A trilha sobe o morro em meio a mata atlântica. Entre os arbustos de vários tamanhos, enxergamos os pontinhos coloridos. Alguns, ainda amarelinhos e miúdos. Outros, vermelhos e brilhantes. Esses já estão prontos para a colheita. Depois de um processo que durará dias, eles se transformarão em grãos torrados e moídos e, depois, diluídos em água quente, virarão a bebida mais consumida do Brasil depois da água. Estamos no Maciço do Baturité, um lugar que, para quem é de fora, pouco lembra a imagem clássica que se tem do Ceará – aquela das falésias e horizontes azuis. É lá que fica um lugar cheio de história e aroma.
No Maciço do Baturité, uma região serrana que abriga uma área de proteção ambiental a pouco mais de 100 km de Fortaleza, as plantações de café se espalham pelo solo desde o fim do século 18. A produção cafeeira da região já foi destaque mundial. No século 19, era do Ceará que saía todo o café brasileiro exportado para a Europa – Dom Pedro II até mandou fazer uma ferrovia para escoar a produção lá por 1880. Mas, com o tempo, o solo foi se desgastando e a tradição ficou de lado. De uns tempos pra cá, as coisas mudaram.
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Uma parceria entre o Sebrae e os produtores locais nasceu para resgatar o plantio do café com foco na agricultura familiar e impacto socioambiental reduzido. Em outras palavras, agora o estado está investindo mais em divulgar o café produzido pelas fazendas locais e as cidades onde elas ficam. Assim, quem ainda se dedica à tradição ganha uma forcinha dos turistas que tanto amam o Ceará. A Rota Verde do Café passa por Guaramiranga, Mulungu, Pacoti e Baturité, cidades fofíssimas que têm aquela atmosfera de interior e que merecem tanta atenção quanto os cenários paradisíacos do litoral.
O primeiro diferencial das cidades da rota é o clima. Ao contrário do que julga o senso comum, faz frio no Ceará sim. O termômetro chega a marcar 16 graus à noite por ali. É que a serra fica mais ou menos 900 metros acima do nível do mar.
Quem sai de Fortaleza rumo às plantações de café terá mais surpresas pelo caminho. No Ceará, o café é plantado à sombra dos ingazeiros, uma espécie comum na floresta amazônica. Além de proteger os cafezais do sol, o ingá atrai a broca, uma praga arqui-inimiga do café. E as árvores ainda enriquecem o solo para as frutinhas vermelhas crescerem saudáveis. Isso sem contar a maravilha científica que é perceber o encontro da mata atlântica com a floresta amazônica em pleno Ceará, né?
Baturité: o interior do interior do Ceará
Ok, mas como eu faço para conhecer uma fazenda cafeeira no Maciço do Baturité? Durante a minha estadia no Ceará, em junho de 2018, eu conheci dois lugares que fazem parte da Rota Verde do Café.
No Sítio Águas Finas, o proprietário e guia Francisco Uchôa leva você pessoalmente para uma voltinha por entre os 7 mil pés de café morro acima. O passeio demora duas horas, e você pode experimentar a frutinha madura, que tem um gosto muito diferente do da bebida quente.
Francisco Uchôa também vai te mostrar como é a secagem do grão ao sol, e depois os vários processos da torra, quando a mágica acontece. A cada etapa, o café ganha uma cor e um cheiro diferente, e é por isso que há tanta variedade de cafés por aí – cada produtor tem seu segredinho na hora de produzir.
Sítio São Luís, em Pacoti: meio museu, meio café
Já o Sítio São Luís, em Pacoti, é praticamente um museu e conta em suas paredes a história das famílias tradicionais que habitaram a região nos últimos 200 anos. Para conhecer o casarão, o ingresso custa R$ 20. Mas o que vale mesmo é o café com bolo (tudo produzido ali), que sai por mais R$ 15.
O passeio completo pela Rota Verde do Café também passa pelo Sítio São Roque, em Mulungu, e pela Fazenda Floresta, em Guaramiranga, com uma paradinha no Museu Ferroviário de Baturité e o Mosteiro dos Jesuítas, uma construção esplendorosa na zona rural de Baturité.
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Excelente a matéria. Nunca soube que existe dar uma história tão boa sobre o café no Ceará. Parabéns!!!
E como chegar? Tem dicas de agências de viagem? Dá para ir de ônibus?
Otavio tá sendo uma ótima companhia aqui no 360!
Não sabia que no CE também se plantava café! Muito bom saber que não é só seca que há no interior dos estados do NE, e que o NE não é só praia! 😀
Valeu a dica, Otávio!
Que experiência boa, Otávio.
Fiquei curiosa pra saber como é o sabor da fruta madura. Adorei.
Abraço,
Juliana