“A distância da memória ao esquecimento é curta. E todos nós temos a responsabilidade histórica de tocar a memória das pessoas e dos lugares onde passamos”, afirmou a Dra. Cristina Nogueira, em discurso no Porto para a comemoração do 25 de Abril. Talvez a data não seja tão conhecida entre os brasileiros, mas o dia tem um significado muito especial em Portugal: celebra a Revolução dos Cravos, data que marcou o fim da ditadura do Estado Novo, que durou 48 anos.
O ano de 2017 marcou o 43º ano em que se celebra a data, feriado nacional. Movimentos sociais se unem, as cidades fazem festas e manifestações, na noite do dia 24 para 25 há fogos de artifício e uma celebração de “queima” simbólica do fascismo.
As pessoas entoam “Vinte cinco de abril sempre, fascismo nunca mais”, entre outros gritos por liberdade e direitos. “Grândola, Vila Morena”, música que marcou o início da revolução, também é tocada e entoada com emoção enquanto cravos vermelhos são distribuídos. Tudo tem seu significado, mas, para entender, é preciso voltar um pouco a história.
Portugal vivia uma ditadura militar desde um golpe de Estado ocorrido em 1926. Em 1932, Antonio de Oliveira Salazar, então Ministro das Finanças, assume o poder como “Presidente do Conselho”. O regime de Salazar, consolidado pela Constituição de 1933, com inspirações fascistas, chamava-se Estado Novo. E como qualquer ditadura, imperava a censura, a perda de direitos civis e políticos, o nacionalismo exacerbado, uma polícia estatal bastante violenta (a PIDE), criação de campos de concentração, deportações, tortura.
A estimativa oficial é de que cerca 30 mil pessoas teriam sido presos políticos apontados oficialmente a nível nacional. Mas a Nogueira, que é autora do livro “Vidas na Clandestinidade”, afirma que só um levantamento no Porto, norte do país, revela que pelo menos 18 mil pessoas foram detidas. Essa, afinal, foi a ditadura mais longa na Europa Ocidental no século 20.
Coroa de flores na entrada do prédio que era sede da PIDE no Porto
Depois que Salazar saiu do poder, após ficar doente, em 1968, ele foi substituído por Marcello Caetano. Começou então um período conhecido como “Primavera Marcelista”. Ele tentou promover algumas aberturas sociais e econômicas, mas, ao mesmo tempo, recusava-se a dar um fim pacífico às guerras coloniais. É que desde 1961, as colônias portuguesas na África – Moçambique, Angola e Guiné-Bissau – estavam em conflito com as forças armadas pela independência.
A questão é que parte das forças armadas já havia percebido que não tinha como vencer a tal guerra e desejava que o conflito de anos terminasse. Junta-se essa questão com a insatisfação crescente da população: movimentos anti-ditadura ganhando força, greves estudantis e outras formas de oposição que surgiram também pela crise econômica que o país vivia.
Foi assim que surgiu o Movimento das Forças Armadas, comandado por diversos capitães anti-regime, que se organizaram para, no dia 25 de abril de 1974, com amplo apoio popular, assumir o poder. O sinal para iniciar a revolução foram duas músicas no rádio: “E Depois do Adeus” e “Grândola, Vila Morena” (aquela, do início do texto).
A revolução de 25 de abril também é conhecida como revolução dos cravos porque a população distribuiu cravos vermelhos aos soldados, que os colocaram na ponta das espingardas. Durante toda a revolução, quatro civis e 45 militares morreram. Marcello Caetano foi rendido e exilado no Brasil. Ele morou no Rio de Janeiro até 1980, quando morreu.
E Portugal passou então por um processo de abertura política e sociocultural. A consolidação da revolução se deu com uma nova assembleia constituinte democrática. Em 25 de Abril de 1976 entrou em vigor a nova constituição e também ocorreram as primeiras eleições legislativas.
A população adquiriu diversos direitos que antes lhes eram negados. “Esses direitos foram duramente conquistados, não são naturais, nem tributáveis, nem lhes foram dados, nem existiram sempre, como podem pensar alguns. Foram alcançados com a luta do povo”, afirmou em discurso Cristina Nogueira nas comemorações no Porto
“A revolução não se fez num dia, forjou-se durante décadas. E terminou no dia em que as forças armadas refletiram os sentimentos mais legítimos do povo e tomaram em sua mãos a missão de lhes dar a expressão”, seguiu o discurso de Nogueira. O feriado de 25 de abril presta, todos os anos, uma homenagem àqueles que perderam suas vidas para o antigo regime, quanto é um exercício de memória, para que a liberdade não seja tomada como garantida e o fascismo nunca retorne – ainda mais em tempos como os que vivemos hoje”.
A doutora em Educação também afirmou que comemorar abril é lutar, divulgar, é fazer lembrar o antes e o depois e, tal como diz tão claramente a frase que abre esse texto, honrar a memória.
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Excelente texto. Uma verdadeira reflexão da memória dos Portugueses e quanto significa esse acontecimento na História recente de Portugal.
obrigada Everson