O que fazer em São João del-Rei? No mapa turístico nacional, ela tem menos apelo que Ouro Preto e a vizinha Tiradentes. Assim como muitos turistas, confesso que eu, que já tinha passado por São João em algumas ocasiões, não a colocava na minha listinha de cidades históricas favoritas, tanto é que durante anos a usei só como passagem para Tiradentes, que fica a apenas 10 quilômetros de distância.
Só que poucos lugares do Brasil tem tanta história pra contar quanto São João del-Rei.
A história dos mortos
Bem que poderia ser por conta da Guerra dos Emboabas, disputa pelo ouro recém-descoberto e que deixou incontáveis mortos por ali. Mas o Rio das Mortes, que tem 290 km e passa por várias cidades históricas mineiras, entre elas São João del-Rei, tem esse nome por outro motivo – ou melhor, os mortos foram outros.
É que muita gente perdeu a vida ao tentar cruzar o rio a nado, uma tentativa desesperada de evitar o pedágio em Porto Real da Passagem, onde eram cobrados os tributos da Coroa. Quem conseguia cruzar o rio levava para casa um pouco mais das riquezas conquistadas; quem se afogava, bem, esses foram os que batizaram o local.
São João del-Rei já mereceria uma visita só pelo seu papel durante os primeiros anos do Ciclo do Ouro, como posto de pedágio e cenário da Guerra dos Emboabas. E o que veio depois, com a construção de um centro histórico impressionante, também ajuda.
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Igrejas lindas, casarões coloridos e uma cidade viva, não um cenário de novela. Não me entenda mal, Tiradentes é linda, com seus restaurantes de todos os tipos e pousadas charmosas, mas São João del-Rei é muito mais real.
Você vê uma igreja de 300 anos ao mesmo tempo em que percebe uma senhora fazendo as compras da semana no supermercado; bebe uma cerveja de frente para um monumento barroco ao mesmo tempo em que moradores da cidade seguem seu dia a dia.
Se for passar pelas cidades históricas mineiras, vá sim a Tiradentes, mas reserve tempo no roteiro para conhecer também São João del-Rei. É do lado. E vai te surpreender.
O que fazer em São João del-Rei: pontos turísticos
Paramos o carro perto da Estação Ferroviária e começamos o passeio. Por sinal, o prédio vale a visita, mesmo para quem não vai embarcar na Maria Fumaça. Ali fica o Museu Ferroviário, que a conta a história dos trilhos e tem locomotivas e vagões antigos.
De lá, seguimos pela avenida principal, que tem um córrego no meio e forma um dos cartões-postais mais importantes da cidade. A ponte de pedra é um dos pontos de destaque, mas ali também está a antiga Casa de Câmara Municipal e Cadeia, prédio histórico que hoje serve de sede para a prefeitura. Seguindo naquela direção (e do mesmo lado da estação ferroviária) está a Igreja de São Francisco de Assis. Construída a partir de 1774, esse templo foi projetado originalmente por Aleijadinho.
Embora essa seja a igreja mais famosa, a maior parte dos templos do centro histórico estão do outro lado, cruzando a ponte. É ali que fica a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Em frente está o Solar dos Neves, casarão em estilo colonial da família de Tancredo Neves, que era de São João.
Em frente fica o Museu de Arte Sacra, no qual não entrei, mas que parece ter algumas peças interessantes. Já atrás da Igreja do Rosário fica a Rua de Santo Antônio, também conhecida como Rua das Casas Tortas, que é bonitinha e vale a passagem.
Na outra direção, um pouco em frente, está a Catedral de Nossa Senhora do Pilar, construída a partir de 1721 – essa é outra igreja que vale a pena entrar. A partir dela você pode subir em direção à Igreja de Nossa Senhora das Mercês, que fica no alto de um morro, ou seguir pela rua Getúlio Vargas até chegar à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, outro ponto de São João que é especialista em fazer cartão-postal.
E não torça o nariz para igrejas, já que elas são as grandes estrelas da cidade. Lá, o toque de um sino é coisa séria. São João é a cidade histórica mineira onde a antiga linguagem dos sinos está mais bem preservada. Os sineiros também se envolvem em bandas e nas orquestras religiosas, o que faz com que a missa seja um programa interessante mesmo para quem não é católico.
