Sete moedas da Europa que foram aposentadas por causa do euro

O dia 27 de janeiro de 2002 foi agitado em Amsterdam – e olha que era um domingo. É que bastou que os relógios marcassem meia-noite para que o florim neerlandês, moeda usada há mais de 300 anos, saísse de circulação. Os Países Baixos foram os primeiros a trocarem definitivamente sua velha moeda pelo euro, algo que se repetiu em diversos países da Europa naquele ano. O marco alemão, a lira italiana e o franco francês: todos foram aposentados no começo de 2002.

O Reino Unido resolveu manter sua moeda, a Libra, mesmo entrando para a União Europeia, enquanto outros, como a Suíça, optaram por ficar de fora do acordo, o que fez com que o franco suíço também permanecesse vivo. O fato é que para o viajante a coisa ficou bem mais simples – nem consigo imaginar como era fazer um mochilão de 20 dias pela Europa, daqueles que envolvem sete países (e, no caso, também sete moedas).

Conheça abaixo algumas das moedas que se aposentaram no comecinho do século 21.

Marco alemão

O marco alemão era uma das moedas mais jovens da Europa quando o euro surgiu. Ele foi criado em 1948, após a Segunda Guerra e quando a Alemanha estava ocupada por tropas aliadas. Com a Queda do Muro de Berlim, em 1989, o marco passou a ser a moeda da Alemanha Unificada. Acabou se tornando um símbolo da recuperação do país.

Saiu de circulação em fevereiro de 2002, mas marcos podem ser trocados por euros indefinidamente – nesse ponto houve um diferencial em relação aos outros países, que estabeleceram uma data limite para que suas moedas fossem trocadas por euros. Isso gerou uma situação interessante: em 2012, 10 anos depois da adoção do euro, 13 bilhões de marcos ainda não tinham sido trocados, o equivalente a quase sete bilhões de euros. Segundo uma reportagem da The Week, naquele ano a C&A, sim, a loja de roupas, vendeu 150.000 por mês em marcos.

Imagina a felicidade de quem acha notas de marco guardadas em gavetas e caixas antigas – e que resolve fazer umas comprinhas com essa riqueza inesperada.

Franco francês

A história do franco começa no século 14, passa pela Revolução Francesa e chega no século 20. A moeda teve mudanças nesse meio tempo, claro – após a Segunda Guerra foi introduzido o Novo Franco, por conta da inflação. Mas, mesmo assim, as pessoas nunca deixaram de se referir a moeda francesa pelo seu nome de origem.

O Franco era tão tradicional que inspirou outras moedas europeias, como o franco belga e o suíço, que existe até hoje. Foi aposentado em janeiro de 2002 e saiu completamente de circulação em fevereiro, um mês após o florim.

Florim Neerlandês

Por falar nele, o nome em português e o símbolo (ƒ) vêm da antiga moeda de Florença, na Itália. No idioma local a moeda era chamada de guilder, ou gulden, uma expressão que significa algo próximo de “ouro”.

O florim neerlandês (ou guilder, se você preferir) circulou do século 19 até 2002, embora em alguns outros momentos a moeda também tenha sido trocada. Isso aconteceu entre 1810 e 1814, quando os Países Baixos foram conquistados pela França e a moeda daquele país circulou por lá. E também durante a ocupação alemã, na Segunda Guerra.

Dracma Grega

Embora não tenha sido a moeda corrente de forma continua em todo esse período, a dracma está na história da Grécia há pelo menos três mil anos. Com as conquistas de Alexandre, o Grande, a dracma cruzou fronteiras e a palavra passou a designar a moeda em lugares recém conquistados, como o Egito e partes do antigo Império Persa.

Nos tempos modernos, a dracma ressurgiu em 1832, junto com o estabelecimento da Grécia atual, que naquela época se tornou independente do Império Otomano. Também saiu de circulação em 2002, dando lugar ao euro.

Lira italiana

Moeda italiana a partir de 1861, a Lira substituiu as várias moedas da península itálica que existiam antes da unificação do país, como o escudo papal e o florim, o de Florença mesmo – não a versão holandesa. A expressão “Lira” vem do latim e faz referência ao peso de uma determinada quantidade de prata usada para confeccionar a moeda. Não é muito diferente do que ocorreu com as muitas versões do peso e também com a libra, todas moedas que tiveram seus nomes baseados em unidades de peso.

A lira saiu de circulação no mesmo período que as moedas citadas anteriormente, mas pôde ser trocada por euros até 2011. Meses após o fim do prazo, uma mulher achou uma grande quantidade de liras escondida num compartimento secreto de um móvel usado e que ela comprou online. Segundo estimativas, o equivalente a 1.3 bilhão de euros em liras nunca foi trocado – e podem estar enchendo gavetas esquecidas até hoje.

Peseta espanhola

A peseta foi a moeda da Espanha a partir de 1869, substituindo o escudo espanhol, uma história que se encerrou somente no século 21, com o euro.

O termo vem do catalão e nasceu um pouco antes da própria moeda, em 1808. Foi nesse ano que as primeiras pesetas foram feitas, em Barcelona. A palavra peseta vem do catalão (peceta) e significa algo como “pedaço” ou “fração”. Outra versão diz que peseta é simplesmente o diminutivo de peso.

Pesetas poderão ser convertidas em euros até 2020. Em 2011, quando o euro completou 10 anos, o Banco Central da Espanha estimava que o equivalente a 1.7 bilhão de euros em pesetas ainda estavam por aí, provavelmente perdidos dentro de sofás velhos ou gavetas esquecidas. Boa parte desse dinheiro nunca será trocada.

Escudo português

O escudo nasceu no século 18, passou um tempo de férias e voltou a ser a moeda de Portugal em 1911, com a proclamação da república. Foi nesse ano que o escudo substituiu outra moeda portuguesa tradicionalíssima: o real (quem aí se lembra da expressão conto de réis?). O escudo, mesmo que popularmente ainda fosse chamado aqui e ali de real, foi a moeda de Portugal até a chegada do euro.

Também foi a designação da moeda em vários países colonizados por portugueses, como Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, onde o escudo cabo-verdiano ainda circula.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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  • Superinteressante essa matéria sobre as moedas que foram substituídas pelo Euro. Acredito que a sua moeda seja um símbolo cultural desses países, mas eles abriram mão por algo maior que representou uma nova perspectiva econômica.

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Rafael Sette Câmara

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