Nas encostas da Sierra Nevada de Santa Marta, na Colômbia, um povo luta para preservar seu estilo de vida e alertar o mundo sobre os perigos da destruição ambiental. Este é o lar dos Kogi, um dos descendentes dos antigos Tayrona, uma das maiores civilizações pré-colombianas da América do Sul.
Eles chamam a si mesmos de “Irmãos Mais Velhos” e, nós somos os “irmãos mais novos” que eles devem educar. Dotados de uma sabedoria ancestral que define sua relação única com a terra, para eles, todo o planeta é uma entidade viva e sagrada da qual são herdeiros e guardiões.
Tímidos e autossuficientes, eles passaram anos evitando o contato com pessoas de fora da tribo, num esforço para manter sua cultura e modo de vida intocados. Nesse processo, foram habitar locais cada vez mais altos e frios da Serra Nevada de Santa Marta, regiões de difícil acesso para quem não domina os caminhos do mundo natural.
Mas, depois de séculos em isolamento, eles resolveram abrir suas aldeias e seus corações porque, acreditam, têm uma mensagem para nos passar: eles querem nos alertar que o planeta está doente e, quando ele adoece, todos nós adoecemos juntos.
Para os Kogi, a Sierra Nevada de Santa Marta é o centro do universo e a própria Mãe Terra. É ela quem dita as regras e códigos de conduta de sua sociedade. Detentores de um conhecimento profundo sobre a natureza e seus ciclos, eles vivem em harmonia com ela, desenvolvendo técnicas de agricultura sustentável que lhes permite a autossuficiência.
Um conceito central de sua cosmovisão é Aluna, uma espécie de consciência cósmica, que é a fonte de toda vida e inteligência, assim como a mente pensante que existe dentro da natureza.
É algo autoconsciente e vivo e, ao mesmo tempo, o mundo oculto de forças que governam a fertilidade da terra, facilitando o crescimento, o nascimento e a sexualidade. Aluna é a energia espiritual que torna todas as coisas possíveis.
Todo Kogi é responsável por fazer trabalhos espirituais por toda a vida. As mulheres desse povo se dedicam a tecelagem de bolsas. Assim como em outras culturas sulamericanas, o ato de tecer é a forma máxima de expressão desse povo e é uma metáfora para a passagem do tempo e para o pensamento.
As mochilas são usadas por eles e vendidas nas cidades da costa colombiana. Cada padrão e design incorporado nelas tem um significado específico que reflete a cosmovisão Kogi. Eles podem representar montanhas, rios, animais e outros aspectos de sua cultura e crenças.
Já os homens carregam seus poporos, uma cabaça usada para guardar o cal obtido a partir de conchas queimadas. O poporo sempre vem acompanhado de um bastão que é usado para transferir a cal para a boca enquanto eles mastigam folhas de coca.
Esse ato é uma prática meditativa que simboliza a fertilidade e a criação. Os Kogi acreditam que este ritual ajuda a manter o equilíbrio do mundo. Além disso, também ajuda a conferir energia para realizar os trabalhos diários e a combater a fadiga.
A educação entre os Kogi é predominantemente oral. Desde pequenos, as crianças são imersas nas tradições e práticas diárias de sua comunidade. A aprendizagem ocorre observando e participando das atividades cotidianas, como agricultura, tecelagem e cerimônias religiosas. Essa abordagem garante que as habilidades e conhecimentos sejam passados de maneira natural e integrada à vida diária.
Atualmente, grande parte deles também frequenta escolas indígenas, onde contam com um professor Kogi e outro responsável pelos ensinos do currículo oficial colombiano. Muitos Kogi têm apenas um conhecimento básico do espanhol, sendo a língua Kogi a mais utilizada entre eles.
Os Mamos e as Sagas, anciãos escolhidos e treinados desde muito novos para serem líderes espirituais, são vistos como detentores do conhecimento e da sabedoria, responsáveis por orientar as gerações mais jovens. Os mais velhos ensinam por meio de histórias, mitos e ensinamentos espirituais, enfatizando a importância de viver em harmonia com a natureza e seguir os caminhos ancestrais. Seus conselhos e bênçãos são considerados essenciais em todas as facetas da vida Kogi.
Apesar dessas práticas tradicionais, os Kogi enfrentam desafios na era moderna, como a influência externa e a perda de territórios. Isso coloca pressão sobre seu modo de vida e a capacidade de transmitir conhecimentos de maneira inalterada. Eles se esforçam para manter suas tradições, enquanto se adaptam e respondem às mudanças do mundo contemporâneo.
Os cerca de 20 mil Kogi vivem espalhados pela Sierra Nevada de Santa Marta, em locais como o Parque Nacional Tayrona, a trilha para a Cidade Perdida e a zona rural de Rioancho, um pequeno município na província de La Guajira.
Cada família possui uma ou algumas casas de barro espalhadas pela serra, e eles mudam de uma para outra de acordo com as necessidades ou a época do ano. As aldeias, como a de Tungeka, em Rioancho, servem apenas como local de reunião para cerimônias e ocasiões especiais.
Para visitá-los, em primeiro lugar é preciso se certificar que o passeio é feito de forma justa e responsável, dentro das diretrizes do turismo de base comunitária, que incluem o envolvimento e o benefício da comunidade.
Suas comunidades, em geral, só são acessíveis a pé ou de mula. Para acessá-las, contrate um guia local. Ele não apenas conhece os caminhos, mas também têm conhecimento sobre as práticas e tradições Kogi. Eles podem facilitar a comunicação e garantir que sua visita seja respeitosa e informativa.
Algumas áreas podem exigir permissões especiais para visitação. Seu guia local pode ajudar a organizar esses detalhes. Lembre-se de seguir todas as regras estabelecidas pelas comunidades Kogi e pelas autoridades.
A forma mais famosa de entrar em contato com os Kogis é pela trilha da Cidade Perdida, uma espécie de Machu Picchu colombiana, conhecida localmente como “Camino Teyuna”.
Construída por volta do ano 800 d.C., cerca de 650 anos antes da construção de Machu Picchu, esse pode ter sido um importante centro urbano da civilização Tayrona. Foi redescoberta em 1972 por caçadores de tesouros locais, o que deu início a uma era de exploração arqueológica e turística.
A trilha totaliza cerca de 44 km, ida e volta, e geralmente é percorrida em 4 a 6 dias. Os caminhantes passam por terrenos variados, incluindo selvas densas, rios e montanhas, com caminhos que podem ser íngremes e escorregadios. Durante o trajeto, a trilha passa por territórios indígenas, incluindo os dos Kogi, e alguns guias incluem noites de conversa e interação para conhecer mais sua cultura e conhecimento ancestral.
“Preparem-se para curtir o dia de hoje como um verdadeiro Rockstar”, disse o guia do…
Perdido nas águas turquesa do Caribe, o arquipélago de Guna Yala, ou San Blás —…
Nesse texto você descobre a história do Parque Vigeland em Oslo, na Noruega. Trata-se de…
Você já ouviu falar na Santeria Cubana? Mas é muito provável que você esteja familiarizado…
“Eu estabeleci um ‘foot ball club’ onde a maioria dos jovens de Sheffield podem vir…
Qual é a típica comida cubana? Bom, depende. “Em Cuba, a gente tem que sempre…