“Ninguém jamais teve tantas aventuras quanto Miss Bird”. A frase, estampada no livro A Lady’s Life in the Rocky Mountains, procura resumir o que foi a vida de uma das maiores viajantes do século 19. Mas o começo da história de Isabella Bird não foi nada fácil.
Nascida em 1831, no condado de Yorkshire, Inglaterra, a menina pequena de saúde frágil passou os primeiros anos sofrendo de diversas doenças. Mas foram justamente os males físicos que, mais tarde, a dariam o impulso que ela precisava para se transformar em uma viajante incansável, uma observadora sagaz dos povos e das culturas que conheceu e uma escritora talentosa.
Aos 19 anos, Isabella Bird precisou fazer uma cirurgia para retirar um tumor na coluna. A operação não foi muito bem sucedida e ela passou os anos seguintes sofrendo com as sequelas, insônia e depressão. Como remédio para os males do espírito, o médico recomendou uma viagem de navio e, aos 23 anos, seu pai – um clérigo da igreja local -, deu a ela 100 libras e disse que poderia ir para onde quisesse com o dinheiro.
Na época, 100 libras era um dinheirão, então ela resolveu cruzar o oceano e passar alguns meses no Canadá e nos Estados Unidos. Com surpresa, descobriu que as dores e a dificuldade para dormir não a afligiam tanto fora quanto em casa. Ao retornar, usou as cartas que ela havia escrito para a irmã como base para escrever o seu primeiro livro de viagem, intitulado The Englishwoman in America.
O livro vendeu bem e foi o começo de uma carreira de escritora que iria financiar suas viagens para o resto da vida. Mas aquela foi apenas a primeira de uma longa vida de exploração que acabou por colocar Isabella no hall das Grandes Viajantes. Após a morte de seu pai, ela e sua irmã se mudaram para Edimburgo, na Escócia, e o lugar se transformou em uma base para as viagens curtas que ela fez durante a década seguinte.
Isabella Bird visitou a América do Norte mais algumas vezes e chegou também a conhecer o Mediterrâneo. Mas foi em em 1872, aos 41 anos de idade, que ela viu sua vida mudar novamente quando, em uma parada da viagem de navio entre São Francisco e a Nova Zelândia, ela desembarcou no Havaí.
A visita às ilhas não estava nos planos, mas ela acabou ficando lá por seis meses. Nesse tempo, ela passou a viver como uma nativa do arquipélago que, na época, estava longe de ser tomado por resorts e da infiltração da cultura estadunidense.
Aprendeu a cavalgar “como um homem”, abandonando a sela lateral que lhe dava dores na coluna, e escalou o topo de alguns dos principais vulcões havaianos. A viagem ficou registrada no livro Six Months in the Sandwich Islands, publicado no ano de 1875.
Mas Isabella Bird ainda não pensava em voltar para casa. Ao retornar para São Francisco, ela passou mais um longo período viajando pelos Estados Unidos e se metendo em algumas aventuras memoráveis que, mais tarde, contou no livro A Lady’s Life in the Rocky Mountains.
Entre suas peripécias mais marcantes, estavam cavalgar durante uma nevasca, passar meses presa na neve na companhia de dois jovens e até viver um romance com um fora-da-lei caolho, conhecido na região como Rocky Mountain Jim.
De lá, Bird seguiu para o Japão, sua porta de entrada para a Ásia, onde ela passou um tempo entre os integrantes da tribo Ainu, habitantes originais das ilhas Hokkaido e Honshū, de cultura não-japonesa. Depois disso, ela também explorou Hong Kong, Cantão, Saigon, Cingapura e Malásia e, só então, retornou para a Inglaterra, onde chegou como uma escritora de viagens já reconhecida no país. Pouco tempo depois de sua chegada, a irmã de Isabella morreu de febre tifoide.
Aos 49 anos, ela se casou com o médico John Bishop, que havia acompanhado a irmã dela durante a doença. Na cerimônia, usou um vestido preto, talvez um sinal de protesto por não se conformar com a vida de esposa. Apesar disso, eles viveram juntos um casamento feliz. O médico chegou a afirmar que tinha “apenas um extraordinário rival no coração de Isabella, que são os planaltos da Ásia Central”.
