O espaguete à bolonhesa não existe – entenda e veja a receita original

No mundo quase nada é consenso, exceto, claro, a culinária italiana. Amada em todos continentes, a cozinha dos nonnos e nonnas é sinônimo de coisa boa. E o espaguete à bolonhesa parece ser uma unanimidade ainda maior – já ganhou até o título de prato preferido da criançada.

Isso deve ser ótimo para o ego do povo de Bolonha, dono da comida mais amada do mundo, certo? Até seria, não fosse um, digamos, probleminha: o espaguete à bolonhesa não existe. É isso mesmo que você leu, o espaguete à bolonhesa, ou seja, feito à moda de Bolonha, está nos cardápios do mundo inteiro, do Japão ao Brasil. Menos em Bolonha.

A conversa sobre o prato, inclusive, foi uma das mais comuns e intensas que tivemos com os italianos com quem conversamos por lá, comparável somente ao papo sobre a final da Copa do Mundo de 94, entre Brasil e Itália (não, eles não odeiam o Baggio).

Veja também: Uma aula de culinária italiana em Bolonha
Os nove segredos de Bolonha, na Itália

A origem do macarrão à bolonhesa

Em geral, os bolonheses fazem questão de deixar claro que a massa que o mundo todo come (e ama) não é feita de acordo com a receita típica de Bolonha. Pior – é muito inferior a essa. Não raros são os casos de italianos que, ao saírem do país, tentam encarar o famoso espaguete da cidade deles, para logo concluírem: “É muito ruim”.

Quem faz o percurso inverso também se impressiona com a ausência de um bom espaguete à bolonhesa em Bolonha. Pensando nisso, alguns restaurantes da Itália até começaram a fazer o prato, mas só mesmo porque um monte de turistas acha que se trata de uma comida típica.

É, ele não existe (Foto: JIP, Wikimedia Commons)

O primeiro problema é com o tipo de massa escolhido para fazer o prato – o mundo inteiro usa espaguete; os italianos acham que o mundo inteiro está louco. Lá o prato é feito com tagliatelle, massa cortada em tiras e típica da Emília Romana, região da Itália onde fica Bolonha.

O molho bolonhesa original

O molho também dá polêmica. Em 2010, uma associação de fazendeiros italianos comentou que “o termo bolonhesa é o mais usurpado da cozinha italiana, utilizado internacionalmente para indicar molhos de procedência duvidosa condicionados em latas ou caixas”. Eles iniciaram até uma campanha para ensinar aos cozinheiros do mundo como é o verdadeiro Ragù Alla Bolognese, molho que todos juram saber fazer, mas que os italianos garantem que não.

O molho bolonhesa original leva cenoura, bacon e  vinho, entre outros ingredientes. E até a forma de servir é diferente: em muitos lugares do mundo é comum colocar o molho numa panela, macarrão na outra, ficando a cargo de quem vai comer misturar tudo no prato. Costume que pode ser bom ou ruim (depende do seu gosto), mas definitivamente não é italiano

Como qualquer comida típica, é óbvio que a forma de fazer o ragù alla bolognese, que seria o nosso espaguete à bolonhesa feito realmente pelos bolonheses, varia ligeiramente mesmo lá, onde cada pessoa tem seu método.

Para tentar resolver a questão, em 1982 a Câmara do Comércio de Bolonha patenteou a receita do macarrão à bolonhesa italiano. Então, se você quer comer um prato realmente à bolonhesa, basta seguir os passos abaixo. E você pode continuar comendo (e gostando) do tradicional espaguete à bolonhesa.

Só lembre-se que de Bolonha ele só tem o nome.

Legítimo macarrão à bolonhesa (Fot0: Ivan Vighetto, Wikimedia Commons)

Massa Bolonhesa: receita original

Ingredientes:

  • 300 gramas de carne moída;
  • 150 gramas de bacon;
  • 50 gramas de cenoura;
  • 50 gramas de aipo;
  • 50 gramas de cebola;
  • 300 gramas de molho de tomate;
  • ½ xícara de vinho branco seco;
  • ½ xícara de leite integral;
  • Azeite ou manteiga, sal e pimenta;
  • Caldo de Carne.
  • Modo de preparo do molho à bolonhesa

Como fazer o verdadeiro macarrão à bolonhesa italiano

Prefira uma panela de barro ou de alumínio grosso. Corte o bacon em cubos e depois pique com uma faca mezzaluna. Misture 3 colheres de sopa de azeite com 50 gramas de manteiga e os vegetais picados.

