Sant Jordi, o padroeiro de Barcelona, é um santo bem popular mundo afora. No Brasil, a gente cresce ouvindo que ele mora na lua, graças ao sincretismo com a cultura e religiões africanas, como a Umbanda. A lenda, porém, de que ele matou um dragão e salvou uma princesa também é compartilhada com vários países do mundo. Por aqui, nós o chamamos de São Jorge. E apesar dele ser padroeiro de muitas cidades e países por aí – incluindo o Rio de Janeiro – é em Barcelona que acontece uma das maiores celebrações em sua homenagem.
Padroeiro da Catalunha desde o século 15, todos os anos a cidade se colore com flores para celebrar o dia de Sant Jordi, em 23 de abril. A data também passou a marcar o dia dos namorados e o dia do livro.
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Jorge nasceu no século 4, provavelmente na região da Capadócia, na Turquia. Ele se tornou soldado romano no período do Imperador Diocleciano. E um muito bom, que logo chegou ao posto de guarda pessoal do Imperador em Nicomédia, a capital do Império Romano do Oriente. Mas ele tinha um defeito grande para época: era cristão.
Em 303, o imperador romano, no processo de perseguição aos cristãos, mandou prender todos os soldados dessa fé e matá-los, como sacrifício para os deuses romanos. Como Jorge se declarava publicamente cristão e Diocleciano não gostou nada que um soldado tão valoroso quanto ele fosse perdido, ao invés de matá-lo, decidiu torturar o pobre homem até convencê-lo a negar Cristo. A recusa de Jorge em ceder o tornou um mártir. Ele ganhou fama entre os romanos e, diz a história, até mesmo a esposa do imperador tomou as dores do soldado. Isso não mudou o fato de que, no dia 23 de abril de 303, Diocleciano mandou degolar Jorge.
O corpo foi transferido para a cidade de Dióspolis (hoje Lida, em Israel). Alguns anos depois, o Imperador Constantino mandou construir uma igreja no local onde encontra-se a tumba. Em 494, São Jorge foi santificado.
Não se sabe o quanto dessa história é verdade. Mas o cristianismo, na época uma religião emergente, precisava de heróis. Assim, São Jorge passou a ser cultuado nas comunidades cristãs primitivas no Egito, Etiópia, Síria e Líbano. Dióspolis era, sem dúvida, o centro do culto e a cidade fazia parte da peregrinação à Terra Santa.
A questão é que São Jorge e sua lenda só chegaram no ocidente em 1098, durante a primeira cruzada. Ele já era considerado um santo padroeiro e um homem sagrado muçulmano, a ponto de ser mencionado em passagens do Corão e ter santuários no mundo islâmico. Tamanha devoção popular no Ocidente e Oriente fez com que surgissem mitos mais inventivos, misturados às tradições pagãs, como a história da luta contra o dragão: o conto diz que São Jorge teria salvo uma princesa de um local atemorizado por um dragão, que requeria sacrifícios das Donzelas. Ele matou o monstro e salvou a moça.
Castelo de São Jorge, em Lisboa, onde o culto ao santo também é forte e de onde provavelmente chegou ao Brasil
Quando os cruzados voltaram para seus reinos com essas histórias na ponta da língua, o culto ao santo se espalhou pela Europa. As lendas de São Jorge foram crescendo e o santo tornou-se um importante protetor de batalhas e padroeiro de regiões e cidades.
Na Catalunha, a tradição dos cavaleiros cultuarem São Jorge vem desde as lutas contra os mouros, no século 11. O festival do dia de Sant Jordi começou a se difundir no século 15. Foi aí que a tradição de dar uma rosa vermelha à mulher amada surgiu. A rosa, diz a lenda, brotou do sangue do dragão quando Jorge o apunhalou.
Outra parte importante da festa, a tradição de presentear o homem de volta com livros, é bem mais recente: vem da década de 1930. É que a Câmara de Barcelona decretou o dia 23 de abril como o dia do livro, data que coincidia com o enterro de Miguel de Cervantes (autor de Dom Quixote) e aniversário de morte de William Shakespeare (segundo o calendário Juliano). O festival foi tão importante para a produção e comercialização de livros em catalão que não parou nem mesmo durante a Guerra Civil Espanhola.
Além disso, o sucesso da data foi tão grande que a UNESCO declarou, em 1995, o dia 23 de abril como o Dia Mundial do Direito Autoral.
A tradição de dar uma rosa para uma mulher e um livro para um homem é um tanto quanto datada. Hoje em dia, qualquer um pode dar rosas ou livros – ou ambos – para quem quiser.
O lugar para ver e participar da festa é o Passeig de Gracia e as Ramblas. Sugestão: vá cedo, porque à tarde já começa a ficar insuportavelmente cheio. Comece o dia na avenida, perto do Metrô Diagonal, e vá descendo. A Casa Batlló faz uma decoração especial na fachada, com rosas vermelhas.
Rosas amarelas também são distribuídas, por serem consideradas símbolo da Catalunha. Continue o caminho, passando pela Praça Catalunya e depois desça as Ramblas.
Ao longo do percurso, há muitas bancas de flores e de livros dos dois lados. Diversas editoras têm suas barraquinhas e é comum que autores nacionais e internacionais façam parte da festa, participando de sessões de autógrafo. É bom ficar atento à programação que sai na véspera do evento. Um bom lugar para pesquisar é o site oficial da prefeitura.
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O livro escrito pelo Pe. Jeferson Mengali revela a empolgante história de São Jorge, os lugares onde ele viveu, as festas que hoje acontecem em sua homenagem e o modo como ele é cultuado em diversas igrejas, religiões e culturas. Saiba mais: https://amzn.to/3pXeAc9
Entre os inúmeros escritos religiosos que relatam a vida e passagens exemplares da vida do santo, este – publicado pela primeira vez em português – teve uma versão em cóptico, produzido entre os séculos III e IV d.C. pelos primeiros cristãos do Egito. Ele foi traduzido para o inglês no final do século XIX, extraído de fragmentos guardados no Museu Britânico. Narra as torturas e o martírio de São Jorge, em 303, a mando do imperador Diocleciano, e os primeiros milagres atribuídos ao jovem e valente guerreiro. Saiba mais: https://amzn.to/3pRXBrv
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