Eu senti o Vale do Colca antes de vê-lo. Desci do ônibus, fechei o agasalho e, com o vento frio empurrando na direção contrária, caminhei até o Mirante de Patapampa.
Precisei de três passos para perceber que minha respiração tinha se tornado mais complicada e que o ar parecia fugir dos meus pulmões. Esses – e uma ligeira dor de cabeça – foram os sintomas do mal de altitude, que aflige inúmeros turistas que se aventuram pelos Andes.
Tínhamos saído cedo de Arequipa, a segunda maior cidade do Peru, e o nosso destino final era o Vale do Colca, num percurso de cerca de 160 quilômetros.
Distância pequena, mas desafiadora. Cercada por três vulcões, Arequipa já está no teto do mundo: a altitude média por lá é de 2300 metros. Mas pegar a estrada em direção ao Vale do Colca significa subir ainda mais.
Veja também: O que fazer em Arequipa
A vida nas pedreiras e a Rota do Sillar, no Peru
Onde ficar em Arequipa – melhores hotéis e bairros
Onde ficar em Puno – melhores hotéis e bairros
Vai viajar? O Seguro de Viagem é obrigatório em dezenas de países e indispensável em qualquer viagem. Não fique desprotegido no Peru. Veja como conseguir o seguro com o melhor custo/benefício com nosso código de desconto.
Na primeira parada, no povoado de Yura, cerca de uma hora depois que saímos de Arequipa, tomei um chá de coca, para tentar controlar o mal de altitude. Acho que foi a bebida que me ajudou a caminhar quando chegamos ao Mirante de Patapampa, já por volta da metade do dia. A altitude por ali é de 4900 metros.
Ponto mais alto do roteiro, o Mirante de Patapampa se tornou uma parada obrigatória para quem faz o trajeto entre Arequipa e o Vale do Colca, que é visitado por 150 mil pessoas anualmente. Há muitos turistas peruanos, mas estrangeiros também podem ser vistos aos montes.
Para chegar ao Vale é preciso atravessar a Reserva Nacional de Salinas e Aguada Branca, uma área de proteção ambiental que parece ter nascido pronta para uma road trip. Picos nevados, planícies lindíssimas e as simpáticas vicunhas – o menor dos camelídeos andinos – formam o cenário.
Depois da pausa para fotos e contemplação, não necessariamente nessa ordem, deixamos o Mirante de Patapampa e começamos a descer em direção ao vale. Peruanas vendendo artesanato, lhamas e pequenas vilas tomam conta da região, que é habitada há pelo menos um milênio.
Os incas incorporam o Vale do Colca ao seu Império. E os espanhóis, que chegaram por ali no século 16, construíram suas cidades e igrejas, criando um estilo diferente. É o barroco mestizo, ou andino, que mistura elementos europeus e americanos nas construções, sobretudo as religiosas.
As 10 igrejas do vale, espalhadas por pequenos povoados, já garantiriam motivos suficientes para ir até lá. Coporaque, Yanque, Maca, Madrigal, Ichupampa, Achoma, Lari, Pinchollo e Chivay são os nomes das principais vilas do Colca, sendo que a última, que não tem 5 mil habitantes, é considerada a capital da região.
A maioria dos turistas fica por lá ou então em Yanque ou Coporaque, que foi onde eu fiquei, no Aranwa Pueblito Encantado del Colca.
Veja também: Outras opções de hospedagem no Vale do Colca
A paisagem que testemunhei da janela do ônibus é fantástica, com vulcões e picos nevados de fundo. Cada mirante, povoado e igreja colonial fazem valer a viagem, assim como as águas termais que existem por ali, as vicunhas e outros animais que avistamos pelo caminho.
Mas a verdade é que o grande atrativo do Vale do Colca, aquele que leva toda essa gente até lá, é outro: um cânion.
Para ser mais exato, o segundo maior do mundo, com 4150 metros de profundidade. O Cânion do Colca é duas vezes mais profundo que o internacionalmente famoso Grande Cânion, nos Estados Unidos. E perde por muito pouco a primeira colocação nesse ranking, para o também peruano Cânion de Cotahuasi.
O turismo começou no Vale do Colca há poucas décadas, mais ou menos depois que uma equipe de exploradores desceu de rafting o Rio Colca e garantiu ao mundo que ali, no meio dos andes peruanos, estava um dos cânions mais bonitos do planeta.
