ano inteiro. Para escolher o meio de transporte menos impactante, é preciso levar em consideração o número de pessoas no seu grupo e a distância percorrida na viagem. Por exemplo, se você viaja sozinho, alugar um carro é uma má ideia do ponto de vista ecológico. Por outro lado, se você viaja em grupo, essa pode não ser uma opção tão ruim assim.

Em geral, voar de primeira classe é a forma mais poluente de viajar, já que aviões emitem uma quantidade absurda de gás carbônico e você vai dividir essa cota com poucas pessoas. Embora aviões sejam as opções mais viáveis em algumas situações, voar de primeira classe nunca vai ser mais ecologicamente correto que voar de econômica.  A forma mais verde, por outro lado, é viajar  de ônibus. Em 100% das situações em que utilizar esse meio de transporte for possível, essa é a melhor escolha. O infográfico abaixo dá uma ideia de qual o melhor meio para cada situação:

Como reduzir ainda mais a emissão de carbono durante o deslocamento

1. No infográfico acima, nós não consideramos os meios de transporte não poluentes. Se você tem a disposição para fazer sua viagem a pé ou de bicicleta, vai ganhar estrelinha de viajante verde.

2. Se você for dirigir, escolha um carro com consumo econômico.

3. Evite viajar em horários de pico. Ficar parado no trânsito aumenta a emissão de gás carbônico, além de minar sua paciência e alegria de viver.

4. A quantidade de bagagem, a forma como você dirige e a manutenção do seu carro podem influir na emissão de carbono e no seu conforto durante a viagem.

5. Escolha vôos diretos. Os processos de decolagem e aterissagem consomem bastante combustível e, consequentemente, produzem gás carbônico. Se isso não for possível, prefira a rota mais curta possível. Nada de ir para a África do Sul fazendo conexão em Nova York, por exemplo.

6. Viaje devagar. Chamada de “slow travel” entre os gringos, a tendência de permanecer períodos maiores nos destinos não é vantajosa apenas para o viajante. Além de proporcionar uma experiência mais próxima ao dia a dia local e permitir conhecer melhor as pessoas e a cultura, essa forma de viajar também é mais sustentável. Se você tem, por exemplo 15 dias de férias e resolve passar uma semana em um local e uma semana em outro, você vai emitir menos gás carbônico com deslocamentos que visitando cinco cidades diferentes no mesmo período.

Dê preferência ao comércio local

Da comida ao hotel, compras, guias e agências de viagem. Dê preferência aos negócios que pertencem a moradores locais, em vez das grandes redes internacionais. O motivo é simples: empresas pequenas costumam ter uma menor emissão de CO2 para garantir seu funcionamento. Além disso, as chances que a maior parte do dinheiro que você gastou ali fique na economia local e ajude a enriquecer a região são bem maiores.

A cadeia de produção é bem complexa, é claro. Mas um restaurante local, por exemplo, provavelmente vai comprar boa parte dos seus ingredientes de produtores regionais. Faça compras em mercados locais em vez de correr para o Carrefour mais próximo. Aqui a regra é simples: quanto menor o negócio, melhor.

Apoie negócios sustentáveis e orgânicos

Nem sempre é possível, mas prefira estabelecimentos que possuem práticas sustentáveis em suas atividades. Escolha restaurantes que utilizam ingredientes orgânicos e hotéis que possuem uso racional de energia elétrica, por exemplo.

Da mesma forma, evite atrações que se baseiam em maus tratos animais. Antes de se decidir por passeios que envolvem bichos, informe-se se aquela empresa tem compromisso com o bem-estar animal, com a preservação das espécies e do meio ambiente.

Leia também: Nem todo turismo vale a pena

A verdade sobre os passeios de elefante na Tailândia

Consuma de forma consciente

Tenha uma garrafa de água reutilizável, leve uma ecobag ao mercado, economize energia e água. Evite consumo e produção desnecessária de lixo. Lembre-se da regrinha: Reduzir, reutilizar e reciclar.

Não compre produtos feitos com animais ou artefatos históricos ou culturais

Optar por levar para casa uma peça do artesanato local é uma boa ideia, a menos que esse produto tenha sido produzido com animais ou sejam partes de artefatos históricos ou culturais. Evite souvenirs de pele, marfim, chifres, dentes, cascos de tartaruga e outros animais marinhos. Ainda que aquela peça específica tenha sido produzida com as partes de um animal já morto, o crescimento desse comércio pode incentivar a caça daquele bicho.

Da mesma forma, não compre pedaços do Muro de Berlim ou de outras construções históricas. Produtos feitos com madeira ilegal também devem ser riscados da lista. Ah, e conchinhas que você pega na praia, areia e plantas também não são recordações de viagem. “Tire apenas fotos, deixe apenas pegadas”, você já sabe.

Pesquise sobre o seu destino antes de viajar

Diferentes regiões do mundo possuem diferentes problemas sócio-ambientais. Descubra se o turismo de massa vem causando prejuízos para aquela área, quais os problemas mais graves enfrentados pela população e se eles sofrem com escassez de recursos. Mais importante que isso, descubra se existem iniciativas para minimizar esses impactos e o que você precisa fazer para tornar sua presença ali o menos prejudicial possível.

A sua pesquisa também deve incluir a história do lugar, os aspectos culturais mais importantes, religião, gastronomia, meios de transporte e vestimenta apropriada. Respeite esses aspectos e os tabus locais. Seja humilde. Aprenda algumas frases no idioma local. Leve fotografias ou pequenas lembranças de casa para mostrar ao povo local durante uma conversa. Não se prenda somente aos locais lotados de turistas. Veja apenas aqueles itens do top 10 que realmente te interessam e procure atrações, lojas e restaurantes que não fazem parte da rota tradicional. Descubra o que as pessoas que moram ali fazem e vá atrás.

Dê algo em troca

Se possível, tente ajudar por um tempo em alguma organização local que lute por uma causa com que você se identifique. Procure ONGs comprometidas com a sociedade, que sejam lideradas por moradores da comunidade e empreguem mão de obra local. Dê preferência a causas concretas que ajudem em um problema urgente ou traga melhorias de longo prazo. Passar longos períodos nos lugares é uma das formas mais sustentáveis de viagem, se você unir isso a um trabalho comunitário fica melhor ainda.

Leia também: Dicas para fazer trabalho voluntário no exterior

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones e no Youtube. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

Ver Comentários

  • Adorei o post! As vezes dá aquela vontade de levar uma conchinha...o jeito é se segurar!
    Essa coisa de "ser humilde" é super importante, já vi cada turista querendo pechinchar o trabalho de artesão...até briguei com um, quis se passar de importante e que o trabalho do cara era lixo e etc.Falei "so why you wanna buy it?"..daí o turista baixou a cabeça e foi embora me xingando aheuahe o artesão ficou super feliz e me deu um abraço <3 não tem coisa melhor!!

  • Adorei!! Amo o meio ambiente e me preocupo muito com isso! Faltou você colocar que é legal para cada viagem que a pessoa realizar de avião plantar uma árvore para amenizar o impacto (no caso ida e volta são duas árvores)! Se cada um fizer a sua parte o mundo melhora =)

    =***

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Natália Becattini

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