Sabe aquele papo de que a gente estuda o passado para entender o presente? Não dá para entender um lugar sem conhecer sua história. Qualquer coisa que você faça em um destino – provar a comida, visitar atrações, admirar a arquitetura – carece de profundidade se você não conhece a história daquilo ali. E muitas vezes essa história passa longe de ser bonita.
Há séculos, o Leste Europeu tem uma dessas histórias conturbadas, tão cheias de conflitos, dominações e disputas entre povos vizinhos que até o mapa geopolítico da região não parecia parar quieto durante todo o século 20.
Eu conheci Joe Sacco em uma disciplina sobre Jornalismo em Quadrinhos na faculdade, e sua abordagem sobre os principais conflitos do mundo atual logo me interessou. Joe nasceu em Malta, em 1960, mas cresceu nos Estados Unidos, onde se formou em jornalismo.
Frustrado com o mercado de trabalho e com os empregos chatos que conseguia (bem-vindo ao club, Joe!), ele resolveu jogar para o alto a carreira e voltar ao seu país de origem para desenvolver melhor sua outra paixão, o desenho. Foi só mais tarde que ocorreu a ele que talvez essas duas coisas tivessem muito a ver uma com a outra.
Sacco entrevista personagens que convivem com a guerra e tira fotos dos terrenos destruídos pela violência para, mais tarde, transformar o que viu em uma crônica em quadrinhos. Muitas vezes, ele viaja a esses lugares sem credencial de imprensa, o que o obriga a viver como um local e passar pelos mesmos riscos e problemas de seus personagens.
Para ele, esse tipo de formato tem uma força que nenhuma outra forma de reportagem alcança, pois as imagens enfocam a realidade de maneira mais lenta e silenciosa e trabalham na mente do leitor, que pode escolher o ritmo da leitura.
Um de seus trabalhos mais famosos, o Área de Segurança: Gorazde, foi lançado no ano 2000 e relata a experiência do autor e a vida das pessoas em Gorazde, um pequeno vilarejo bósnio que foi sitiado pelos sérvios durante a Guerra da Bósnia, entre 1992 e 1995. O relato dá uma visão diferente da que foi mostrada pela grande mídia na época e, hoje, pelos livros de história, que sempre se centraram mais nos acontecimentos em Sarajevo.
Gorazde fica na parte mais oriental da Bósnia, a porção do país que mais sofreu com a guerra. Ali, a população muçulmana era cercada e assassinada pelas forças sérvias, que pretendiam uma limpeza racial na região imposta com brutalidade impressionante.
Numa tentativa meio desastrosa de tentar proteger os muçulmanos, a ONU criou essas áreas de segurança: locais onde a população bósnia era confinada e de onde não podia sair, numa tentativa de criar ilhas de segurança dentro do território que já havia sido dominado pelos sérvios.
Como as tropas inimigas não estavam nem aí para as resoluções da ONU, o tiro saiu pela culatra e esses locais se tornaram alguns dos mais perigosos da país. Tanto que a única cidade do leste da Bósnia que sobreviveu a essa guerra foi justamente Gorazde.
Joe Sacco foi um dos poucos jornalistas que tirou os olhos da capital e apontou os holofotes para o interior do país. Caso contrário, essa história poderia nunca ter sido contada.
Com estilo impactante, em preto e branco e traços detalhados, o autor relata a destruição da guerra, os bombardeios, a desesperança da juventude, como as pessoas tentavam, apesar de tudo, levar uma vida quase normal e como isso foi ficando cada vez mais difícil.
A falta de comida, água, remédios, infraestrutura e esperança foram caindo sobre os ombros de quem vivia ali e, quando a gente lê, parece que caem sobre nossos ombros também.
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