Vale da Lua, cartão-postal da Chapada dos Veadeiros

O Rio São Miguel precisou de 600 milhões de anos para criar a Lua. Na mitológica Chapada dos Veadeiros, em Goiás, foi a força das águas que esculpiu crateras à moda lunar, numa área de 305 hectares. O turismo chegou, as fotos de Facebook se reproduziram com rapidez astronômica e algumas produções televisivas – como a minissérie global Felizes Para Sempre – ajudaram a aumentar a fama do lugar. Que, óbvio, ganhou um nome compatível com a paisagem: Vale da Lua.

Por décadas uma fazenda, o Vale da Lua continua em mãos particulares (o que é uma pena), mas nos últimos tempos o turismo virou a principal atividade ali. Culpa de cenários como os mostrados neste texto – crateras enormes, um rio de águas claras e três piscinas naturais que convidam para um mergulho. Junto com o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, o Vale da Lua é o principal cartão-postal dessa região – todo turista que passa pela chapada faz questão de colocar solo lunar no roteiro da viagem.

Expectativa alta e que pode gerar consequências contrárias. Eu, que colocava o Vale da Lua como principal objetivo na Chapada dos Veadeiros, gostei, mas não me surpreendi. Por outro lado, pouco tinha lido sobre a Cachoeira de Santa Bárbara, em Cavalcante, e da Catarata do Rio dos Couros, que acabaram sendo meus dois atrativos favoritos da viagem. Tudo bem, Vale da Lua. Você conseguiu um honroso terceiro lugar. E, vamos concordar, numa região com tantas, mas tantas cachoeiras,  esse é um resultado muito bom.

Veja também: Chapada dos Veadeiros, em Goiás: como ir, o que fazer e outras dicas

Catarata dos Couros: beleza na Chapada dos Veadeiros

Onde ficar na Chapada dos Veadeiros, em Goiás

Como é a visita ao Vale da Lua

Partimos de Alto Paraíso de Goiás, espécie de capital da Chapada dos Veadeiros. São 30 quilômetros a partir do centro da cidade, via GO-239. Uma placa indicativa à esquerda de quem vem de Alto Paraíso mostra a entrada da fazenda – cuidado para não passar direto. A partir daí, basta percorrer cinco quilômetros de estrada de terra. Já a distância entre o Vale da Lua e São Jorge é de apenas nove quilômetros. Como em outros atrativos da Chapada dos Veadeiros, estar de carro é um grande facilitador. Recomendo a leitura do texto em que explicamos como alugar um veículo com o melhor custo/benefício.

Deixe o veículo no estacionamento e vá para a portaria. A entrada custa R$ 20 por pessoa e só pode ser paga em dinheiro, como é comum nos atrativos da Chapada dos Veadeiros. Você assina um termo de responsabilidade, deixa um contato de emergência e está pronto para seguir em frente. Há banheiros, uma lanchonete e uma sorveteria no começo da trilha. O Vale da Lua funciona todos os dias, entre 8h e 17h. Tente chegar cedo para nadar com as piscinas mais vazias. O estacionamento é de graça.

São 1200 metros de caminhada, contando a ida e a volta. Apesar de ser uma trilha curta, o percurso nem sempre é fácil, justamente por conta do solo que faz a fama do lugar. E cuidado com as crateras! Não se aproxime muito e vá de tênis. Uma das orientações de segurança dadas no começo da trilha é justamente essa: já houve acidentes graves no Vale da Lua, principalmente de pessoas que caíram nas crateras, por isso o uso de chinelos e sandálias é fortemente desaconselhado. Também tome cuidado para não se distrair durante as fotos. Já ocorreu pelo menos um acidente fatal assim. Em 2014, um turista tropeçou, caiu no rio e infelizmente se afogou.

Apesar das precauções de segurança, não é necessário fazer a trilha acompanhado de um guia. Basta ficar atento e seguir as normas de segurança e tudo ocorrerá bem. A orientação muda na época das chuvas, que vai de novembro a abril. Nesse período ocorrem trombas d’água, que podem encher as crateras rapidamente. Por isso, as duas primeiras piscinas naturais são fechadas nessa época – ou quando há previsão de chuva. Se viajar nesse período, talvez seja interessante contratar o serviço de um guia, que lhe dirá onde é seguro nadar. Quando eu fui, vi que a própria fazenda mantém salva-vidas de prontidão nas piscinas.

Depois de percorrer a trilha e tirar algumas fotos, descemos para a piscina natural. A água é fria, mas, por conta do calor, estava bem refrescante. Ficamos cerca de duas horas lá, contando o tempo gasto na trilha. Aproveitamos a proximidade com São Jorge, distrito de Alto Paraíso que fica na porta do Parque Nacional, para almoçar por lá.

Como o passeio pelo Vale da Lua leva apenas metade do dia, muita gente coloca no roteiro outras cachoeiras próximas, como as de São Bento, Almacegas I ou Almacegas II. Nós preferimos conhecer a Morada do Sol, que fica a quatro quilômetros de São Jorge (um deles em estrada de terra). A entrada custa R$ 20 e a trilha, de um quilômetro, é leve.

O Rio São Miguel, o mesmo do Vale da Lua, marca presença na Morada do Sol. Há semelhanças entre as paisagens, mas não espere nada muito lunar por ali. Por outro lado, a Morada do Sol fica mais vazia. Não tínhamos tempo, por isso não fizemos duas trilhas na mesma propriedade e que dão acesso a outros atrativos: o Vale das Andorinhas e a Barra das Douradas.

Piscininha na Morada do Sol

E tem quem combine o Vale da Lua com uma pausa para relaxar nas águas termais do Éden e Morro Vermelho, piscinas naturais que ficam a cerca de 15 quilômetros de São Jorge. Fizemos isso depois da Morada do Sol, já no final da tarde. O único porém é que a estrada até lá é de terra e a volta para casa – que costuma ser feita à noite – é das mais complicadas, já que fica difícil enxergar com o conjunto poeira, escuridão e faróis de outros carros.

Já esteve na Chapada dos Veadeiros? Quais foram seus passeios favoritos? 

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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