Livros e filmes que mostram que a África não é só miséria

Mais de um século depois que o personagem Tarzan apareceu pela primeira vez em uma revista de literatura, em 1912, o estereótipo de uma África desprovida de civilização, selvagem, pronta para ser salva pelo mundo ocidental e sem sistemas de organização social e de significação complexos ainda persiste na indústria cultural.

Ao lado desse, há também um segundo estereótipo de hectares e hectares devastados por pobreza e guerra. Graças a essas histórias únicas que são contadas sobre o continente, há uma ideia equivocada de que ali não existem metrópoles, classe média em expansão, sociedades complexas e felicidade, o que força um olhar sempre condescendente em direção ao continente. Por sorte, existem pessoas dispostas a contar outra história sobre a África e a nos mostrar que, apesar dos problemas – existentes, em maior ou menor grau, em qualquer sociedade -, há muito mais para descobrir ali. Veja alguns exemplos nesse post.

Leia também:
África, o continente invisível
O que eu aprendi com a África

Americanah, Chimamanda Ngozi Adichie

Embora grande parte da história de Americanah tenha como cenário os Estados Unidos, o livro acompanha a trajetória de um jovem casal nigeriano de classe média. A trama até aborda os problemas políticos e culturais da Nigéria, mas mostra que o país é muito mais que isso e discute os estereótipos comuns África, o racismo e as dificuldades pelas quais passa um imigrante ao expor as reflexões da protagonista durante sua adaptação em um novo país. Chimamanda é uma das minhas escritoras contemporâneas favoritas e esse livro vai te fazer questionar muitas ideias que damos como certas. Já falei sobre ele aqui.

A Confissão da Leoa, Mia Couto

Ataques de leões ameaçam a vida de mulheres em uma vila moçambicana. Um caçador enviado da capital chega ao local para dar conta das feras e se depara com uma série de intrigas, mitos e tradições ancestrais. De forma poética e metafórica, Mia Couto faz um bonito relato da opressão que sofrem as mulheres no antigo sistema patriarcal e de seu desejo por liberdade, as contradições da comunidade e a força dos costumes.

Binta e a grande ideia

Indicado ao Oscar em 2007 como melhor curta, esse mini documentário de Javier Fesser é parte do projeto El mundo a cada rato da UNICEF, que retrata as distintas realidades nas quais vivem as crianças em diferentes partes do mundo. Contada de forma leve e inocente pela menina Binta, o filme mostra a realidade de sua vila no Senegal e acompanha a grande ideia de seu pai para proteger a comunidade e o mundo do “progresso” que destrói a natureza.

Só achei com legenda em espanhol. Se alguém tem o link com legenda em português ou inglês, por favor, postem nos comentários.

Os Reinos Perdidos da África

Uma das grandes deficiências do ensino de história nas escolas, a meu ver, é a ausência da história africana nos programas. Acompanhamos a história europeia por um período de tempo de mais de 1.000 anos. Sabemos de todos os grandes impérios e etapas pelos quais passou o continente. A história da África, no entanto, se resume ao momento em que os navios europeus zarpavam dali cheios de prisioneiros que seriam escravizados nas Américas.

Esse programa nos dá a ideia equivocada de que a população negra e mestiça do Brasil descende de escravos, como se essa fosse a condição natural dos povos negros do passado, quando na realidade é que ela descende de grandes civilizações e reinos com muitos feitos que acabaram sendo dominados em algum ponto da história, foram divididos e arrasados e, só então, escravizados. Pouco sabemos sobre a trajetória que os levou até ai e pouco entendemos as conquistas e costumes que herdamos desses povos. Esse documentário da BBC, em quatro episódios, pode nos ajudar a compreender melhor a história do continente africano.

Bônus: Projeto Everyday Africa

Esse projeto fotográfico do Instagram é um dos 200 subprojetos que integram o Everyday Everywhere, uma iniciativa que tem como objetivo desconstruir estereótipos sobre diversos lugares no mundo. A cada dia, a conta compartilha fotos que retratam variadas realidades do continente. Siga @everydayafrica.

Bônus 2: Eu sou um homem africano

Um pequeno comercial de uma ONG africana que ironiza os estereótipos do homem africano nos cinemas. Curtinho e vale a pena ver. Legendas e áudio em inglês.

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones e no Youtube. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

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