Como chegar em São João del-Rei
São João del-Rei está a 190 km de Belo Horizonte. A Viação Sandra faz o trecho. Em geral, turistas que vão de ônibus seguem diretamente da rodoviária de São João para Tiradentes – dá para percorrer o trecho de ônibus urbano ou de táxi. Se for o seu caso, uma ideia pode ser passar essa primeira noite em São João del-Rei, só seguindo para Tiradentes na tarde do dia seguinte.
Nesse caso, uma alternativa é ir de Maria Fumaça, fazendo só um trecho do passeio turístico. Fica mais barato, continua interessante e você ganha tempo em São João del-Rei. Quem faz os dois trechos do passeio de trem no mesmo dia tem tempo só para almoçar e caminhar rapidamente por São João.
Mas o melhor mesmo é ir de carro. Se optar por fazer isso, você pode incluir no roteiro ainda uma parada em Congonhas, Patrimônio da Humanidade segundo a Unesco e que está no meio do caminho entre BH e São João. Ouro Preto, Mariana e Prados são outras cidades históricas que podem entrar mais facilmente no roteiro do viajante motorizado. Saiba aqui como alugar um carro garantindo o melhor custo/benefício.
Hospedagem em São João del-Rei
A Pousada dos Sinos é uma das mais procuradas. É uma hospedagem simples, mas com bom custo/benefício, que está perto da Igreja de São Francisco de Assis. Uma opção um pouco mais confortável é a a Pousada Villa Magnolia.
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Onde comer em São João del-Rei
Eu só estive em um restaurante, a Taberna d’Omar, que merece indicação por conta do endereço: de frente para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Uma baita vista e boa opção para comer. Ou uma paradinha rápida, seja para café ou aquela cervejinha.
Quando ir a São João del-Rei
Dá para ir em qualquer época, mas é bom saber que a temporada de chuvas vai de novembro a fevereiro. A Semana Santa costuma ser um período interessante, por conta das celebrações religiosas.
Gratidão por este post.
Estou planejando uns dias pelas cidades históricas, e seu relato só confirma minha idéia; ficar em São João e fazer o passeio de trem até Tiradentes.
Abraços
Boa tarde! Vc estacionou o carro e percorreu a cidade a pé?
Adorei seu blog e eu estava substimando São João Del Rey! Valeu!!
Valeu as dicas, não conhecia esta reportagem.
Rafael
Concordo com a Ana. Meu marido nasceu em São João del Rei, parto domiciliar na casa que hoje é sede do Jornal Gazeta. Aprendi a amar a cidade , tenho casa lá hoje para fins de semana mas a cada ida sempre me surpreendo com coisas e locais novos.Tem muito coisa especial e encantos enormes.Quem gosta de chás e misturar e temperos aromáticos tem o Albazaar especiarias da super agradável Lívia Lima Rezende perto da Igreja de São Francisco. O picolé do Amado não pode deixar de ser experimentado. As procissões religiosas são de uma beleza surpreendente.
Fiz algumas cidades da estrada real nos últimos anos e nenhuma me encantou tanto como São João del Rei. As igrejas são lindas, não é entupida de turistas como Tiradentes ou Ouro Preto, mas o melhor de tudo lá é o povo! Me encantei com a população da cidade e entendi o porque dos meus amigos sempre dizerem que meu estado é o melhor pra se turistar… em que outro lugar uma moradora abre a casa pra um bando de mochileiros às 23:00 e frita pra gente um monte de pastel de angu só porque a dona do hostel disse que a gente não podia ir embora sem comer? Que outro lugar, ao passar na frente de um prédio de universidade o porteiro, já te identificando de turista, vira e fala: “Olha moça, hoje tem recital da turma de música que tá formando!” e isso acaba se tornando uma das coisas mais maravilhosas que você já escutou? E a dona do hostel que levou todo mundo pra tomar o famoso sorvete do seu Amado (que nos deu um monte de amostra até a gente decidir entre aquele tanto de maravilha) mesmo já tendo até passado a hora que ela ia embora pra casa?
São João del Rei ganhou um lugar muito especial no meu coração no ano passado. Pra mim, é de longe, o melhor lugar turístico de Minas.