As histórias macabras de Cracóvia e o lado mais sombrio da Polônia

Na Idade Média, a morte era parte do cotidiano das pessoas. Criminosos eram executados em praça pública de maneira cruel e espetacularizada. Pessoas eram torturadas nuas nas portas das Igrejas por cometer delitos como ter relações sexuais fora do casamento e os carrascos e forcas eram figuras recorrentes nas ruas das cidades medievais da Europa.

Com um dos centros históricos mais antigos do continente e que escapou ileso aos bombardeios da Segunda Guerra, os becos e ruelas de Cracóvia preservam seus fantasmas, casos bizarros e histórias apavorantes que se passaram por ali há muito tempo – ou em um passado nem tão distante assim. Esse lado sombrio da cidade é o tema do roteiro guiado Cracóvia Macabra, um free walking tour que me ensinou algumas curiosidades sobre a cidade e que agora eu conto para vocês.

Karol Kot, o Vampiro de Cracóvia

Em setembro de 1964, o primeiro de uma série de crimes que só seriam solucionados dois anos depois aconteceu em Cracóvia. Uma senhora foi apunhalada pelas costas quando saía da igreja, mas sobreviveu. No mesmo mês, outra velhinha foi esfaqueada em circunstâncias muito parecidas quando descia do bonde. Outro ataque que não resultou em morte. Mas a primeira vítima fatal do estranho serial killer que assombrou as ruas de Cracóvia naquela época não tardou a vir: seis dias depois do segundo ataque, uma senhora foi seguida da igreja até a Jane Street e esfaqueada até a morte. Dessa vez o assassino tomou cuidado de não errar e mirou o coração.

O sucesso pareceu acalmar a sede de sangue de Karol Kot, um jovem polonês que poderia muito bem ter saído de um livro de Stephen King. Desde criança, apresentou um estranho fascínio por temas mórbidos. Antes de testar seus métodos assassinos em humanos, Karol costumava caçar e matar pequenos animais e beber seu sangue, hábito que rendeu-lhe o apelido de Vampiro de Cracóvia. Ele também gostava de estudar a anatomia humana e tinha uma grande coleção de armas brancas e objetos de tortura. As armas de fogo também faziam parte de seus interesses: Kot tomou aulas de tiro e se tornou próximo de seu instrutor.

Foto: Arquivo

Ele só atacou outra vez em 1966, quando esfaqueou até a morte um menino de 11 anos que participava de um campeonato de tobogã. Dois meses mais tarde, foi a vez de uma garota de 8 anos. Ele a agarrou descendo as escadas de sua casa para pegar cartas na caixa de correio e desferiu 8 golpes de faca em sua barriga, peito e costas. Quando ele fugiu, a menina ainda conseguiu voltar para casa e ser levada ao hospital, onde os médicos salvaram sua vida.

Além das mortes por facadas, Kot também apreciava o envenenamento. Ele colocava arsênico nos copos dos bares que frequentava na esperança de que alguém fosse usar depois e deixava garrafas de cerveja envenenadas em lugares populares de Cracóvia. Com esses intentos, no entanto, Kot nunca teve sucesso. Ele foi preso no mesmo ano e nunca negou as acusações. Em uma carta, afirmou que se considerava um assassino, mas não uma má pessoa, uma vez que ele sentia que buscava apenas satisfação pessoal e preencher um sentimento de dever. Foi condenado à morte e executado em 1968.

Hannibal Lecter polonês

No início de janeiro de 1999, o capitão Capitão Mieczyslaw M. teve que encerrar o dia de trabalho mais cedo porque alguma coisa havia entupido as turbinas de seu barco “Moose”. “Maldito lixo do Vístula”, pensou, enquanto dispensava a tripulação. Era inverno e, na Polônia, o sol se põe pouco depois das quatro da tarde, por isso ele teria que lidar com o problema na manhã seguinte.