Cinco anos mais tarde, ele também morreu e Isabella viveu seu luto ao mesmo tempo em que voltava a sonhar com a estrada. Sem ter muito mais o que a prendesse em casa, ela começou a planejar uma nova viagem.
Dessa vez, o destino escolhido foi a Índia, onda ela se dedicou a criar o Henrietta Bird Hospital, em Amritsar, e o John Bishop Memorial Hospital, em Srinigar. Depois, passou a explorar os estados Caxemira e Laddakh, na fronteira com o Tibet. Nessa viagem, o cavalo que a transportava quebrou uma das patas na travessia de um rio e ambos caíram. O animal acabou se afogando e Bird quebrou duas costelas, precisando retornar para Shimla, capital de Laddakh.
Lá, conheceu o Major Herbert Sawyer, que estava de partida para a Pérsia, atual Irã. Ela resolveu que iria com ele. Juntos, passaram os meses seguintes cruzando o deserto até Tehran, onde chegaram à beira da morte após contrair febre tifoide – sim, a mesma doença que havia matado sua irmã anos antes. Uma vez lá, separaram os caminhos e Isabella passou a liderar sua própria caravana, com a qual ela viajou por mais seis meses, cruzando o Curdistão e a Turquia antes de retornar mais uma vez ao Reino Unido.
Por ali, ela era ainda mais conhecida nos meios intelectuais. Em reconhecimento a suas viagens e à grande contribuição que seus livros deram de informações geográficas, culturais, políticas e sociais dos lugares pelos quais ela passou, Bird foi a primeira mulher a fazer parte da Real Sociedade Geográfica, em 1882. Ela também teve a oportunidade de conhecer o Primeiro Ministro britânico e de falar contra as atrocidades sofridas pelos armênios no Oriente Médio.
Mas ela não conseguiria permanecer parada por muito tempo. Em 1894, aos 63 anos, arrumou as malas e partiu novamente rumo a Yokohama. Passou meses percorrendo o Japão e a Coreia, mas a Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895) e a ocupação japonesa na Coreia mudaram os planos.
Fotos tiradas por Isabella Bird em sua última passagem pela China
Ela resolveu ir até a Machúria, região no nordeste da China, para fotografar os soldados chineses no front de batalha. Depois, retornou à Coreia para fotografar a devastação causada pela guerra. E seguiu de barco pelo rio Yangtze até a província de Sichuan, onde ela viu mais uma vez sua vida por um fio: um grupo de moradores locais a atacou e a chamou de “forasteira do demônio”. Eles a trancaram no último andar de uma casa e colocaram fogo no lugar. Por sorte, um grupo de soldados passava por ali e a salvou, sem que ela sofresse maiores ferimentos.
Ela seguiu para o Tibet, onde permaneceu até 1897. Sua última viagem foi ao Marrocos, em 1901, quando passou seis meses atravessando as Cordilheiras do Atlas. Mas ela nunca parou. Isabella Bird continuou escrevendo e dando aulas até ao fim da vida. Morreu em 1904, aos 73 anos, quando planejava uma nova viagem à China.
A Vida de uma Dama nas Montanhas Rochosas conta as impressões de Isabella Bird durante sua viagem às Montanhas Rochosas do Colorado, em 1873. O livro é uma compilação de cartas que Isabella Bird escreveu para sua irmã, Henrietta. Saiba mais aqui.
Em 1856, Isabella Bird publicou esse relato vivo sobre sua viagem aos Estados Unidos. Ele descreve de forma divertida as dificuldades e surpresas das duas viagens marítimas que partiram da Inglaterra até Halifax e, via terrestre, para Boston, Cincinnati e Chicago, e a energia e diversidade da sociedade americana. Saiba mais aqui.
Isabella Lucy Bird fez fama em seu tempo como a mais importante mulher viajantes do século 19 e com Six Months in the Sandwich Isles, livro no qual ela descreve sua viagem ao Havaí em 1873. A obra é considerada uma das mais importantes da literatura do Pacífico. Saiba mais aqui.
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Que história! Fico imaginando se ela teve os medos e receios que temos hoje em dia...
Olá Denise, eu também! E olha que naquela época acho que os riscos eram até maiores, né?
Obrigada por comentar! :)