A arte de construir obeliscos no Egito Antigo

Estávamos de frente para um enorme bloco de pedra, escavado numa pedreira abandonada. Uma rachadura cortava o granito. “Essa é o maior obelisco que encontramos no Egito antigo”, explicou Hemat, nossa guia em Aswan. “Porém, não sabemos ao certo o que aconteceu, pode ter sido o calor ou algum erro de projeto que causou a rachadura que  impediu a continuidade da construção”.

Eu olhei para um dos jornalistas do meu lado e brinquei: “Imagina a cara do estagiário que estragou isso”.

Era quase meio-dia em Aswan, uma cidade que fica no deserto, às margens do Rio Nilo e de onde os egípcios retiravam as pedras de granito para fazer suas construções faraônicas, como câmaras funerárias, sarcófagos, colunas, além das estruturas das pirâmides de Gizé. Em pleno inverno, o calor ali passava dos 30 graus. Ainda assim, Hemat sorria embaixo do véu e, com a maior boa vontade do mundo, explicava como diabos eles conseguiam transformar uma parede de pedra num obelisco.

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A pedra para a qual olhávamos é conhecida como “o Obelisco Inacabado”, que foi planejado pela rainha Hatshepsut, faraó de 1508 a 1458 a.C. Um terço maior do que qualquer outro obelisco ereto no Egito, se tivesse sido terminado, teria 42 metros de altura e pesaria mais de uma tonelada.

“Essa pedra”, apontou ela para uma rocha em formato redondo, “chama-se dolerite.” Passamos de mão em mão a pesada pedra modelo, que é vulcânica e mais dura do que o granito. “Eles usavam para bater nas laterais do granito, na pedreira, e moldar o formato do obelisco. Depois, colocavam vigas de madeira nessa linha e inundavam com água. A madeira inchava e acabava por partir a pedra reta.”

Segundo a Enciclopédia Britânica, uma inscrição na base do Obelisco de Hatshepsut, no Templo de Karnak, indica que o trabalho de cortar aquele monolito da pedreira levou sete meses.

Obeliscos Egípcios pelo mundo

“Onde vocês já viram obeliscos egípcios?”, perguntou Hermat. Roma e Paris foram as respostas de todos. Dos 28 obeliscos originais egípcios, apenas seis restaram no país. O Obelisco de Senusret I, na moderna Heliópolis, é o mais antigo a estar de pé ainda na sua posição original, e tem quase 20 metros de altura.

Mas a capital dos obeliscos egípcios é Roma. É que o formato e a grandiosidade dos obeliscos atraiam os imperadores romanos. Vários deles foram levados para lá nessa época. Um dos mais famosos é aquele que fica bem no centro da Praça de São Pedro, no Vaticano. Ele foi levado pelo Imperador Augusto e é o único obelisco em Roma que está na posição em que foi trazido e não caiu desde então.

Foto: Shutterstock

Já o mais alto e mais antigo obelisco egípcio é o que está na praça da Basílica San Giovannni em Laterano (foto acima), que tem 32,2 metros de altura e pesa 455 toneladas. “Uma boa parte dos obeliscos foi saqueada, mas vários também foram dados de presente pelo governo egípcio”, lembrou a nossa guia.

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Paris, na Praça da Concórdia: obelisco de 3000 anos, que ficava na entrada do templo de Tebas, em Luxor.  Foto: Shutterstock

O significado dos obeliscos para os egípcios

“Na arquitetura do Egito Antigo, os obeliscos eram colocados em pares nas entradas dos templos”, explicou Hermat. O nome obelisco, aliás, foi dado por um grego, Heródoto, um viajante e escritor do século 5 a.C. Para os egípcios, o nome seria provavelmente tekhen.

Um obelisco simboliza, acreditam os egiptólogos, o deus do sol Ra. E tem quem defenda que os egípcios acreditavam na existência do deus através da estrutura. O topo do obelisco é similar ao topo da pirâmide e era coberto com uma liga de ouro e prata chamada electrum, que brilhava com a luz do sol nas primeiras horas da manhã.

Dupla de obeliscos no Templo de Karnak. Foto: Shutterstock

As quatro faces de um obelisco eram desenhadas com hieroglifos dedicados aos deuses e aos faraós e suas conquistas.

O Rio Nilo e o transporte dos obeliscos

A antiga civilização egípcia também é conhecida como “a dádiva do Nilo”, segundo o grego Heródoto. O enorme rio que cruza o deserto, inunda as planícies e cria uma terra fértil, que permitiu que a civilização florescesse, também servia como uma grande via de transporte.

A nossa guia explicou que, por meio de um sistema de canais, o rio cruza Aswan até Alexandria por mais de 1200 quilômetros, sem barreiras ou cataratas, numa viagem que leva de 21 a 28 dias em condições de tempo favoráveis.

O Rio Nilo em Aswan, no sul do Egito

Hermat também explicou que um sistema de cordas, roldanas, esteiras e barcaças, além da força das águas, permitia transportar os enormes blocos de pedra única de Aswan para o resto do reino. Todo esse processo, e também como eles conseguiam colocar o obelisco de pé nos templos, é uma tecnologia tão sofisticada que até hoje não consegue ser duplicada.

O 360meridianos viajou a convite da American Chamber of Commerce in Egypt

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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