Em duas casas no meio da Rua do Amparo, uma de frente para a outra, mora o espírito das noites e do carnaval de Olinda. De um lado, o ponto oficial de venda do Pau de Índio do Cardoso. De outro, o Axé de Fala. Em comum, elas têm a fabricação independente, familiar e artesanal, receita secreta, teor alcoólico alto e preços baixos.
Parte inerente da festa de quem sobe e desce as ladeiras da cidade atrás dos blocos de carnaval, as bebidas ganharam os corações dos foliões por serem baratas, não ser preciso ingerir grandes quantidades para deixar alguém bêbado (por isso, evita aquela vontade de ir ao banheiro toda hora da cerveja) e terem em sua fórmula ingredientes que dão mais energia para aguentar a maratona de quatro dias de folia.
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Embora cada uma tenha uma fórmula exclusiva, Pau de Índio e Axé se assemelham em gosto e história. Acredita-se que as versões preliminares da receita, envolvendo cachaça de cabeça e ervas rústicas, tenham chegado da África e seguiram sendo preparadas de forma artesanal pelas pessoas escravizadas ali desde o século 19, incorporando a elas ingredientes nativos do Brasil, como o Guaraná.
O primeiro a começar a produzir e vender a bebida de forma sistemática foi o seu Cardoso. Segundo seu filho, ele costumava preparar uma bebida na hora com cachaça e raspas do bastão de guaraná para os clientes de seu bar. Um dia, teve um sonho com um índio que lhe dizia para acrescentar outros ingrediente à mistura. Depois de alguns experimentos, chegou a receita final, que tem mais de 32 ingredientes e é mantida em segredo absoluto. O Pau de Índio do Cardoso está há quase quarenta anos nas ruas de Olinda e é o único oficial da cidade e com atestado de origem, garante a família – fique atento, porque há imitadores. Seu Cardoso morreu em 1995, mas os filhos continuaram seu legado no número 91 da Rua do Amparo.
O Axé de Fala tem história parecida, mas veio anos depois, no início do anos 1990. A receita, que leva 25 ingredientes, foi criada por Carmem Lúcia Castro e passada adiante para a família após sua morte. Logo angariou clientes fiéis em Olinda e se juntou à festança na qual se transforma a cidade durante os fins de semana e carnavais.
Estima-se que mais de 20 mil garrafas de Axé de Fala sejam vendidas por mês. No carnaval, a saída mais que triplica. O Pau de Índio chega a vendar 5 mil garrafas por dia de folia. Os bebedores do Axé ou do Pau de Índio são fiéis e há quem defenda com unhas e dentes sua marca favorita. A localização dos pontos de venda, um de frente para o outro, soou até como uma provocação, mas hoje alimenta a competição saudável.
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