Acredite, tem quem faça intercâmbio em Uganda, na África. A Gabriela Auricchio fez isso e garante que a experiência foi fantástica. Assim como a equipe do 360meridianos, o intercâmbio dela foi pela AIESEC, uma organização apartidária, independente, educacional, sem fins lucrativos e totalmente formada e gerenciada por estudantes universitários. Veja abaixo o relato da Gabriela.
Para começar meu relato, preciso dizer que caí de paraquedas em Uganda. Decidi que queria fazer um intercâmbio social e, por isso, escolhi o lugar do mundo que mais precisa de nós: África. Encontrei poucas informações de outros intercambistas, então parti pro tudo ou nada. Troquei alguns e-mails com o representante da AIESEC em Kampala, capital da Uganda, e soube que a ideia era trabalhar, juntamente com outros voluntários, com crianças carentes do país, ensinando um pouco sobre cultura mundial, saúde, higiene pessoal e desenvolvimento profissional. Menos de dois meses depois do primeiro contato, comprei minha passagem e fui.
As surpresas começaram já no aeroporto de Johanesburgo, África do Sul, onde fiz escala. O voo que me levaria até Uganda só tinha negros. Para eles, eu era uma atração a parte. Todos me olhavam com desconfiança, como se pensassem que eu estava no lugar errado. Cinco horas mais tarde, desembarquei em Kampala.
Já era noite no país, então não pude ver muita coisa, mas algo me chamou atenção: quase não se viam postes e as casas e comércios eram iluminados com velas. Perguntei se havia algum blackout na região. O representante da AIESEC me respondeu que não, aquilo era normal, quase nunca tinha energia elétrica por ali. Em seguida ele ligou o rádio do carro. Não entendi nada do que era falado ou das músicas… Perguntei de novo e tive outra surpresa: era uma rádio local, que transmitia em luganda, língua mais falada da nação. O inglês é o segundo idioma do país, mas logo descobri que era pouco falado. Em menos de uma semana vivendo em Uganda aprendi uma palavra inesquecível: muzungo, que quer dizer pessoa branca. E esse foi meu apelido durante seis semanas.
Além de aprender a conviver com a precariedade da energia elétrica, aprendi também a coletar água da chuva, a lavar roupa em bacias, a tomar banho de caneca, a usar uma latrina… Deixei de lado vários medos e preconceitos, além de passar a valorizar tudo o que temos disponível por aqui. Não vou mentir dizendo que foi fácil, porque não foi, mas valeu muito a pena.
Meu baldinho coletando água da chuva
Nos primeiros dias, pensei em desistir, mas o contato com as crianças me fez ficar. Logo que comecei a ensiná-las, me empolguei. Elas queriam saber tudo sobre o Brasil e muitas até aprenderam palavras em português. Trabalhei com os membros da ONG Childline Uganda, que se esforçavam para explicar as dinâmicas que eu propunha às crianças mais novas que não falam inglês. Elas faziam tudo com entusiasmo. E isso além do carinho, afeto e amizade desenvolvidos com muitas adolescentes.
Para finalizar um período de sucesso, ainda pude contar com a ajuda de diversos brasileiros que, sensibilizados com a situação da cidade onde eu estava, me enviaram fundos para comprar comida, roupas e materiais escolares para as crianças, principalmente as órfãs e HIV+. Foi uma alegria fazer a distribuição de tudo isso e cada abraço e sorriso recebido foi uma recompensa pessoal.
Eu e as crianças que são assistidas pela ONG
Outra questão com que precisei me acostumar foi a alimentação. Os habitantes têm o hábito de comer arroz e feijão (sim, eles também têm!) logo no café da manhã, e deixam para fazer um lanche só por volta das 16h. Eles estranhavam muito o fato de eu comer várias frutas pela manhã, pois eles não comem nada frio nesse horário, e davam risada quando eu dizia estar com fome ao meio-dia… Mas logo nossos relógios se acertaram e cada um cedeu um pouquinho – eu passei a comer mais comida no café da manhã (sem feijão, não consegui!) e eles, a almoçarem mais cedo. A única recomendação que eu tenho para quem se aventurar por lá é: não beba água se não for mineral! Parece óbvio, mas num deslize pedi gelo e foi o suficiente para meu estômago revirar por três dias! Vale à pena, também, trocar a carne vermelha por frango e coelho, muito consumido no país, pois são abatidos poucas horas antes do preparo. Outras carnes ficam por horas a venda sem a refrigeração adequada (energia elétrica precária, lembram? Hehehe).
