No salt, no massala, no chili. Há um mês e meio na Índia, esse foi o único mantra que aprendi até agora. Eu, que não como nem ketchup picante e não entendo como as pessoas podem gostar de uma comida que MACHUCA, vim parar na terra das especiarias, onde as pessoas comem pimenta como se fosse açúcar.
Eu não estou brincando. Nas barraquinhas de comida que ficam próximas ao meu trabalho, precisamos pedir aos vendedores para não colocarem massala – uma mistura de temperos que pode ser bem picante – nos sucos e nas saladas de frutas.
Foto: Marco Abundo, Wikimedia Commons
A tal da massala, inclusive, está em todo lugar. Nas prateleiras dos supermercados é difícil encontrar chips, macarrão instantâneo ou sopas que não estampem nas embalagens sabores como o Super Spicey Massala, Cheese Massala ou o temido Massala Tomato. E se com as pimentas podemos simplesmente ignorar o ardor e tentar tomar uma água, com a massala é impossível. Ela deixa sua marca registrada, aquele gosto característico que faz você ter certeza que aquela é uma típica comida indiana.
Há quem goste. Na verdade, há no mínimo 1 bilhão e 200 milhões de pessoas que gostam. Mas eu, com meu paladar infantil, confesso já ter me rendido à pizza há algumas semanas.
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Nem tudo está perdido!
Na rua onde os trainees da empresa onde estamos trabalhando costumam almoçar, é possível encontrar uma variedade de comidas indianas feitas para indianos. Isso quer dizer que você pode esquecer os padrões de higiene internacionais adotados por alguns restaurantes bacanas de olho em turistas. Do cara do café ao dono da empresa, tudo mundo aqui almoça no podrão ali de baixo. Anticorpo na Índia é adquirido na marra.
A paranta (essa aí da foto) é talvez o prato mais comum e o primeiro que eu tive vontade de comer. Uma espécie de pão com panner (um queijo parecido com o cottage) ou batata dentro que é servido acompanhado de uma variedade de molhos. O pão é bem gostoso e fica ainda melhor quando você joga manteiga derretida em cima, mas eu preferi ignorar os molhos.
Com uma ajuda dos nossos amigos tibetanos, encontrei outra opção plenamente aceitável para meu paladar infantil: os momos, uma massa recheada de frango ou vegetais que pode ser servida frita ou cozida. A comida tibetana é bem comum no norte da Índia e é mais leve e menos temperada. Uma delícia!
Mas e aí, comida indiana não tem churrasco?
Não sei se é porque estou no norte e em uma das cidades mais ocidentalizadas da Índia, mas não conheci nenhum indiano totalmente vegetariano e muitos deles me confessaram já ter provado carne de boi alguma vez na vida. Mas realmente esse é um artigo raro por aqui, embora seja possível encontrá-la em cidades grandes como Delhi e Mumbai, em Goa e em lugares com forte presença muçulmana, como Calcutá e Agra.
E os franguinhos, coitados, ninguém defende…
Mas como a venda de carne bovina ofende os hindus e de carne de porco ofende os muçulmanos, quem vira ensopado são os frangos. Aliás, não apenas ensopado, os galináceos aqui viram frango frito, assado, no espeto, frango tikka, presunto de frango… Antes de chegar aqui nunca achei que havia tantas formas de preparar uma galinha.
E tenho que agradecer tanto a Ganesha quanto a Alá pelo fato de que nenhum deles cismou que os frangos são sagrados ou impuros. Desde que cheguei aqui essa tem sido minha única fonte de proteína.
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Que delícia de texto! Em poucas linhas uma viagem maravilhosa e divertida pela populosa india. Confesso que despertou em mim uma vontade incrível de ir me aventurar na india também e passar apuros com tais condimentos. Como perseguidora de pimentas insaciável, acredito ter melhor sorte. Seguirei com objetivo de me testar em tal situação e me sentir tão grata pelo frango quanto a autora deste texto.
Isso é engraçado… com o perdão das desinterias por aí. Eu comentei com o Rafa no Face que fui a um restaurante indiano aqui em BH e ele falou da saudade do feijão tropeirão. Comi tudo que podia com o máximo de pimenta possível e suei como azulejo de sauna. A gente se diverte com o que é diferente ou está longe. Parabéns pelo blog. Abraços!
Marco Antônio Astoni