Cercada por uma das mais bonitas cadeias de montanhas do planeta, Yangshuo foi descoberta pelo turismo no final dos anos 1970, quando mochileiros desembarcaram na West Street, fincaram raízes e passaram a fazer propaganda das belezas dessa região. Divulgação merecida: as paisagens dessa parte da China bem que poderiam estar em muita história de fantasia por aí.
Imagine incontáveis picos calcários, formados durante milhões de anos pela ação das monções. Junte a isso rios de água limpa, cavernas, plantações de arroz, templos e o estilo de vida milenar do sul da China. É isso que Yangshuo, até hoje uma cidade pequena para padrões chineses, com 300 mil habitantes, reserva aos seus visitantes. A paisagem é tão deslumbrante que foi escolhida para ilustrar a nota de 20 yuans, o dinheiro chinês.
Chegar ali não é tarefa das mais complicadas. Guilin, a grande cidade mais próxima e também repleta de belezas naturais, tem um aeroporto internacional e está a apenas 65 quilômetros de Yangshuo. Trens ligam a cidade ao restante da China e também é possível chegar até lá de ônibus.
A forma mais memorável, porém, é de barco, navegando pelo rio Li. As embarcações saem do Zhujiang Pier, a 30 minutos do centro de Guilin, e seguem lentamente rio abaixo. “A paisagem de Guilin é a mais bela debaixo do céu; a de Yangshuo é a mais bonita de Guilin”, diz um ditado famoso nessa área. Tenho que concordar.
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120 milhões de habitantes – a cidade sem fim que está nascendo na China
Os anos 1980 trouxeram tantos turistas gringos que a West Street, rua de pouco mais de 500 metros e pelo menos 1400 anos, acabou apelidada de Westerners’ Street, a rua dos estrangeiros. Por ali estão milhares de expatriados, gente que resolveu viver em Yangshuo e até abriu empresas na cidade – de pousadas a restaurantes. O negócio mais lucrativo da Gringolândia, porém, são os cursos de inglês.
Por muito tempo, Yangshuo foi uma espécie de destino de intercâmbio para jovens chineses, que desembarcavam ali para aprender o idioma da Rainha com mochileiros-professores. Hoje a situação mudou um pouquinho, mas os turistas chineses seguem como maioria absoluta. É que, além das belezas naturais, Yangshuo é um destino de festa.
Tá aí uma coisa que eu não esperava. Quando planejamos a viagem, eu estava pronto para ver a beleza descomunal das montanhas da região, o clima bucólico dos campos de arroz, as cavernas e rios famosos. Eu já sabia que caminhadas e escaladas eram dois dos programas mais concorridos da área e tinha lido sobre como os passeios de bicicleta eram recomendadíssimos, mas não li em lugar nenhum sobre as ruas repletas de bares, boates e restaurantes que atraem turistas ao longo de todo o ano.
Além do cruzeiro e dos passeios de barco motorizados pelo Rio Li, o bamboo rafting pelo Rio Yulong, um curso d’água menor e que também banha Yangshuo, é outra opção para ver as montanhas a partir da água. São embarcações menores, de remo, para no máximo quatro passageiros e que fazem um trecho mais restrito e calmo – mas também lindo – do passeio. Espere gastar em torno de 20 dólares nesse tour, cerca de três vezes menos que o cruzeiro a partir de Guilin. Faça pelo menos uma das duas atividades. No restante do tempo, prepare-se para programas ao ar livre e no meio da natureza.
Pedalar é um deles. Para isso, vários hotéis alugam bicicletas e não faltam agências que ofereçam roteiros pela região. Por falta de tempo, eu dispensei esse programa, mas o site da China Highlights tem quatro roteiros de bike, com percursos entre 15 e 60 quilômetros, que aproveitam os cenários mais bonitos de Yangshuo.
Quando o assunto envolve caminhadas, o lugar mais concorrido é a Moon Hill, uma montanha com um buraco em forma de lua. Do pé do morro até o alto são cerca de mil degraus, o que pode ser percorrido em meia hora. Já do centro de Yangshuo até a montanha são necessários cerca de 50 minutos pedalando – peça um mapa na recepção do seu hotel ou contrate um tour até lá. Existe um pequeno vilarejo com alguma estrutura turística no começo da trilha. E a um quilômetro dali está a Big Banyan Tree, uma árvore de pelo menos 1500 anos e 17 metros de altura.
