E lá estávamos nós, em um dos maiores programas de turistão em Londres, nos espremendo entre pais com crianças sobre os ombros e tentando nos desviar das câmeras fotográficas. Poucos minutos antes, conhecemos uma velhinha simpática num posto de informações e ela nos alertou que a troca da guarda começaria em vinte minutos.
Consultei meu arquivo mental sobre a Inglaterra e me lembrei de ter ouvido algumas vezes que essa era uma atração que ninguém que estivesse de passagem por Londres poderia perder. Também lembrei de ouvir algo sobre furtos durante o evento e de rir da possibilidade de sair do Brasil para ser roubada na Europa. Por via das dúvidas, liguei o modo de segurança “você-está-próxima-à-rodoviária-de-BH” enquanto corríamos em direção ao famoso Palácio de Buckingham, nossa primeira atração na terra da rainha.
Juro que não achei que ia estar tão cheio. Não era cheio do tipo insuportável, mas cheio do tipo que você não consegue ver nada sem ter umas vinte cabeças na sua frente. E tinha gente, muita gente, do outro lado da rua, onde imaginei que se conseguisse ver menos ainda, e gente que chegava o tempo todo, desorientando o guarda que deveria manter a ordem na plateia. Foi no meio de tudo isso que eu ouvi um banda tocando em um rua próxima. E em poucos instantes, começou o espetáculo da monarquia.
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Para mim, o espetáculo durou uns oito minutos. Esse foi o tempo que eu levei até ficar de saco cheio de tentar ficar nas pontas dos pés para ver alguma coisa. Nos poucos momentos que eu consegui, vi um monte de homens de roupa vermelha e chapéu engraçado repetindo ações milimetricamente ensaiadas que não eram um espetáculo de beleza, nem de criatividade, nem chocante ou interessante.
Saímos de lá tão rápido quanto chegamos com aquela interrogação em nossas mentes.
– Why the hell as pessoas vêm pra Londres e perdem tempo tentando ver isso?
Mas aquela seria a primeira demonstração do espetáculo da monarquia inglesa para esses pobres brasileiros. Apenas alguns dias antes, estávamos em outra monarquia, a espanhola. No entanto, senti que, se não tivéssemos chegado em pleno feriado de orgulho nacional, talvez nem nos déssemos conta disso. Londres, assim como fez com as referências culturais, transformou a família real em uma atração turística.
Eu me lembro que, quando criança, perguntava para o meu pai o que era a tal monarquia que passava na propaganda da televisão. Ele me disse que se aquela opção ganhasse a eleição, o Brasil teria reis e rainhas. Com os olhos brilhando, tentei convencê-lo a votar na monarquia e ele riu da minha cara.
Na minha cabeça, se o Brasil tivesse reis e rainhas talvez eu poderia ser princesa, talvez um príncipe se apaixonasse por mim e talvez eu tivesse uma fada madrinha para me dar o que eu desejasse. Mas foi em uma terra de conto de fadas modernos que eu fui me meter uns vinte anos depois. Para todo o lugar que olhássemos, tinha um souvenir do último casamento real, uma foto dos noivos apaixonados estampada em uma caneca, chaveiro ou camiseta. E então surgiu a segunda interrogação:
– Que tipo de pessoa visita Londres e leva de souvenir uma caneca com a foto do Willian e da Kate? (Provavelmente o mesmo tipo de pessoa que visita Porto Seguro e leva uma camiseta “Alguém que me ama esteve na Bahia e se lembrou de mim”. Mas isto não vem ao caso).
Se você for a Londres, não leve um destes para casa. É brega.
Mas essa interrogação foi substituída assim que encontramos souvenirs com os dizeres “God save the queen”.
– Espera aí, a revolução francesa não acabou em 1799? Onde esse pessoal aqui estava mesmo? Ah é, deram um golpezinho de estado qualquer! Que falta fazem umas guilhotinas, hein?
O último espetáculo (e o mais caro de todos) foi a Torre de Londres, lugar que muito me interessava pela história e pouco pela principal atração: as joias da coroa. E era lá justamente que as pessoas paravam e ficavam admirando o monte de ouro e diamante que enfeitou a cabeça de gente que jurava ter o sangue azul. A interrogação da vez foi: – Quanto tempo vão demorar para perceber se eu quebrar esse vidro e fugir com essa coroa? Mas a divagação insana foi substituída por: – Não é possível que alguém acredite no direito divino desse povo de viver melhor que os outros. Então porque, meu deus, eles ainda mantém essa farsa?
A Rainha da Inglaterra e o turismo
Podem vir com todas as explicações. Eu já ouvi muitas delas. Podem dizer que é turismo, podem dizer que acontece a mesma coisa no Brasil, podem dizer que, ao invés da gravidez da Princesa Kate, as revistas de fofoca brasileiras publicam factóides sobre a Luana Piovani. Não importa. Depois de ter sobrevivido à troca da guarda, aos souvenirs e às joias da coroa, dentro de um avião que ia para Nova Delhi, só havia uma coisa que eu conseguia pensar sobre aquilo tudo: Como é babaca essa tal de monarquia. E certos foram os franceses, que arrancaram umas cabeças a tempo e acabaram com a festa.
PS: Quero deixar claro que não sou a favor da matança de nenhum membro das famílias reais que sobreviveram ao século 18.
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Fui ver outras coisas da cidade que me interessavam mais! Eu gosto de antiguidades, só não gosto de monarquias que ainda persistem no século 21! Que bom que você gostou disso e da troca da guarda, espero que tenha a oportunidade de voltar!
Abraços!
XXIII Encontro Monárquico Rio de Janeiro
Hotel Windsor Flórida
15 de junho
Presença da Família Imperial Brasileira e de lidenças monarquistas.
Ótimo!! Morrerei com as mesmas interrogações!
Perguntei isso ao longo da viagem pra 50 diferentes ingleses e, no máximo, 5 deles concordaram que a realeza é uma grande bobagem e que estão vivendo uma vida pra lá de mansa com dinheiro público. A grande maioria disse que não liga muito, que é turismo e tb parte da “identidade nacional”. Os ingleses ainda vivem a ilusão de superioridade do período vitoriano, é incrível tanta tolice (aliás, tolice não é privilégio de país nenhum)! Pra mim, é como dizer que político roubar é parte da “identidade nacional brasileira” e deixar a farra rolar solta… Sem cabimento.
Abraços pra vcs e boa sorte pela Índia!
Fred
Gente, é uma delícia ler os textos do 360! É uma delícia também pelos dados e informações sobre os lugares por onde vocês estão passando mas, principalmente, por conseguir, por meio dos textos, matar a saudade de vocês. Começo cada post tentando adivinhar quem escreveu esse – e acerto sempre – e logo começo a ouvir suas vozes pronunciando as frases. Naty, neste post consegui realmente escutar sua frase apressada, entrecortada por risos e acompanhada da cara-de-naty que você faz quando fala certas coisas. Tô adorando, gente!
Sim, um amor de pessoa…
Mas a elizabeth é tão simpática…
Se vc já sabia que Londres era assim e o Palácio também que foi fazer lá. Eu Fui gostei de troca de guardas dos guardas a cavalo e tudo o mais. Não trouxe caneca mas comprei uns lápis . Adorei vi a troca de Guarda bem de pertinho. É uma pena que vc não curtiu eu gosto de antiguidades.