Como todo bom sommelier de chocolate amador, eu já salivo só de ouvir as palavras “chocolate” e “belga” juntas numa mesma frase, apesar de ter experimentado pouquíssimas vezes o doce de cacau feito na Bélgica. Mesma coisa com o famosíssimo chocolate suíço, delicioso no mundo das ideias. E se eu contasse pra você, companheiro ou companheira que também aprecia chocolate, que o equatoriano é ainda melhor que os seus primos europeus? Eu também não acreditava nisso. Apesar de ficar feliz com qualquer bombom desses normais que a gente compra na padaria, eu sempre achei que chocolate fino de verdade não poderia ser made in América do Sul.
Mas aí eu ouvi a história de Gonzalo Chiriboga.
Esse cara é um poderoso empresário equatoriano do ramo dos doces, que viajava com seu irmão pela França em 2005. Numa lojinha de chocolates em Paris, pediu que lhe mostrassem o produto mais chique que tinham por lá. Os irmãos ficaram maravilhados com o sabor, diferente de tudo que já tinham comido, e quiseram saber mais sobre a origem daquele chocolate. O rapaz da loja veio com a surpresa: aquele doce inigualável tinha sido produzido a partir de um cacau especial que vinha de Guayaquil, no Equador, a terra de origem dos Chiriboga.
Foto: Divulgação Republica del Cacao
Essa é a lenda da origem da República del Cacao, uma fábrica de chocolates finíssimos produzidos no Equador com cacau latino-americano e de maneira sustentável e artesanal. Quem desbravar o centro de Quito provavelmente dará de cara com uma das lojas da marca por lá, e pode se aventurar a provar os chocolates com sabor de pétalas de rosas, chips de banana ou pimenta. Nas embalagens, há sempre a informação de qual é o tipo e a porcentagem de cacau usado na fabricação, e uma descrição em gráficos das notas de sabor, que pode ser frutado, amadeirado, ácido, torrado, picante, amargo, etc.
A produção dos chocolates começou em 2007, para feiras especializadas na Europa. A primeira loja veio em 2009. Hoje em dia, são quase 20 lojas espalhadas pelo Equador, e uma produção de milhares de toneladas de barrinhas que misturam sabores.
Fui ao Equador com um grupo de jornalistas e blogueiros de viagem, e pudemos aproveitar uma degustação com as especialidades da República del Cacao. Eu, que adoro um sabor diferentão, gostei bastante dos amargos, com mais de 80% de cacau. Mas, para quem cresceu comendo bombom da Garoto no Brasil, acostumar-se com os sabores muito exóticos é difícil mesmo. Mesmo assim, no acervo da marca existem os chocolates finos mais agradáveis ao paladar brasileiro.
Foto: Divulgação Republica del Cacao
Quer entender por que o chocolate brasileiro é tão doce, por que a Europa tem a fama dos melhores chocolates do mundo ou a história dos maias e astecas com o cacau? Então leia nosso post sobre a fantástica história do chocolate!
Descobrir o chocolate equatoriano foi uma grande surpresa para mim. Assim como os irmãos Chiriboga, eu não fazia ideia de que havia uma qualidade de cacau tão especial lá. Trata-se de uma cruza do cacau da Amazônia Equatoriana com uma variedade nativa da América Central. O resultado são frutas vermelhas e amarelas de um sabor bem diferente.
Foto: Everjean/Creative Commons/Flickr
Com uma matéria-prima tão única, é claro que os equatorianos iam dar um jeito de explorar e mostrar para o mundo o que há de melhor por lá. Mas o que eu achei incrível é saber que a indústria cacaueira equatoriana e toda a cadeia produtiva de chocolates gourmet são super preocupadas com as cooperativas de agricultores. Pelo menos é a impressão que passam.
Hoje, mais de 100 mil famílias equatorianas vivem do cultivo do cacau e as condições climáticas do país são ideais para o plantio. Disso os maias, que viviam na região há 6 mil anos, já sabiam. Há indícios de que a fruta era consumida desde essa época.
Visitamos Quito a convite da Gol, que em dezembro de 2018 inaugurou uma rota de voos diretos de São Paulo para lá. São três voos semanais em cada direção: saem toda terça, quinta e domingo, às 19:25, da capital paulista. Já o trecho Quito – São Paulo é toda segunda, quarta e sexta, com saída 00h20.
O costume é milenar, mas a roupagem é, ao mesmo tempo, moderna e sustentável. A empresa Pacari, fundada em 2002 e vencedora de centenas de prêmios (inclusive o International Chocolate Awards, o Oscar do setor), orgulha-se em dizer que produz cacau orgânico e biodinâmico, sem fertilizantes e nem produtos químicos. Só natureza mesmo. E muito trabalho.
É comum que as indústrias mais chiques, como a Pacari, paguem “o dobro” para os cacaueiros, para garantir que haja dignidade e valorização do trabalho desde a sua origem. É claro que isso afeta o preço: os chocolates gourmets do Equador são bem caros. Mas são bem únicos também. Você acaba pagando pela experiência.
Chocolate To’ak. Foto: Divulgação
Ok, às vezes é até meio exagerado. O To’ak Chocolate, feito com um cacau enriquecido e envelhecido num processo parecido com o do uísque, custa os olhos da cara – até US$ 345. Isso um tabletinho de 50 gramas, do mesmo tamanho desses que vendem no sinal. Uma barrinha de 100g da República del Cacao, por exemplo, sai por menos de US$ 8. Caro, mas vale o investimento, e te transforma num verdadeiro conhecedor de chocolates finos por aí.
Da próxima vez que alguém te oferecer um chocolate belga, já pode estufar o peito e dizer que prefere o equatoriano.
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Estive no Equador ano passado e tive a oportunidade de provar os chocolates! São realmente muito bons Otávio! Ainda guardo as embalagens Pacari! rs
Tem que guardar mesmo, pra gente se lembrar sempre do quanto pagamos hehe
Sou sua fã.
<3
Uma desculpa pra eu convencer a minha esposa a viajar mais pela América do Sul. Tomara que ela não veja esse comentário.
Ou tomara que ela VEJA e também se encante pelos chocolates do Equador rs!