O açougue em Uganda. Vai encarar?
Por fim, não deixe de fazer um Safári em Uganda! Eu visitei o Murchison Falls National Park, que tem cachoeiras lindíssimas e uma estrutura muito boa. O pernoite no parque é feito em barracas muito legais. Elas são enormes e têm camas, nada de dormir no chão, além de oferecer banheiros com vaso sanitário e chuveiro (foram dias de luxo na viagem! Hehehe). O parque também tem várias espécies de animais e você pode optar por pacotes que incluam também visitas aos gorilas e rinocerontes. Para mim, foi uma experiência mágica, pois meu sonho era ver um elefante africano de pertinho. Fui presenteada com a visão de vários deles, inclusive alguns filhotes, algo raro, segundo garantiu o guia que acompanhou meu grupo. Na última noite, ainda recebi a visita de um hipopótamo, que veio pastar ao lado da minha barraca. Foi muito emocionante ver aquele bicho enorme tão próximo!
Família de elefantes no Safári
Uganda é um país muito pobre, mas riquíssimo em experiências e aventuras. A quem desejar ir, recomendo que vá livre de preconceitos e preparado para enfrentar as precariedades do país. E, se possível, vá como voluntário. Não há nada mais recompensador, além de ser uma possibilidade de desenvolver o inglês ajudando o próximo. Quem se animar e quiser mais informações, pode me procurar por e-mail, no gauricchio@gmail.com.
*Foto destacada: Mercado de rua em Uganda, Andrew Regan, Wikimédia Commons
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Vocea sao sempre tao racistas pra falar de paises africanos
Ola,
Estou tem como me da mais informaçoes sobre uganda , pois estou querendo ir como voluntario mais estou verificando como funciona tudo .
lhe agradeço
meu contato se pode me manda um whats 92 98125-2319
Parabéns Gabriela. Sou um cientista que trabalha com outros colegas das américas, áfrica, asiane europa. Posso garantir que os colegas de Uganda foram aqueles que acima de tudo mostraram um lado muito humanitário. Eles são orgulhosos do seu país e não o trocam nem pelos mais desenvolvidos.
Tenho certeza que seu intercâmbio foi inesquecível.
Abraço
OLÁ GABRIELA,AMEI SEU COMENTÁRIO SOBRE UGANDA,MARAVILHOSO…DIA 04/02/2018 EMBARCO PARA UGANDA…ESTOU HÁ 7 ANOS EM MOÇAMBIQUE TRABALHANDO COM REFUGIADOS DE GUERRA ÀS MARGENS DO RIO ZAMBEZE…TRABALHO PARA UMA ONG DISTRIBUINDO SEMENTES PARA O PLANTIO,REMÉDIOS PARA MALÁRIA,CONSERTOS DE POÇOS ARTESIANOS ETC…MAS AGORA,UGANDA SERÁ O PRÓXIMO DESTINO E TRABALHOS,POR ISSO,ME CHAMOU A ATENÇÃO O SEU COMENTÁRIO…QUERO TE PARABENIZAR E DIZER QUE VC FOI “” GUERREIRA””,POIS NÃO É NADA FÁCIL PARA UMA MULHER ESTAR NESSE PAÍS E ENFRENTAR O QUE VC ENFRENTOU…PARA MIM, SEU COMENTÁRIO FOI DE GRANDE IMPORTÂNCIA…OBRIGADO E UM ABRAÇO.
eh emocionente e comovente ver a história de uma jovem com um futuro promissor dedicar sua vida a quem mais precisa. Parabéns que o seu exemplo seja multiplicado..