Dicas para planejar uma viagem de carro e se apaixonar pela estrada

Eu adoro pegar estrada.

Desde pequeno, seja por tradição familiar ou por influência dos road movies hollywoodianos, sentar atrás de um volante sempre me pareceu a melhor maneira de viajar. As férias de julho foram marcadas por viagens à casa da avó e as de janeiro eram sinônimo de sair de Belo Horizonte com o carro cheio de coisas rumo a Natal, mas acho que o fascínio começa pela disputa entre a vontade de se aventurar contra a pressa de chegar.

Entendo que é super prático, para quando se tem pouco tempo, sair de um ponto e chegar ao destino apenas uma, duas, ou algumas horas depois. Você chega relativamente descansado, com mais tempo disponível e pronto para conhecer um lugar que te encantou a ponto de decidir ir para lá.

Só que, para mim, a demora ou cansaço são preços pequenos a se pagar frente à perspectiva de ter mais liberdade para escolher. Ainda que eu também queira chegar ao destino sonhado, adoro a ideia de que, ao volante, posso mudar os planos e decidir parar naquele lugarzinho ali, porque ouvi falar de algo ou simplesmente fui com a cara do lugar. Meus pais faziam isso. Nessas viagens a Natal que mencionei acima, atravessei cidadezinhas de MG, conheci Salvador uma vez, João Pessoa na outra, tomei banho no mar azul de Alagoas um punhado de vezes e cheguei a ficar quase uma semana em Pernambuco só para visitar a parentada toda. Pra quê pressa?

Outras coisas que particularmente me agradam muito são a possibilidade de sair na hora em que quiser eu prefiro começar antes de amanhecer, por volta das 5h, e parar ao anoitecer e a noção diferente de passar do tempo que sinto dentro de um carro (cito carros pois, ainda, não me aventurei com as motos). É claro que rodar quilômetro após quilômetro pode ser exaustivo, mas também pode ser ótimo para reforçar relações ao cantar junto a playlist da estrada, inventar jogos ou conversar com calma sobre os assuntos mais diversos. Quando enfrento as jornadas sozinho, é uma baita oportunidade de deixar os pensamentos fluírem e meditar sobre a vida, o universo e tudo mais.

Enfim. Como já escrevi certa vez depois de rodar 7.500 km sozinho durante a Copa do Mundo de 2014: para mim, a melhor parte de uma viagem é o caminho, não o destino.

Essa foto do Roque, que construiu um campo de futebol no meio de uma plantação de cajueiros, só aconteceu porque vi, enquanto dirigia, um ponto verde no meio da seca no sertão do Piauí. Mudei os planos, dei meia-volta e parei.

Como planejar uma viagem de carro

Para além do olhar romântico sobre o que a estrada oferece, acho interessante dividir por aqui uma série de coisas que aprendi ao viajar de carro por aí, seja a trabalho ou a lazer. É uma lista construída a partir de experiências bem pessoais, e ficarei imensamente feliz caso alguém a complemente com dicas nos comentários.

Antes de mais nada, gostaria de ressaltar que, ao contrário do que acontece com os aviões, se você decidir viajar de carro de hoje para amanhã, a boa notícia é que o preço da sua viagem vai ser mais ou menos o mesmo do que se você a planejasse com antecedência. Uma ótima vantagem para quem não gosta (ou não consegue) se organizar com meses de antecipação, mas que não exclui a atenção com alguns pontos importantes.

O veículo – certifique-se de que seu meio de transporte está em boas condições. Conferir água, óleo, calibrar os pneus e checar se os faróis estão funcionando são passos básicos e costumam ser suficientes para viagens mais curtas. Para as mais longas, fazer alinhamento, balanceamento e um check-up com um mecânico de confiança pode fazer a diferença entre se divertir com segurança ou ficar parado no acostamento. Também vale checar se o seguro está em dia.