Adicione a carne moída e misture com uma colher de madeira.  Adicione o vinho e mexa gentilmente até que o líquido evapore.

Adicione o molho de tomate, cubra e cozinhe lentamente, por duas horas. Quando necessário, adicione caldo de carne e, no final, o leite, para tirar um pouco da acidez do tomate. Tempere com sal e pimenta. Fonte da receita aqui, ó.

Molho pronto, não se esqueça: nada de espaguete. Se o tagliatelle for difícil de achar, siga a dica da Rachelle, blogueira norte-americana que a gente conheceu em Bolonha e que passou um mês por lá. No blog ela não só dá a receita como também sugere substitutos para o tagliatelle que não matariam um italiano de raiva. Para ela, uma boa é usar macarrão tipo fusilli.

O 360meridianos esteve em Bolonha a convite do projeto BlogVille Emiglia Romana, que reúne blogueiros do mundo todo para comer, sentir e viver como um local na Itália.

Imagem destacada: Dan Brian Gerona, Wikimedia Commons

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Olá, boa tarde! Sou apaixonada pelo blog de vocês, rsrs. Meus posts prediletos são sobre a Índia, lugar que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente e ao mesmo tempo que odiei, ameeei de paixão, rsrs.
    Hoje estava lendo o post sobre o espaguete á bolonhesa, achei super interessante. E aproveitando o assunto queria tirar algumas dúvidas e ver se vocês que viajam muito também perceberam isso. Morei um ano na Suíça e nunca ouvi falar sobre a limonada suíça, na verdade ela não existe por lá, ou pelo menos nos lugares onde passei. Também estive três meses na França e um certo dia ao pedir uma sobremesa, tive a surpresa de que o petit gâteau não é exatamente o que o brasileiro pensa que é, se você pedir dessa forma eles vão te servir um cupcake, aí alguns amigos me falaram que eu deveria pedir moelleux au chocolat ou fondant au chocolat, aí sim veio o ''petit gâteau'' rsrsrs. Vocês tiveram alguma experiência parecida? sabem alguma coisa sobre isso?
    No momento estou morando em Kuala Lumpur e foi ao vir pra cá que descobri o blog de vocês, estava procurando dicas sobre o que fazer de bom aqui e o único lugar onde encontrei boas vibrações sobre KL foi no blog de vocês, os outros sempre diziam que não valia a pena conhecer. Eu estou amando a cidade.
    Beijooos e quando vierem pra cá novamente dêem um alô. rsrs

    • Sua impressão da Índia é igual a nossa, mistura amor e ódio. Acho que é bem isso mesmo, Paolla. Essa coisa das comidas parece ser assim mesmo. Dizem que a torta holandesa não existe na Holanda, que várias pizzas que seriam de determinadas regiões da Itália não existem também, (etc). O bife à milanesa é outro que não existe em Milão, pelo menos não daquele jeito que o mundo se acostumou. Dá uma olhada nesse texto aqui:

      https://www.360meridianos.com/especial/comida-tipica-italiana

      Nós adoramos KL, de verdade. Nunca entendi porque tanta gente fala mal da cidade, que é incrível, assim como o país. Por enquanto não temos previsão de voltar aí, mas quem sabe né? Abraço!

  • hahaha, que demais! uma vez eu ouvi falar que os italianos odeiam essas invenções nossas do tipo pizza de chocolate e afins. não sei se é verdade, mas diante disso tô começando a acreditar.

    • Pois é, Nadja. Já ouvi falar isso mesmo. Só que nesse caso eles é que estão errados: as invenções brasileiras com as pizzas são ótimas. hahaha

      Abraço.

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Publicado por
Rafael Sette Câmara

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