*Por Priscila Brito
Eu passei dois meses de 2014 viajando por festivais de música na Europa, junto com a minha amiga e também jornalista Gracielle Fonseca. Dessa experiência nasceu o Festivalando, site de turismo musical no qual contamos nossas histórias, impressões e outros “causos” (somos mineiras!) sobre viagens e o universo dos festivais de música.
Pode parecer incomum e até um absurdo dedicar a um festival de música todo esforço e dinheiro que uma viagem exige; mais ainda uma viagem internacional. Mas o que eu e a Gra concluímos é que tem muita coisa semelhante entre uma viagem “tradicional” e uma viagem “para festivais”.
Ao mesmo tempo, os festivais também proporcionam experiências peculiares e únicas, bem próprias desses eventos. E em qualquer um dos casos, você vai ver ótimos shows – topamos com Rolling Stones, Arctic Monkeys, Carcass, Phil Anselmo, Herbie Hancock + Wayne Shorter, Queens of the Stone Age e outros no meio do caminho.
Foto: Per Lange/Roskilde Festival
Abaixo, reproduzo do Festivalando uma lista com as razões que aproximam os festivais das viagens tradicionais:
Festivais não acontecem no vácuo. Eles acontecem em uma cidade X, no país Y. Logo, você vai necessariamente conhecer a cidade X e o país Y. O interessante é que alguns festivais não acontecem nos principais centros, o que vai te fazer conhecer mais lugares do que conheceria num roteiro tradicional.
Viajar para a República Tcheca significa ir para a Praga, certo? Mas eu e Gra acabamos indo a três cidades tchecas por causa do Brutal Assault, festival de heavy metal que acontece naquele país. Passamos uns dias em Praga. Depois seguimos para Hradréc Králové, onde acontece o festival. Como no meio do caminho de uma para a outra estava Kutná Hora, fizemos um pit stop por lá.
Em alguns casos, você pode se surpreender. Decidi ir para Montreux, na Suíça, atraída única e exclusivamente pelo Festival de Jazz de Montreux. No fim, acabei visitando um dos lugares mais bonitos que conheci até hoje, com uma beleza natural que eu simplesmente ignorava que existia na Suíça.
Riviera Suíça (Foto: Priscila Brito)
A Gra foi para Aalborg, na Dinamarca, só por causa do Aalborg Metal Festival. Assim que chegou lá, me mandou um inbox falando sobre como a cidade era charmosa. Depois, concluiu que a cidade merece mais que uma só visita.
Você não vai obrigatoriamente gastar todo seu tempo livre dentro de um festival – a não ser que acampe, no caso dos eventos que oferecem esta alternativa, mas isso é uma escolha sua. E se sua opção for dividir o tempo entre atividades distintas, vai sobrar espaço no seu roteiro para conhecer aqueles pontos praticamente mandatórios em determinadas cidades.
Fui a Berlim por causa de um festival de punk, o Resist to Exist, mas usei parte do tempo livre para ver os restos do muro, o portão de Brandemburgo, o parlamento e a Siegessäule. Também sobrou tempo para dedicar um dia inteiro a Potsdam, cidade vizinha.
Há quem, como nós, viaje para festivais, mas a maioria do público ainda é de habitantes locais. Isso significa ouvir e ler placas no idioma local (mesmo que o inglês seja usado também), se aproximar, se relacionar e perceber bem de perto como se comportam tchecos, dinamarqueses, suecos, etc.
No Roskilde, lá na Dinamarca, eu e Gra viramos praticamente agregadas de um grupo de amigo@s metaleir@s que todos os anos monta um acampamento no festival. E uma das graças de viajar é justamente ter contato com outras culturas, não é mesmo?
Festivais de música seguem um modelo de organização meio padronizado, o que fazem deles um espaço razoavelmente globalizado, mas há aspectos locais que são conservados. Vende hambúrguer e Coca como em qualquer fast food do mundo? Vende. Mas vende a mais pura cerveja tcheca e o tradicional trdlo, pão com açúcar e canela feito na hora (Brutal Assault). Ou o currywurst, salsicha com molho curry acompanhada de batata-frita, típico fast food alemão (Resist to Exist, na Alemanha).