Na cidade, reserve suas noites para bares e restaurantes – tem de tudo um pouco, de bares nos terraços a boates com música alta e luzes piscantes. O prato indispensável da região é o Yangshuo Beer Fish, que é pescado por ali, cozinhado com a água do rio Li e servido com pimenta e outros temperos. O Guilin Rice Noodles, prato típico da cidade vizinha, é outra boa pedida. Perambule sem destino pelas ruelas que cruzam com a West Street e aproveite para provar comida de rua, beber cervejas locais e comprar suvenires – não deixe de passar por uma das várias lojas que vendem chá a granel.
Outro programa noturno bastante concorrido é o Impression Sanjie Liu, um show de sons, danças e luzes que usa as ruas e montanhas de Yangshuo como cenário. O espetáculo ocorre o ano inteiro, em dois horários: 19h45 e 21h20. As entradas custam a partir de 198 yuans.
Também é possível usar Yangshuo de base para explorar outras atrações da região, como a vila de Xingping, plantações de chá e arroz e cavernas iluminadas com luzes coloridas. Atividades como aulas de culinária, artes marciais, idiomas e tai chi chuan completam a lista de atrações.
Veja também: Cruzeiro pelo rio Li e as fantásticas montanhas da China
Se quiser farra, procure por hospedagem na West Street. Quem quiser isso, mas um pouco de tranquilidade para dormir, pode buscar por hotéis em ruas próximas. Nossa escolha foi a River View, uma pousada que fica de frente para o Rio Li e está a apenas 300 metros da muvuca. Não poderia recomendar mais: o preço é justo, o staff é atencioso e fala inglês. Inclusive, o restaurante da pousada é muito bom e vale um almoço – tá aí uma boa opção de lugar para provar o Beer Fish. Veja aqui mais alternativas de hospedagem em Yangshuo.
Vista do River View Hotel
Eu fiquei um dia e meio e foi pouco. Deu tempo para fazer o passeio de barco pelo rio Li, perambular pelas ruelas de Yangshuo e testar alguns restaurantes – mas fiquei sem as cavernas, escaladas, caminhadas e pedaladas. Por isso, recomendo que você passe ao menos duas noites por ali.
A primavera (de março a maio) e o outono (de setembro a novembro) são os melhores momentos do ano. O verão é quente e chuvoso e o inverno é frio e tem paisagens nubladas. Não quer dizer que não dê para ir, mas é bom saber das condições, que alteram os passeios possíveis, a paisagem e até a sua mala. As fotos deste texto foram tiradas no final do inverno.
Se você for em outubro, cuidado para não viajar durante o Chinese National Day, principal feriado e altíssima temporada do país. Nessa época tudo fica mais caro, lotado e precisa ser reservado com antecedência. Também é bom planejar com mais cuidado caso sua viagem seja no Ano Novo Chinês, que foi quando eu fui (entre janeiro e fevereiro). Se esse for o seu caso, vale a pena reservar hotéis, passeios e transportes com antecedência.
Não menospreze Guilin, que merece pelo menos um dia e uma noite do seu roteiro. No mais, é uma boa ideia combinar essa região com uma passagem por Hong Kong, que está a apenas três horas de distância, pelos trens de alta velocidade que partem de Shenzhen, metrópole conurbada com HK.
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Oi Rafael,
Estou planejando uma viagem em outubro para a China, incluindo Yangshuo e Guinli como os pontos altos da viagem. Gostaria de saber quanto tempo durou a viagem de barco de Gulin até Yangshuo e qual agência você recomenda. Iremos ainda à Chengdu e gostaria de ir também à reserva de Jiuzhaighou mas não sabemos se dará tempo. Vocês chegaram a ir? Se sim quanto tempo acham o suficiente? Parabéns por mais uma matéria mega legal e já te agradeço desde agora! :)
Oi, Dani. Não estive em Chengdu - não deu tempo. Minha viagem foi: Xangai, Hong Kong e Macau, Guilin e Yangshuo e Pequim, isso em 15 dias. O único deslocamento aéreo foi de Guilin para Pequim, o resto foi trem.
O passeio de barco dura cerca de quatro horas. Há versões mais curtas, em que você faz uma parte do trecho por terra e outra pelo rio.
Qualquer coisa é só perguntar!
Abraço.