A Eslováquia é um país que dificilmente entra de primeira na lista de quem pensa em fazer um mochilão pela Europa. As capitais ao redor de Bratislava parecem ser muito mais atraentes: Praga, Viena e Budapeste… De fato, são mais interessantes, mas isso não é motivo para riscar a Eslováquia dos planos. Pelo contrário, é um país rico em história e que merece pelo menos uma passadinha do viajante.
Por exemplo, a minha estadia em Bratislava (leia aqui um roteiro completo do que conhecer lá!) – que foi mais longa do que a da média das pessoas: três dias – serviu para que eu, além de visitar lugares bonitos e provar comidas e bebidas diferentes, aprendesse coisas novas sobre esse país, que é tão novo, mas ao mesmo tempo tão antigo.
Listo aqui cinco curiosidades que descobri sobre a Eslováquia:
Por volta de 1100 d.C., a maior parte do território da Eslováquia foi anexada pelo Reino da Hungria. Ao longo dos anos, o território foi se desenvolvendo com a construção de castelos, cidades e até mesmo uma universidade foi fundada, em 1465, pelo rei Matias Corvino (que é famoso, se você visitar Budapeste vai ver um monte de coisas sobre ele).
Enfim, lá para o século 16, com as invasões do Império Otomano e a ocupação de Buda, a capital do Reino Húngaro foi transferida para Presburgo (que era o nome húngaro de Bratislava).
Ao se tornar parte da monarquia de Habsburgo, a cidade ganhou um novo status. Para começar, tornou-se sede da coroação dos reis: de 1536 a 1830, foram onze reis e rainhas coroados na Catedral de São Martinho, que está de pé até hoje no centro histórico de Bratislava.
Não foi um período exatamente de paz, entretanto. Além da guerra contra os turcos (a cidade no final das contas nunca foi invadida), também houve inundações, pragas, revoltas anti monarquia e reforma religiosa.
Ainda assim, no século 18, durante o reinado da poderosa Maria Teresa, da Áustria, Presburgo tornou-se uma das cidades mais importantes do território: a população triplicou, assim como a vida cultural e os palácios.
Mas tudo que é bom tem seu fim e, com a saída dos turcos da Hungria, a cidade eslovaca foi perdendo importância até deixar de ser a capital do reino, em 1848.
Tem gente que chama a Eslováquia e a República Tcheca até hoje de Tchecoeslováquia, nome que os dois países tiveram até 1992, quando eram unificados. Essa confusão de guerras e mapas em constante mudança na Europa faz com que muita gente se esqueça que a separação dos dois países (assim como sua união, em 1918) foi pacífica e feita em comum acordo.
Apesar de pequenas diferenças, as línguas e culturas deles são muito parecidas – por isso, afinal, que resolveram se unir após a Primeira Guerra Mundial.
Claro, essa união não foi forte o suficiente para resistir à Alemanha Nazista. Em 1939, a Tchecoslováquia foi desmembrada e a Eslováquia passou a ser dominada por um fascista, num regime comandado nos bastidores pela Alemanha. Nesse período, mesmo com a resistência eslovaca, a maioria dos judeus que vivia no território foi deportada para campos de concentração.
Após a Segunda Guerra, a Tchecoeslováquia voltou a existir e milhares de descendentes de húngaros e alemães foram expulsos do território. A independência do país durou pouco. Em 1948, a União Soviética aumentou muito sua influência na região e, em 1968, depois da Primavera de Praga (que também ocorreu em Bratislava), o país foi ocupado de vez pelas forças socialistas.
Em 1989 rolou a Revolução de Veludo, uma revolução pacífica que conseguiu dar fim ao regime comunista no país. Em 1992, os governos começaram as discussões para a separação da Tchecoslováquia e, no primeiro dia de 1993, Eslováquia e República Tcheca tornaram-se independentes, separação pacífica que muita gente chama de Divórcio de Veludo, consonante ao nome da revolução. Os países ainda se consideram “irmãos”.
