A história e a visita ao Castelo de Santo Ângelo, em Roma

A primeira vez que eu vi o Castelo de Santo Ângelo, ou Sant’Angelo (em italiano), foi também a primeira que pisei em Roma, em 2011. E lembro que foi uma das maiores frustrações daquele mochilão pela Europa, quando cruzamos extasiados a ponte com estátuas-anjos de Bernini, vimos aquele anjo enorme no topo do castelo, nos lembramos de todas as intrigas que se passam no livo Anjos e Demônios, e por fim, demos de cara com a porta. Era segunda-feira, o dia internacional dos turistas frustrados com atrações fechadas.

A minha segunda visita a Roma foi bem mais corrida e não passei lá pelos lados do Vaticano. Então, decidi que na terceira visita iria resolver essa questão: o Castelo de Santo Ângelo entrou logo no primeiro lugar da lista de atrações para visitar. E foi assim que chegamos lá, num domingo em que o Papa não estava no Vaticano para dar tchau pela janela. Pensamos que talvez seria um domingo de azar. Ainda mais quando eu vi o tamanho da fila que se formava em frente ao tal castelo dos anjos:

Dane-se, com fila ou sem fila, a gente ia entrar. Claro, não furamos a fila. Ficamos pacientemente esperando a nossa vez, que demorou uns bons 30 minutos. Quando nossa vez se aproximava, começamos a observar uma coisa interessante. Talvez nosso domingo de azar na verdade fosse um domingo de sorte. Bilhetes estavam sendo distribuídos, ao invés de comprados. A surpresa era que tratava-se do primeiro domingo do mês, também conhecido em Roma como “o dia em que todas as atrações turísticas são gratuitas”.

Leia também: As principais atrações turísticas de Roma

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Com nosso bilhete em mãos, começamos a explorar o castelo…

A história do Castelo de Santo Ângelo, em Roma

Construído entre 123 e 139 como Mausoléu de Adriano, o imperador romano que também era conhecido pelo seu amor pelas artes (recomendo muito também a visita à Villa que ele construiu em Tívoli). Durante quase um século, o prédio manteve essa função funerária, com as cinzas de outros imperadores romanos sendo armazenadas ali. Então, por volta de 270, o Imperador Aurélio resolveu transformar o local numa fortaleza militar, sendo incluído no sistema de defesa de Roma, dada a proximidade com o rio Tibre. Nos séculos seguintes, as guerras e invasões de Roma contribuíram para os saques e destruição de boa parte do prédio.

Mas como que o Mausoléu de Adriano se tornou o Castelo de Sant’Angelo? Isso só aconteceu na época do Papa Gregório (o mesmo do canto Gregoriano), lá para 590. A lenda varia um pouco dependendo de quem está contando, mas dizem que o Gregório I teve uma visão do Arcanjo Miguel no topo da construção, anunciando o fim de uma praga que assolava Roma na época. Também foi uma boa chance para o então Papa destruir várias construções “pagãs” em Roma.

Aos poucos, o Castelo de Santo Ângelo passou para o controle papal. A partir do século 15, o que coincide com o período renascentista, apartamentos papais foram construídos ali com decoração luxuosa e afrescos detalhistas. Cada novo papa pedia para um artista da época reformas e expansões das construções.

Era uma época de Papas de famílias muito poderosas, que a gente reconhece facilmente dos livros de história ou séries da Netflix: Medici, Borgia, Farnese, Orsini… Foi nessa época também que foi construída a famosa passagem entre o Vaticano e o Castelo, o Passetto di Borgo (que é essencial para a trama de Anjos e Demônios). Ao mesmo tempo que era residência luxuosa, o castelo também foi usado como prisão.

A ponte que cruza o Tibre até o castelo também foi construída pelo imperador Adriano e também mudou de nome na época do Papa Gregório I. Porém, antes de exibir belas esculturas, eram corpos de prisioneiros executados que ficavam expostos ali. Foi só lá por 1535, que o Papa Clemente VII instituiu um imposto para a construção de estátuas dos apóstolos Pedro e Paulo. Depois, vieram as esculturas dos quatro patriarcas: Adão, Noé, Abraão e Moisés.

Em 1669, o Papa Clemente IX encomendou de Bernini novas esculturas para decorar a ponte, representando a Paixão de Cristo. Uma curiosidade é que apesar de Bernini ter desenhado e participado do processo, ele não fez de fato nenhuma das dez esculturas que está lá hoje: foram todas feitas por seus discípulos. As duas esculturas que Bernini fez de fato foram expostas na igreja Sant’Andrea delle Frate.

Ahh, e o tal Anjo, que motivou o nome do castelo na visão do Papa Gregório? A escultura que está lá hoje foi feita em bronze pelo artista Peter Anton von Verschaffelt, em 1753. A escultura original, de mármore, de Raffaello da Montelupo, feita em 1536, está num dos pátios que dão acesso aos apartamentos papais.

