O relógio marcava 9h30 da noite. Atordoados, não conseguíamos achar a saída do metrô dentro do grande parque de diversões para adultos que é a Oktoberfest. Um medo começou a nascer dentro de nós: iríamos perder o trem para Amsterdam.
Como tínhamos chegado a esse ponto? O combinado era ter deixado o evento uma hora antes, mas entre copos, conversas, amizades de cinco minutos e músicas alemãs, perdemos a hora. Naquele momento, tentávamos nos desvencilhar do labirinto de pessoas bêbadas e enfrentar a nossa própria embriaguez para encontrar a saída. Do nosso lado, começou uma briga entre garotos que mal tinham saído da adolescência. Em menos de dois segundos, guardas apareceram para apartar.
Depois de rodar um pouco, finalmente encontramos a saída do metrô. Era hora de deixar Munique e o último dia daquela que nós carinhosamente apelidamos de “a melhor festa do planeta”. E porque a Oktoberfest é tão boa? Dizer que é uma festa onde todo mundo passa horas dividindo grandes mesas de madeira com desconhecidos que mudam a toda hora, conversando e tomando litros e litros de uma ótima cerveja alemã, pode não ser o suficiente para explicar. Por isso, vou deixar com vocês as histórias que vivemos por lá.
Veja também: onde ficar em Munique
Ambroise, Ambroise
A banda que embalava o salão e o biergarten da cervejaria onde estávamos naquela noite começou os acordes da “musica tema” da Oktoberfest. Os versos de uma cantiga tradicional alemã eram entoadas a cada meia hora do evento.
Ein Prosit, ein Prosit, der Gemuetlichkeit
“Um brinde, um brinde, ao bem estar”
É claro que a gente não entendia uma palavra da música, mas quem se importa? A parte importante, que era a de levantar os copos enquanto cantávamos e de beber a cerveja no final, a gente entendeu muito bem. Numa dessas, um garoto polonês recém saído da adolescência e que havia se sentado com a família na mesma mesa em que estávamos, se aproximou.
– Fizeram essa música pra mim – disse ele.
– Ah, é? Por quê? Você gosta de beber?
– Não, meu nome é Ambroise. Não vê o que eles cantam? “Ambroise, Ambroise, lala lala lala”.
Não preciso nem dizer que adotamos a versão do Ambroise pro resto da festa. Até porque era bem mais fácil de cantar que a original.
Onde fica a Itália?
A gente nunca entendeu bem como acontecia, mas as pessoas que se sentavam ao nosso lado estavam sempre mudando, e nós permanecíamos sempre no mesmo lugar. Uma hora tinha uma família de poloneses e, no momento seguinte, nós nos víamos conversando com um grupo de amigos do sul da Itália.
– O que vocês conhecem da Itália? – eles nos perguntaram.
– Mais o norte, Milão, Florença, Veneza, Bolonha. Não conhecemos nada pra baixo Roma.
– Mas é pra baixo de Roma que fica a Itália!
Foram esses caras que nos contaram também que os italianos adoram o Roberto Baggio. E nós também.
Ambroise e os italianos
Ai se eu te pego
E de repente, começa o playlist brasileiro e todo mundo sobe em cima da mesa. Agora era a vez deles de não entenderem nada do que estava sendo cantado e apelar para o embromation.
Momento Gustavo Lima e você, eu, todo mundo junto no tchetchererê.
A droga da Bavária
– O que vocês acharam de Munique? – Perguntou o alemão que se sentou à nossa mesa. Ele não falava inglês muito bem, embora compreendesse, por isso usava muita mímica para se comunicar.
– Ah, é uma cidade muito bonita, pena que a gente não pode ficar mais tempo – respondemos.
– É uma pena mesmo, a Bavária é uma das regiões mais legais, tem muita coisa pra ver. – E tentou me falar das coisas típicas da região e por que era a melhor parte da Alemanha. – … vocês conhecem o Gaisndmtensor (insira aqui o som de uma palavra incompreensível)? É muito típico da Bavária.
Balancei a cabeça negativamente, um pouco confusa. Não sei porque nem como, mas eu estava sozinha essa hora.
