Talvez você tenha ouvido falar de Clare Hollingworth em alguma manchete de jornal. A mulher que noticiou em primeira mão o início da Segunda Guerra Mundial morreu recentemente, aos 105 anos. Foi assim que eu descobri sua história e, no minuto em que assisti a reportagem, soube que Hollingworth era mais uma personagem maravilhosa para a série de Grandes Viajantes.
Durante os conflitos do século 20, onde quer que fossem no mundo, lá estava ela, firme na cobertura. Vale dizer que o grande furo, aquele que lhe rendeu a fama, aconteceu quando ela tinha 27 anos e apenas uma semana de contrato no jornal Daily Telegraph. Nascida em uma pequena cidade inglesa, seu primeiro emprego foi como secretária na Liga das Nações Unidas. Conseguiu uma bolsa de estudos para ir para Londres e de lá seguiu para Zagreb, na Croácia.
Clare Hollingworth na Áustria, em 1938. Foto: HOLLINGWORTH FAMILY/ BBC
E, depois disso, passou a fazer serviço de ajuda humanitária na Polônia, através do Comitê Inglês para Refugiados (BCRC), ajudando gente que tinha fugido da recém ocupada Checoslováquia a conseguir visto para o Reino Unido. Ela fez um trabalho tão bom, em conjunto com a embaixada local, que quase 13 mil pessoas conseguiram a documentação nesse período e até o MI5 (serviço de inteligência britânico) passou a investigar as atividades. Clare seguiu trabalhando para a organização até o verão de 1939, quando não conseguiu mais renovar o contrato.
Foi no retorno para Londres que ela conseguiu um emprego para voltar para a Polônia como correspondente. Seu objetivo seria reportar o aumento das tensões na Europa. Para conseguir cruzar as fronteiras entre Alemanha e Polônia, conseguiu convencer o cônsul britânico a emprestar seu carro diplomático. Foi nessa rota entre fronteiras, no dia 28 de agosto, que Hollingworth descobriu as tropas alemãs se organizando massivamente em direção à Polônia.
Sua história foi a manchete na capa do jornal no dia seguinte: 1,000 tanks massed on Polish border. Ten divisions reported ready for swift stroke.
Crédito: The Daily Telegraph/PA
No dia 1° de setembro, Clare ligou para embaixada inglesa em Varsóvia para informá-los da invasão inevitável. Para convencer os oficiais da embaixada, segurou o telefone pela janela para capturar os sons das forças alemãs. “Eu contei essa história quando eu era muito, muito jovem. Eu fui lá para tentar ajudar os refugiados, os cegos, os surdos, necessitados. Enquanto eu estava lá, a guerra de repente aconteceu”, contou numa entrevista a um jornal inglês.
Ela cobriu o front da Segunda Guerra Mundial para diferentes jornais: foi para Budapeste cobrir a renúncia forçada do Rei Carol II. Esteve no Egito, Grécia e Turquia a partir de 1940. Para evitar ser presa por estar furando a censura imposta, ficou nua e disse que o policial não poderia prendê-la sem roupas. Isso garantiu que um amigo chegasse a tempo de salvá-la.
Ela também foi proibida de continuar cobrindo o front da guerra no Egito por um general britânico que não aceitava mulheres trabalhando na guerra. Ela então passou a seguir as tropas dos Estados Unidos na Argélia, com o então general Dwight D. Eisenhower (que depois tornaria-se presidente do pais, em 1953) e fazer a cobertura para um jornal de Chicago. Foi assim que foi parar na Palestina, Iraque e Irã.
Depois do fim da guerra, Clare Hollingworth não perdeu a necessidade jornalística que a movia, de reportar sobre os conflitos do mundo de perto. Para ela, cobrir esses conflitos era “uma das atividades mais significativas que um escritor pode participar”. Guerra na Argélia, atentados em Jerusalém, guerra do Vietnã, revolução Chinesa, revolução Iraniana. Onde havia notícia, ela estava lá, não importa onde no mundo, nem os perigos.
Clare no Vietnã em 1968. Crédito: Manhhai – (CC BY 2.0)
Clare não era uma excelente repórter apenas por sua paixão pelo tema e muito menos por ser vista com aquele estigma de “a única” ou a “primeira mulher”. Pelo contrário, eram várias mulheres fazendo o mesmo trabalho. Hollingworth se destacava dos colegas de qualquer gênero porque, além da boa escrita, talento para se relacionar com pessoas e fazer boas entrevistas e atenção aos fatos e detalhes, ela tinha enorme conhecimento sobre tecnologia militar, tendo inclusive aprendido a pilotar nos anos 40.
Crédito: DAILY TELEGRAPH / BBC
Em 1981, já aposentada, mudou-se para Hong Kong, onde frequentava quase diariamente o Clube dos Correspondentes Estrangeiros. Em 1990 publicou um livro de memórias profissionais, chamado Front Line. Em 2016, seu sobrinho-neto, Patrick Garrett publicou a biografia: Of Fortunes and War: Clare Hollingworth, First of the Female War Correspondents. Ela morreu no dia 10 de janeiro de 2017, com uma carreira de muitos prêmios e inspiração para jornalistas no mundo inteiro.
“Preparem-se para curtir o dia de hoje como um verdadeiro Rockstar”, disse o guia do…
Perdido nas águas turquesa do Caribe, o arquipélago de Guna Yala, ou San Blás —…
Nesse texto você descobre a história do Parque Vigeland em Oslo, na Noruega. Trata-se de…
Nas encostas da Sierra Nevada de Santa Marta, na Colômbia, um povo luta para preservar…
Você já ouviu falar na Santeria Cubana? Mas é muito provável que você esteja familiarizado…
“Eu estabeleci um ‘foot ball club’ onde a maioria dos jovens de Sheffield podem vir…
Ver Comentários
Luiza!
Parabéns pelos teus textos!
Acompanhar o 360 é sempre uma maneira leve, porém rica em detalhes, de aprendermos mais sobre o lindo mundo no qual vivemos.
Abraço e sucesso!
Obrigada