Em relação aos pneus, acho importante contar uma experiência ruim que tive com um estepe. Peguei um carro emprestado cujos pneus de perfil baixo apresentaram problemas por conta dos inúmeros trechos de terra e pedra que pegamos, e furaram algumas vezes. O estepe era daqueles fininhos, metade do pneu normal, e só permitia que andássemos poucos quilômetros e em velocidades baixas. Um dos pneus principais se desmanchou num interiorzão e acabamos tendo que comprar um pneu de um desconhecido, via OLX, e torcer para que, quando a encomenda chegasse, fosse realmente da qualidade prometida.

O combustível – para quem viaja de motorhome, jipe ou coisa assim, é comum andar com um galão reserva de gasolina ou diesel no porta-malas. É um recurso útil. Para quem prefere não fazê-lo, a dica é estabelecer que, quando o tanque está abaixo da metade, já pode ser hora de abastecer. Essa sugestão não precisa ser seguida à risca nas principais estradas, que ligam grandes cidades, mas já cheguei a rodar quase 300 km no interior de Piauí e Ceará sem avistar um posto de gasolina sequer. Precisei arriscar (colocar o carro em ponto morto em certos trechos) e torcer. Nunca mais.

Vídeo do Manual do Mundo ensina a calcular quantos quilômetros por litro seu veículo faz.

A comida – não costumo almoçar ou comer muito durante as viagens de carro, para afastar o sono. Mas comer algo com sustância antes de sair é primordial, assim como levar alguns lanchinhos para evitar precisar parar toda hora. Minha mãe era profissa. Sacola térmica, frutas, sucos de caixinha, biscoitos, chocolate e sanduíches quentes e frios estavam no arsenal que ela oferecia durante minha infância. Saudades. Hoje, barras de cereais também vêm a calhar.

O dinheiro – cartão é uma mão na roda, mas nada garante que todas as paradas ou postos do seu caminho vão aceitar débito e muito menos crédito. Saque uma boa quantia e deixe a reservada para evitar sustos ou precisar desviar seu caminho até outra cidade só para sacar dinheiro (já precisei fazer isso algumas vezes).

O sono – para mim, de longe, o maior perigo do estradeiro (junto com a pressa de chegar, que leva a altas velocidades e ultrapassagens arriscadas). Garanta uma boa noite de sono antes de dirigir. Ter alguém pra conversar ou revezar o volante ajuda muito, e itens como café, chocolate, energético ou o simples ato de deixar o vento bater no rosto podem colaborar um pouquinho, mas não são mágicos. Se o sono apertar, o melhor é encostar o carro em um posto (ou numa sombra à beira da estrada), esticar as pernas ou tirar um cochilo. Digo por experiência própria que só meia horinha já pode ser revigorante.

Para viagens mais longas, que duram dias, semanas ou meses, recomendo pesquisar antecipadamente (nem que seja na parte da manhã de cada dia) alguns locais que podem servir de pouso. Decidir quanto kms você quer percorrer é importante. “Se conseguirmos rodar X quilômetros, podemos parar em tal cidade. Se cansarmos antes, tal lugar é uma boa opção”.

Eu nunca reservei acomodações antecipadamente para essas paradas de um ou dois dias, mas isso vai de cada um. Geralmente não me importo em ficar em um hotel pior, em um motel ou, no caso de falta de vagas, abrir a barraca em um camping ou pernoitar dentro do carro mesmo (nesse caso, pare em um lugar seguro. Postos com muito movimento ou estacionamentos fechados).

Os mapas – Eu adoro e confio muito no Google Maps (fora de centros urbanos, o Waze já me mandou literalmente para alguns buracos), mas é preciso estar preparado para alguns inconvenientes. Primeiramente, dependendo de onde você estiver, o sinal de internet pode ser inexistente. Se esse pode ser o seu caso e o celular tiver espaço suficiente, baixar o mapa para visualização offline é uma medida básica a se fazer antes de dar a partida.