Desde então, os turistas que descem em Arequipa têm o Vale do Colca como prioridade máxima, assim como Machu Picchu é para quem chega até Cuzco. E o mirante mais procurado do vale é a Cruz do Condor.
Desse lugar é possível avistar o condor andino, maior ave voadora do planeta – são 3,20 de envergadura! Em média, cada condor é capaz de viver por até 60 anos.
Apesar de ser considerado símbolo nacional de vários países da América do Sul e fazer parte da mitologia andina, o condor está ameaçado de extinção, tanto por perda de seu habitat natural quanto pela ação de caçadores.
Os condores se alimentam de animais de pequeno porte e de carniça. Do mirante, principalmente no começo da manhã, é possível observar o voo da ave, que ali vive protegida.
Avistei alguns condores, contemplei as montanhas nevadas e me preparei para voltar. Antes, o Alonso, guia que nos acompanhou na viagem, resolveu nos surpreender mais uma vez:
“Estão vendo aquele pico nevado lá no fundo? É o Nevado Mismi. É dali, de uma pequena lagoa, que nasce o Rio Amazonas”. A nascente do maior rio do mundo está nos arredores do Vale do Colca.
A melhor forma de conhecer o Vale do Colca é passando ao menos uma noite na região. Até existem passeios oferecidos no esquema bate-volta, a partir de Arequipa, mas o dia é puxado. Você sairá do hotel ainda de madrugada, cerca de 2h da manhã, e voltará para Arequipa no fim da tarde.
Junte toda essa correria, o mal de altitude, as paisagens fantásticas do Vale e as muitas opções de passeios por lá e fica evidente que a melhor decisão é descartar o bate-volta, dormir no Vale do Colca e retornar no dia seguinte para Arequipa (ou seguir de lá para Puno e as belezas do Lago Titicaca).
Vai seguir de Arequipa para Puno? Arequipa está a 300 km de Puno, às margens do Lago Titicaca. No meio do caminho entre as duas cidades está o Vale do Colca.
Se você pretende incluir o Vale do Colca e Puno em seu roteiro, tá aqui outra dica fantástica: contrate um tour que te pega em Arequipa, passa pelo Vale do Colca e pelas termais de Chacapi e termina em Puno.
Poucas regiões do mundo combinam tanto com uma viagem de carro como a Toscana. Habitada…
Kashan foi uma das cidades que mais me surpreendeu no Irã. Pequena, charmosa e repleta…
Fussen é um bate-volta comum para quem visita Munique e uma parada estratégica para quem…
Se você gosta de história e curte cidades com muitas atrações de graça, você vai…
Alguns lugares que a gente visita parecem nem pertencer a esse planeta. Foi bem assim…
O que fazer em Hong Kong? A metrópole asiática é um daqueles umbigos do mundo…
Ver Comentários
Oi pessoal, vamos a Arequipa em outubro e pelo que entendi, o passeio do Vale do Colca a gente compra lá mesmo quando chegarmos. Mas e a hospedagem? Tem que reservar antes? Pesquisando as pousadas, vimos que muitas recomendadas nos blogs já estão sem vagas para a data que planejamos ir.
O ideal é reservar antes sim. Uma alternativa é mandar um email para seu hotel em Arequipa e ver se eles indicam algum passeio ou pousada no vale.
ola , vc em o nome da agencia q fez este passeio?grata
Peru ta na minha "bucket list" e fico sempre adiando ou colocando outro destino na frente.
Também estive lá. é realmente fantástico. A profundidade deste canion te faz sentir relamente muito pequeno. E os condores voando ao seu redor é muito emocionate. Parabéns pela bela reportagem.
Esse lugar é incrível! Fiz o trekking até o povoado que se encontra no fundo do canon, 15km de descida nivél hard com muitas pedras e areia. Dormi uma noite por lá e no outro dia, 3h de subida! Foi uma superação, recomendo demais!!!
Na época em que fui, fechei um pacote em Cusco mesmo. Peguei um ônibus à noite para Arequipa, cheguei de manhã e a van já estava me esperando. Juntamos os outros turistas nos hotéis e viajamos até Chivay, onde pegamos um banho termal, jantamos e dormimos. No outro dia fomos para o cânyon e voltamos no meio da tarde para Arequipa. Recomendo demais esse passeio!
tola , vc em o nome da agencia q fez este passeio?grata
Foi com a Submarino Viagens, Susana. Eles têm uma agência parceria local cujo nome não me lembro, francamente.