Yvoire, uma vila medieval na França

No século 14, um viajante que passasse por essa vila encontraria as muralhas de uma importante cidade fortificada, com direito até a castelo na beira do lago. Já quem visitou o local nos séculos seguintes encontrou uma cidade parcialmente destruída, moradia de algumas dezenas de pescadores, suas famílias e só. O viajante de hoje é mais sortudo: encontra uma vila medieval de muralhas abertas e com a fama de ser um dos lugares mais bonitos da França. Essa é Yvoire, que fica no Lago Genebra e pertinho da Suíça.

Yvoire está numa posição estratégica, justo no ponto onde o lago é dividido em dois: o grande e o pequeno. Por isso, o Conde Amadeu V mandou erguer um castelo ali, para controlar quem passava pelo lago. Foi assim que Yvoire viveu seu momento político mais importante, até que caiu diante de inimigos e passou por saques, mortes violentas, abusos e destruição. Enfim, as práticas de praxe para conflitos da época. O castelo ficou sem teto durante 350 anos, até que resolveram reconstruí-lo – era o primeiro passo para recolocar Yvoire no mapa.

Nos últimos 20 anos, Yvoire viveu um boom populacional. Em 1982 a vila tinha 357 habitantes. Hoje são 849 felizardos, mais que o dobro. Ok, habitante é artigo de luxo por lá, mas não são os únicos itens escassos: também falta informação sobre a cidade. O verbete de Yvoire na Wikipédia (em inglês) tem menos palavras do que a vila tem de moradores. Em português, raros são os sites ou blogs que falam desse lugar. Destaque para esse post do Ducs Amsterdam, que esteve por lá durante uma viagem de carro pelo Lago Genebra.

Mas se Yvoire é tão desconhecida pelos brasileiros assim, como eu e a Naty fomos parar lá? Simples: foi a falta de grana que nos levou até uma vila da Idade Média. Estávamos há dois dias em Genebra, na Suíça. Passamos o primeiro conhecendo os pontos turísticos da cidade, enquanto no segundo fizemos um passeio de barco pelo Lago Genebra. E no último dia na região, o que fazer? A ideia inicial era ir de trem até Lausanne, também na Suíça, só que os tickets de ida e volta custavam o absurdo em forma de francos suíços – estava mais fácil fazer uma viagem de 4 horas para Itália do que o pequeno trecho entre as duas cidades suíças.

Impedidos pelo bolso, optamos por outro passeio, tão caro quanto a ida até Lausanne, mas pelo menos seria a bordo de um barco a vapor pelo belíssimo Lago Genebra. Dentre as várias opções de passeios de um dia, três palavras decidiram por nós: vila medieval francesa. Nunca tínhamos ouvido falar de Yvoire, mas essa descrição bastou. Cerca de uma hora e meia de barco e… vimos o Castelo! Pronto,  Yvoire tinha nos conquistado de cara, logo no primeiro cartão-postal.

Você não vai gastar nem duas horas para percorrer todas as ruas da cidade a pé. São restaurantes, lojas de artesanato, hotéis ou casinhas simpáticas, dos poucos moradores da vila. Agora, quer saber o que é legal mesmo? Os jardins. Desde a destruição da cidade, Yvoire caiu no esquecimento. Até que os moradores resolveram fazer algo peculiar – eles plantaram flores. Muitas flores, em todas as casas, janelas e cantos da cidade.

Como abelhas, os turistas vieram logo que a primavera revelou essa nova cara da cidade, lá nos anos 50. O primeiro prêmio de paisagismo chegou em 1959, mas logo a cidade se acostumou a colocar troféus na prateleira. Hoje, poucos lugares da Europa rivalizam com Yvoire nesse sentido (lembra que eu te disse que era uma das mais belas vilas da França?).

Quem não quiser ir de barco pode ir por terra mesmo, mas carros não entram nas muralhas de Yvoire. Caminhar ali é obrigação, assim como fotografar tudo quanto é jardim. A cidade pode até ter ficado esquecida do mundo durante séculos, mas isso teve o efeito positivo de preservar casas da época. É lógico que muita coisa teve que ser reconstruída, mas com um olhar atento você vai encontrar muita coisa que é tão velha quanto essa cidade de 707 anos.

Depois de caminhar pelas ruelas, observar (ou nadar) no lago, e visitar prédios históricos, escolha um restaurante e aproveite! Nem todo mundo tem o privilégio de almoçar numa vila medieval e com flores e mais flores de cenário.

 

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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