Os canais de Veneza e a história da cidade

Imaginem a Europa no século 5. O Império Romano caiu e hordas bárbaras invadem o território. Nesse cenário, os cidadãos da região de Vêneto, na Itália, resolveram se refugiar numas ilhas que ficavam numa laguna do Mar Adriático, no noroeste do país. Foi ali que surgiu Veneza, nome baseado nos povos que viviam por lá desde o século 10 a.C. O domínio da região ficou por conta do Império Bizantino. O centro de poder, Ravena, só era acessível por rotas marítimas, o que permitiu que Veneza crescesse de maneira independente. E como cresceu…

No século 7, aquela região passou a ser chamada de Sereníssima República de Veneza. No século 9, o crescimento econômico e social garantiu a independência da cidade-Estado. Veneza estava se tornando uma das cidades mais importantes da Europa (até hoje, todo mundo quer ser Veneza).

A posição estratégica no mar Adriático garantiu que os navios, usados tanto para o comércio quanto para fins militares, a tornassem rica e poderosa. Era em Veneza que acontecia o comércio entre o Ocidente e o Oriente, muito antes da América sonhar em ser descoberta.

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Como surgiram os canais de Veneza

Lembra que eu falei que a população se instalou em ilhas? Pois é, chegou um momento que essas ilhas estavam barrando o desenvolvimento meteórico da cidade. Em 810, eles começaram a construir a cidade como conhecemos. O jeito de resolver o problema era unir os pedaços de terra separados pelo mar, aterrando as distâncias. As áreas alagadas se tornaram porções de terra e com isso, o espaço para construções crescia, ao mesmo tempo em que canais d’água foram sendo desenhados.

No início, eram 65 ilhas que formavam a cidade (hoje são 118). Mas você, assim como eu, deve estar se perguntando: Peraí, aqueles aterros construídos há mais de mil anos estão aí, firmes e fortes, até hoje? Sim, estão. E se eu te falar que o que sustenta a Praça de São Marcos e companhia limitada são pilares de madeira milenares embaixo d’água?

Não se trata de loucura ou magia, mas de engenhosidade. A madeira não apodrece porque não está em contato com a atmosfera e o oxigênio que ajudaria no processo de decomposição. Eles fincaram os pilares de cerca de 4 metros em argila compactada e colocaram tábuas e blocos de pedra em cima. A pedra barra a passagem da água, o que permite colocar terra (tirada do fundo do lago) em cima.

São 177 canais e 409 pontes. As principais, a Ponte Rialto e a Ponte dell’Academia, cortam o maior dos canais, chamado de Grand Canal. O Grand Canal corta a cidade inteira. Ó:

Histórias da cidade

Quando você visita o Palácio Ducale, consegue entender um pouco melhor essa história de que Veneza era uma república. O doge (ou duque) era o governante oficial da cidade, mas não tinha poderes absolutistas. Muito pelo contrário, era eleito por um Senado formado por cerca de 120 pessoas, que por sua vez era eleito por um Grande Conselho, os quase 2000 patriarcas das famílias proeminentes da cidade.

Além desse Grande Conselho também existia um Pequeno Conselho, de 10 pessoas, que controlava de perto o trabalho do Doge e a administração de Veneza. Para completar, um grupo de quatro pessoas formava o sistema judiciário. No palácio, existiam as “Bocas de Leão” (foto), espécie de caixas de correio onde os cidadãos podiam deixar, de forma anônima, cartas com reclamações sobre o governo.

A Sereníssima República de Veneza – típico nome dado às repúblicas europeias consideradas soberanas na época – começou a perder poder com as grandes navegações e o surgimento de novas rotas de comércio para o Oriente. O golpe final foi em 1796, quando Napoleão dominou a região.  O imperador francês passou o controle de Veneza para os austríacos e assim permaneceu até 1866, quando Veneza se tornou parte do Reino da Itália.

Napoleão também foi responsável por extinguir o famoso Carnaval de Veneza. A festa, que começou a ser celebrada por volta do século 3, permitia que membros da nobreza e da plebe, devidamente mascarados, se divertissem como iguais. Pouca gente se dá conta que o Carnaval de Veneza só voltou a ser celebrado em 1980, 183 anos depois da proibição.

Hoje, a parte das ilhas em Veneza tem cerca de 60 mil habitantes, número que vem diminuindo ao longo dos anos. A culpa disso é dos turistas que enchem a cidade e tornam os preços muito mais caros: são quase 50 mil visitantes por dia (mas ainda assim é possível fazer uma viagem barata!) Acredita-se que, no futuro, não deve haver mais moradores na região central.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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