É injusto comparar Praga com Bratislava. Enquanto a primeira é imponente, com suas construções belas e grandiosas, Bratislava se contenta com um pequeno centro histórico e um castelo para chamar de seu. A maioria dos turistas acaba passando um dia só em Bratislava, no máximo dois para aproveitar a noite, muitas vezes indo atrás das loucuras retratadas no filme Eurotrip. Já Praga rende bem mais dias de viagem.
Mas há um motivo por trás disso, um motivo triste. Lembra que eu contei que Bratislava, na época Presburgo, foi a capital de um Império? Porém, infelizmente, o domínio soviético destruiu mais a cidade do que as duas guerras mundiais anteriores. O que aconteceu foi o que muita gente chama de “terrorismo cultural”.
O governo soviético decidiu que Praga seria a cidade mais cultural e turística e Bratislava a cidade mais moderna e industrial. Resultado: dois terços do centro histórico da cidade foram completamente destruídos, incluindo quase todo o quarteirão judeu, para a construção de uma grande avenida, que corta o centro e passa atrás da Catedral de São Martinho e de uma ponte toda modernosa, que foi apelidada de UFO, por sua semelhança com um disco voador.
A atração mais fotografada de Bratislava não é um prédio histórico, mas uma estátua curiosa, de um operário para fora de um bueiro. Chamado Cumil, esse cara está ali desde 1997, sem nenhuma justificativa. Ou seja, não existe explicação real para a estátua, só que fica ali numa esquina, de boas, e já foi até danificada por motoristas desavisados.
Além do Cumil, você também encontra em Bratislava um soldado de Napoleão encostado num banco da praça central da cidade; um morador de rua famoso no início do século 20, chamado Schone Nac; e um paparazzi numa esquina da praça central.
Essa curiosidade eu já sabia antes de visitar a Eslováquia, mas a guia do meu Free Walking Tour só confirmou a tradição. Meu conselho para você, se for mulher e estiver pensando em aproveitar o feriado da páscoa para visitar o país, é: não faça isso. A tradição eslovaca para o feriado é que os homens se reúnem numa missão de jogar água gelada (lembrando que essa época do ano ainda é beeeem fria na Europa) e sair dando varadas (que eles fazem com uma varinha de madeira decorada com fitinhas) nas moças solteiras.
Detalhe, eles vão de casa em casa e as arrastam para fora para que elas participem dessa incrível “homenagem”, que supostamente traz boa sorte e saúde. Ahhh, detalhe: é esperado que em troca desse maravilhoso tratamento, as moças deem para os rapazes ovos decorados e docinhos #ahamclaudia
Perguntei para a guia se ela gostava da tradição. “Não, detesto. No dia da páscoa fico trancada em casa e não abro a porta para ninguém”. Para vocês verem que essa não é só uma opinião de quem é de fora.
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o pais se encontra em conflitos ou em paz ?
Oi Wagner,
Em paz!
gostei muito das informações
Estive em Bratislava em setembro de 2016, uma capital com jeitinho de interior. Segura para andar em suas ruas antigas e modernas avenidas. Fiquei 2 noites e achei suficiente para conhecer o que pretendia. Nas 2 noites fui a um bar cubano maravilhoso que fica na rua sem trânsito de carros, próximo ao portão de acesso à antiga cidade murada.
Mas o que torna a cidade inesquecível também é a beleza espetacular nas mulheres eslovacas. Como todas do leste europeu, são lindíssimas.
Não deixe de conhecer, é pertinho de Viena e Budapeste.
=D
e o futebol ai como é? tem campeonato? saíram uns jovens do fluminense do Rio de Janeiro para jogar ai, tem estádios, times, campeonatos ai?
Eu gostava de saber comidas e danças ou musicas dela Eslováquia ,bem um pouco da sua cultura,e figuras públicas importantes.Ja tentei procurar em todo o lado e não encontro nada.Acha que me pode ajudar?
Oi Patricia,
Infelizmente não. Tudo o que eu sei sobre o país já está escrito aqui no blog
Oi Luiza muito bom seu post!
Uma curiosidade: só com o inglês dá pra se virar bem nestes países?
Dá sim Eulália
Eu só falo inglês e estava sozinha.
Essa tradição da páscoa seria engraçado se não fosse trágico! Mas eu ri kkkkkk