Tem atrações mainstream que tocariam em qualquer lugar do mundo, como os Stones ou o Calvin Harris? Tem. Mas também sempre há espaço para quem é da terra. O Sziget, em Budapeste, tinha um palco só com shows de artistas húngaros. O Resist to Exist, em Berlim, tinha um line up formado majoritariamente por bandas alemãs.
Ponto bem lembrado pela Gra: vai a Paris e tira selfie na Torre Eiffel? Pois bem, se você vai a um festival também tem selfie, baby. E ainda por cima bem menos óbvio, em pontos muito específicos e únicos de cada festival. Foto para o seu Instagram não vai faltar.
Nós já fizemos um #VideoSelfie só para mostrar a quantidade de souvenires que ganhamos/compramos nos festivais. Tem camisa, caneta, bolsa, copo. Todo tipo de lembrancinha que se encontra em lojas para turistas.
E ainda tem um souvenir que só alguns festivais têm (majoritariamente os europeus): as pulseiras, a princípio substitutas dos ingressos, mas que acabaram se transformando em item de ~ostentação~ dos festivaleiros.
Alguns festivais são tão gigantescos que o único jeito de você achar o banheiro ou a barraca de comida é se orientando por um mapa. E são tantas atrações oferecidas para além dos shows que é imprescindível ler o guia para ter noção das variadas opções de diversão, como lembrou a Gra. Não funciona assim com as cidades também?
Pri e Gra, blogueiras do Festivalando
Isso também tem a ver com o gigantismo de uns festivais. O Wacken, na Alemanha, e o Roskilde, na Dinamarca, são praticamente festivais-cidade. Eu e a Gra tiramos um dia só para nos familiarizarmos com o Roskilde. Não adiantou muito, porque nos perdemos na hora de ir embora e demos umas voltas desnecessárias (se perder quando está num lugar novo. Quem nunca?).
Mas ela teve uma boa sacada, a de usar um moinho de vento como nosso referencial, e assim aprendemos o caminho de volta que nos levava até o trem que seguia para Copenhague. Praticamente como achar um macete pra não errar o caminho até o hotel.
Excetuando-se as pessoas rhycahs, quem é um pobre (em todos os sentidos) mortal precisa se planejar em vários aspectos para fazer uma viagem. Se ela incluir um festival, os preparativos serão os mesmos. E o dinheiro vai embora do mesmo jeito se você não for esperto. Por exemplo, comida em festival vai ser sempre mais cara que num supermercado ou que num restaurante fora de áreas turísticas.
E aquela vontade que a gente sente de voltar para Londres, Buenos Aires ou Berlim outra vez, de tão maravilhosos que são estes lugares? É a mesma que a gente sente em relação ao Roskilde, onde eu e Gra tivemos experiências únicas. Ou, especificamente, o que eu sinto em relação ao Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, e a Gra em relação ao Wacken, na Alemanha, onde tivemos o momento criança-feliz-na-Disney de nossas vidas.
É claro que há o risco de algo sair fora do planejado (o Sziget, na Hungria, é o nosso exemplo). Mas, assim como belas cidades mundo afora, os festivais provaram pra nós que eles podem render boas histórias e memórias de viagem que vamos carregar pra sempre (rende até um site só sobre isso, néam?).
Foto: Bence Szemerey, Divulgação
E vai ser tudo tão marcante que você vai criar uma relação especial com eles, aquela saudade básica vai bater de vez em quando e você vai se pegar planejando um reencontro. Ou, então, vai procurar novos destinos para viver boas histórias em lugares diferentes. Assim como cidades e países, sempre vai ter um festival desconhecido para desbravar.
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É um sonho que pode virar realidade com razoável facilidade, Izabella. Depois, se te interessar, passa lá no Festivalando. Além dos relatos sobre as viagens que fizemos a festivais no ano passado, começamos o ano dando muitas dicas e sugestões para quem quer incluir festivais nos roteiros de viagem ;)
Que sonho!!! "Turistar" indo a shows de rock e de metal \,,/