– Gaisndmtensor (de novo, incompreensível) – ele fez um gesto com a mão e com o nariz, como se tivesse aspirando alguma coisa – É muito, muito típico daqui.
Eu olhei pra ele bastante confusa e continuei dizendo que não sabia do que ele estava falando. Ele mandou eu esperar ali, e saiu. Nesse minuto, Luíza reapareceu.
– Luíza, acho que aquele alemão tava me oferecendo cocaína.
– O quê?!
– Ele disse que era típico da Bavária e fez um gesto como se tivesse aspirando com o nariz. Nem sabia que a Alemanha era famosa nesse ramo.
Momentos depois, o suposto traficante reaparece.
– Isso! Isso que eu estava falando que era típico da Bavária – Ele abriu uma caixinha de metal na minha frente e colocou um pouco do conteúdo na minha mão. A tal da coisa típica era apenas rapé.
Brindar é perigoso
Prost!
A festa já estava pra lá daquela fase em que começa a parecer um filme trash sobre realidades paralelas. Ninguém mais estava sentado. Todos se amontoavam em pé nas cadeiras e mesas de madeira. A banda já tinha parado há tempos e o som mecânico tocava música pop alemã. Vira e mexe um caía, derrubando vários outros e jogando fora copos e mais copos de boa cerveja. Malucos, encorajados pelo álcool, aceitavam com cada vez mais frequência o desafio de virar um litro inteiro da bebida. Estávamos naquele momento em que as coisas fazem todo o sentido na hora que acontecem, mesmo não fazendo o menor sentido quando a gente tenta se lembrar depois. E os brindes são convocados a cada dez minutos.
Estávamos em cima das cadeiras quando nosso último brinde na Oktoberfest foi convocado. Copos empunhados por brasileiros, alemães, ingleses e um eritreu se chocaram com entusiasmo no centro da mesa. Metade de um deles caiu sobre a madeira quando se afastaram. O Rafa me olhou, empunhando a outra metade do copo, a mão escorrendo sangue. Corremos desesperados até o lado de fora, para analisarmos o que tinha acontecido. O sangue pingava no chão. Rafa entrou banheiro, enquanto fui chamar a Luíza. Quando voltei, o sangue ainda pingava. Não tinha papel higiênico ou nada que pudesse estancar. A fila do banheiro feminino, como de costume, era enorme. Luíza entrou correndo, sob protestos, e pegou um pouco de papel. Foi nesse momento que alguém teve a ideia de checar as horas.
A viagem a Amsterdam foi salva por um brinde. E o corte, ainda bem, não era grande e nem profundo.
Se beber, não case
Das histórias que eu não me lembro, mas ficaram para sempre registradas no meu celular.
ACHO que elas estavam dizendo que a Miley Cirus é loser.
Ou será que todo mundo quando bebe vira a Miley?
E quenhe essa nova amiga da Luíza?
Dica amiga: chegue cedo
Eu sei que é hábito de brasileiro, mas não vá aparecer na festa quando já estiver escurecendo. Caso contrário, você não vai conseguir lugar dentro das tendas e talvez nem no biergarten. Além disso, chegando entre meio dia e duas da tarde você ainda pode apreciar um fenômeno cultural muito interessante: no início da festa, os alemães são bem… alemães.
Aos poucos, as pessoas que estavam sentadinhas, conversando civilizadamente e cada uma no seu quadrado começam a se transformar até o ponto em que vão subir em cima da mesa e imitar a Madonna (ou a Miley?). É uma experiência quase antropológica – vale a pena estudar esse fenômeno bem de perto.
hahahaha muito engraçado! Fiquei com muita vontade de conhecer esse Oktoberfest!
Onde vocês ficaram hospedados?? Vocês fecharam hospedagem com muita antecedência?? Estou indo para Alemanha agora en setembro e queria conhecer a oktoberfest mas tá dificil hospedagem.
Hahaha
Fiquei com muita vontade de conhecer esta festa!!!
Está na minha lista!!!
Adorei o ultimo vídeo!!!