Com a ajuda de um mecânico, ele tirou o que impedia a embarcação de funcionar: pele humana. Atordoado, o capitão logo pensou que a turbina havia sido a responsável pela mutilação e esfolamento de alguém, mas a verdade logo se tornou evidente. Eles estavam diante de um caso de assassinato frio e cruel. Alguns dias depois, os esgotos que fluíam para o Vístula despejaram no rio um pedaço de perna humana vestida em uma calça. A vítima não demorou a ser identificada. Era Kassia, um jovem estudante de Estudos Religiosos que havia desaparecido sem pistas no ano interior.

A personalidade da vítima dificultou as investigações. Brilhante, porém recatada, Kassia não tinha muitos amigos e não falava sobre sua vida pessoal. Na faculdade, ninguém a conhecia, ninguém sabia seus interesses e hábitos ou teria ideia de onde ela poderia ter ido no dia da sua morte. A polícia manteve o caso em segredo por seis meses e pouquíssimas informações foram publicadas nos jornais locais.

A lista de suspeitos era extensa, e cada um foi riscado por falta de provas ou impossibilidade de ter participado do crime. Tudo o que a polícia sabia era que estava lidando com um caso extremamente planejado, algo próximo a um crime perfeito; que o crime teve motivação sexual e que é provável que o assassino tivesse uma relação especial com a vítima.

Extremamente metódico, o assassino usou a técnica perfeita para arrancar a pele da menina e não deixou rastros: à parte da pele e da perna, nenhuma outra parte do corpo de Kassia foi encontrada. As investigações foram interrompidas em 2000 por falta de provas e retomadas em 2012, quando novas técnicas de criminalística reacenderam as esperanças de solucionar o caso. De uma coisa os detetives têm certeza: o assassino de Kassia nunca atacou outra vez. Mas isso não os deixa tranquilos. Assassinos em série e psicopatas às vezes ficam adormecidos por anos até que a sede de morte os coloque nas ruas outra vez.

Forca potente

Quando alguém morria enforcado, o sangue da pessoa acabava fluindo para as extremidades do corpo. Quando o sangue flui para certas extremidades, algumas partes se tornam, digamos, protuberantes. Por isso, se acreditava, na Idade Média, que as forcas funcionavam como algum tipo de viagra sobrenatural. Não foram raros os casos de forcas roubadas para esse fim em Cracóvia, incluindo de grandes personalidades e membros da nobreza local.

A Dama de Negro

No século 16, Bárbara, uma viúva de apenas 20 anos, de família abastada e beleza incomparável, se envolveu com o príncipe e herdeiro ao trono polonês, Segismundo Augusto III. A família do moço não aceitou muito bem a relação, mas eles acabaram se casando e ele se tornou rei. Mas ninguém entrava pra família real na Idade Média sem despertar a fúria de gente poderosa (e às vezes nem no século 20). Bárbara foi envenenada aos 30 anos, dizem que por mando da sogra. E seu fantasma, se acredita, ainda ronda o prédio do Castelo de Nesvizh, onde hoje funciona a prefeitura da cidade.

Free tour Cracóvia Macabra – Serviço

O roteiro guiado Cracóvia Macabra sai todos as sextas e domingos, às 18h30 entre novembro e fevereiro e todas as terças, quintas, sextas e sábados às 20h30, entre março e outubro. O tour é grátis, mas se espera que os participantes deixem uma gorjeta ao guia. O passeio dura 1h20 e precisa de pelo menos um grupo de sete pessoas para acontecer. Há grupos em espanhol e em inglês. O ponto de encontro é entre a Porta de São Florian e a Barbacana, no centro de Cracóvia. Site oficial.

Vai viajar? O Seguro de Viagem é obrigatório em dezenas de países da Europa e pode ser exigido na hora da imigração. Além disso, é importante em qualquer viagem. Veja como conseguir o seguro com o melhor custo/benefício e garanta promoções.

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones e no Youtube. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

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Natália Becattini

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