Nos dois séculos seguintes, a estrutura defensiva do castelo foi melhorada e ampliada. Roma sempre foi uma cidade que passou por guerras e invasões. No século 19 começaram as investigações arqueológicas e restaurações e eventualmente o Castelo de Santo Ângelo mudou de donos: do Vaticano para o Estado Italiano. Somente em 1925 foi estabelecido como Museu Nacional.

Como é a visita ao Castelo de Sant’Angelo

São sete níveis de visita, desde os subsolos até o terraço. Isso quer dizer que boa parte da história do castelo ainda pode ser vista. Nos subsolos fica a área reservada para a tumba de Adriano e nos andares seguintes encontram-se uma mistura de prisão com os quartos luxuosos papais e várias das ruínas de achados arqueológicos, esculturas, etc. Dá até para ver a entrada da passagem “secreta” para o Vaticano. A vista dos terraços do castelo também é incrível. Dá para ver boa parte de Roma e do Vaticano.

A entrada custa €13,50 (como falei lá no início, é gratuito no primeiro domingo de cada mês). Os horários de abertura também mudaram. O Museu Nacional do Castelo de Sant’Angelo agora abre todos os dias (inclusive na segunda-feira), de 9h às 18h30. É sempre bom consultar o site oficial antes da visita. 

Vista do Castelo, com o Vaticano e o Rio Tibre no horizonte

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Parabéns pelo blog, sucesso! Adorei o post, também estou fazendo um no meu blog sobre esse tema, se quiser dar uma olhadinha, sempre é bom trocar figurinhas, né? hahahaha

    O meu é: mundoquevivi.home.blog/

    Um abraço!

  • Boa tarde Luiza,

    Muito bacana seu relato, obrigado por compartilhar.
    Saberia dizer se as esculturas da ponte Santo Ângelo representam algum anjo especifico ?
    Obrigado !

    • Oi Rafael,

      Pelo que pesquisei, além dos evangelistas e os patriarcas, os anjos não são específicos.

      • Visitei o castelo de Santo Ângelo em fevereiro de 2018, adorei.O que mais me deixou pensativa foi que os anjos da ponte tem um objeto da crucificação de Cristo. O que o autor das estatuas queria dizer.

  • Fui a Italia pela segunda vez agora em fevereiro de 2018, desta vez conheci o castelo, meio por acaso porque o grupo que estava conosco não se interessa por história.
    Gostei de conhecer esse monumento, mas quase morri de tanto subir e descer escadas.

  • Aff da vontade de destruir toda essa porcaria cristã, e reerguer a gloria helenica classica, um dia ainda apagaremos esses vergonhosos regirstros do dominio da demagogia diabolica cristã,lamentavél deve ser uma tortura para nós amantes evolutivos que adimiramos essas gloriosas culturas classicas, que tristeza.

  • Boa Tarde a todos, estou a procura de parentes da minha familia que moram ainda na italia, meu bisavô se chamava Luigi Tormenta e seu Irmão Orazio Tormenta e não sei se era irmã ou algum parente da familia a senhora Tereza Tormenta, estamos a procura deles pois queremos saber mais sobre a nossa familia quem poder me ajudar fico grato de coração vou deixar o email da minha empresa servicosgraficosjf@gmail.com moramos em são paulo

  • Boa tarde, gostaria de uma ajuda com meu roteiro,eu e minha esposa estamos indo para a Europa pela primeira vez, vamos em maio, fiz o seguinte roteiro

    Londres-5 dias
    Parias - 5 dias
    Amsterdam- 4 dias
    Berlim -4 dias
    Praga -3 dias
    Atenas- 3 dias
    Roma - 5 dias
    Florença 2 dias
    Veneza 2 dias

    Minha dúvida é se vou para Berlim ou Monique, e se é viável ir para atenas.

    Obrigado,

    • Olá Matheus,

      Eu acho Berlim bem mais interessante que Munique.

      E é viável sim ir para Atenas.

      No mais, seu roteiro está ótimo.

  • Estou indo à Roma pela segunda vez e nesta o Castelo de Santo Ângelo é parada obrigatória, o que na primeira viagem foi só admiração por fora! Parabéns pelo seu texto, já viajei um pouco nele só de ler! E lá vamos para Itália!
    Parabéns pelas dicas, adorei!

  • Querida, que prazer dividir contigo essa experiência!! Já visitei a Itália duas vezes. E foi somente na segunda vez, num belo fim de tarde de domingo que tive essa experiência!! Sou historiadora, então vc pode imaginar como me senti..
    Vc traçou um roteiro minucioso e imperdível sobre o Castelo...
    Nada a acrescentar!! Somente te parabenizar!!
    Fica a dica de uma jornalista e uma historiadora: estando em Roma inclua o Castelo de Sant'Angelo! Até a vista!!
    Abçs

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Luiza Antunes

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