"O carnaval de 1919 foi digno do ano em que a humanidade, após tantos horrores, passa a gozar de uma nova era de paz”. Assim um jornal noticiou o fim da folia, na quarta de cinzas
A volta da paz
O planeta respirava aliviado em 1919. Tinha acabado a Primeira Guerra Mundial. Também foi nessa época o pico da epidemia de gripe espanhola, vírus que deixou 40 milhões de mortos.
"Começou o Carnaval e, de repente, da noite para o dia, usos, costumes e pudores tornaram-se antigos. Toda a nossa íntima estrutura fora tocada, alterada e, eu diria mesmo, substituída".
A frase anterior é de Nelson Rodrigues. Ele escreveu também: "E por quê? Eu diria que era a morte, sim, a morte que desfigurava a cidade e a tornava irreconhecível".
As músicas do carnaval de 1919 lembravam os anos de sofrimento causados pela guerra e pela gripe espanhola. As fantasias também aludiam aos acontecimentos.
"Na quarta, o Rio despertou convicto de que vivera o maior carnaval de sua história”, conta Ruy Castro no livro “Metrópole à Beira-Mar. A folia de 1919 mudou o carnaval - e o Brasil.
Nelson Rodrigues chegou a dizer que a festa tinha sido “sobretudo, uma vingança dos mortos mal vestidos, mal chorados e, por fim, mal enterrados” deixados pela epidemia.