Segundo: o plural que usei pra dar nome a essa seção não está ali de bobeira. Considero muito importante ter uma redundância de mapas e, nesse sentido, considero os guias de papel a melhor opção. Os GPS’s que vem de fábrica em alguns carros mais novos não costumam estar sempre atualizados, e já me complicaram algumas vezes. Com o papel você pode “perder tempo” encostando o carro para olhá-lo, mas consegue ter uma visão mais ampla sobre as opções existentes e, principalmente, certificar-se sobre a direção em que está seguindo.

Na falta de ponte, já precisei ir pelo rio mesmo. Mais fotos como essa no meu perfil no Instagram.

Acho que, por enquanto, as dicas mais importantes são essas. Se você ficou com vontade de sair de carro por aí, separe os documentos direitinho, escolha seu(s) destino(s) e acelere. Mas se você chegou até aqui e não ficou com nem um pouquinho de vontade de pegar estrada, acho que nada mais vai te convencer, né?

Não tem carro e ficou tentado a cair na estrada? Veja nossas dicas de como alugar um carro mais barato no Brasil ou no exterior.

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Ismael dos Anjos

Ismael dos Anjos é mineiro, jornalista e fotógrafo. Acredita que uma boa história, não importa o formato escolhido, tem o poder de fomentar diálogos, humanizar, provocar empatia, educar, inspirar e fazer das pessoas protagonistas de suas próprias narrativas.

Ver Comentários

  • Olá .... belo artigo ou crônica ... concordo em gênero número e grau quanto à melhor parte ser a preparação e a estrada propriamente dita! Ano passado meu marido e amigo programaram ida a Ushuaia de moto! Eu já tinha ido com meu marido mas vi nessa ida deles de moto a oportunidade de ir de carro sozinha!! E assim o fiz!!
    Uma das viagens mIs maravilhosas que já fiz! Fomos os três com o único intuito de aproveitar e relaxar no visual fantástico da Patagônia!
    Três viajantes juntos mas cada um com sua curtição, emoções particulares e sentimentos variados!
    À noite era a hora de trocar as impressões! Patagônia recomendo sempre!
    Abraços
    Cleci Maria Avanzi, Morro Reuter, RS

    • Que legal, Cleci!

      Adorei a iniciativa de vc encontrar o seu próprio jeito de curtir a viagem :). Ainda não fui à Patagônia! Tem recomendações?

      Abraços e obrigado pela leitura.

  • Cara, sobre os mapas (em especial Google Maps), eu me lembro que ele já me jogou numa fria. Isso foi em 2012, estávamos em cinco num Celtinha indo de Belo Horizonte para Trindade. O caminho que o mapa indicava passava por uma cidade chamada Cunha, na divisa de SP com RJ. Tinha visto alguns sites dizendo para não passar por lá, mas a gente acabou ignorando essa informação. E foram os 90 minutos mais complicados.

    Me lembro até hoje das duas placas que vimos: "divisa SP - RJ a 100 metros", seguida de "fim do asfalto a 100 metros". Era junho, Corpus Christi, e chovia muito. Paramos numa estrada que era nem de terra, parecia ser areia com várias pedras encravadas. Foram 90 minutos para percorrer 12 km, de Cunha a Paraty. Some-se a isso o fato de termos atravessado a divisa perto de meia-noite. Haja cautela, o motorista foi muito habilidoso. (Depois vi que tinha gente atrás de nós e que não éramos os únicos perdidos... rsrs) Quando enfim demos notícia do asfalto, o alívio foi geral! Paramos numa pousada e dormimos, porque né, depois dessa, não tinha como continuar... Hahaha

    Em suma: além dos mapas digitais e físicos, fica a dica de pesquisar sites e fóruns sobre a condição das estradas. O fórum do Mochileiros.com é sempre uma mão na roda pra tudo relacionado a viagens.

    • Boa dica essa dos fóruns, Brunão! Anotada por aqui.

      E que perrengue essa história aí, hein? Já peguei muita estrada cabulosa e até aluns lugares sem estradas, mas à meia-noite complica, hein?

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Publicado por
Ismael dos Anjos

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