Muita gente chegou ao 360meridianos depois de jogar essa pergunta no Google. E isso tem sentido, afinal este blog nasceu quando os autores deixaram quase tudo – inclusive empregos – para fazer uma viagem de volta ao mundo e um intercâmbio na Índia. Se o intercâmbio foi planejado durante meses, a volta ao mundo surgiu sem querer e foi organizada em poucas semanas. Desde que contamos essa história, inspiramos muita gente a fazer o mesmo, ou pelo menos a sonhar com isso.
Se três jornalistas recém-formados conseguiram, por que outras pessoas não conseguiriam? De fato, já te contamos até que não é preciso ser rico para viajar pelo mundo por um ano – uma viagem dessas custa o valor de um carro popular. Possível é. Mas é preciso combater a ideia glamourizada de que uma longa viagem pode ser feita repentinamente, sem nenhum planejamento ou reflexão. A palavra “largar” dá a ideia de deixar tudo para trás sem pensar nas consequências do ato, e pode acreditar, não foi isso que fizemos. Quando deixamos o Brasil, em outubro de 2011, tínhamos tomado uma decisão consciente e coerente com o que desejávamos da vida. Sonha em fazer o mesmo? Então o primeiro passo é responder a uma variação da pergunta que abre este texto.
Eu posso largar tudo para viajar?
No nosso caso, o “tudo” era pouca coisa: só empregos que não queríamos mais. Quando eu resolvi passar um ano viajando, já estava decidido a mudar os rumos da minha profissional. Por isso, uma coisa completou a outra. O intercâmbio que eu fiz estava dentro da minha área profissional e passou a fazer parte – e se destacar – no meu currículo. Afinal de contas, dizer para um entrevistador que você trabalhou numa empresa na Índia no mínimo serve para quebrar o gelo, certo? Além disso, a única posse que tive que deixar para trás foi meu carro. Não fez falta.
Em Kuala Lumpur, Malásia
Mas e quando a pessoa tem filhos? Ou está no meio de um curso na universidade? Ou, não importa qual malabarismo finaceiro faça, ainda não juntou o dinheiro necessário para viajar? Nesses (e em outros) casos, pode ser que a viagem não seja possível naquele momento. Note que isso não significa que o sonho nunca será realizado – se você quer viajar pelo mundo, mas entende que este não é o melhor momento, planeje-se! Trace metas, objetivos, pense em formas de juntar a grana e organizar tudo. E saiba que esse estilo de vida não é exclusividade de solteiros sem filhos – tem muitas famílias com crianças rodando o mundo. Só que nesse caso será necessário planejamento e organização dobrada, além de muito equilíbrio na hora de tomar a decisão de viajar (ou não).
Concluí que não é prudente fazer uma viagem dessas. E agora?
Isso pode acontecer. Eu consigo imaginar a frustração de quem quer muito cair na estrada, mas não pode. Sabe por quê? Eu já passei por essa situação. Na semana que retornei da minha viagem de volta ao mundo, voltei ao trabalho. Era preciso pagar contas. Os 12 meses seguintes não foram fáceis e foi complicado controlar a vontade de comprar a primeira passagem para a Conchinchina. Mas eu não podia fazer isso – afinal nem mesmo tinha dinheiro. E aí? Como controlar a doença do viajante? Veja algumas das estratégias que eu usei:
1 – Viaje mais aos finais de semana. Não seja oito ou oitenta – você não precisa viajar apenas nas férias ou quando largar tudo e for rodar o mundo. Viagens curtas, mesmo que de apenas um fim de semana, podem te dar aquele gás para continuar lidando com o dia a dia. Foi assim que visitamos Florianópolis, no ano passado. Até viagens internacionais são possíveis num final de semana. A Luíza teve essa experiência em Buenos Aires.
2 – Viaje nos feriados prolongados. O período disponível para viajar aumenta, mas os preços também. Só que isso não significa que toda viagem em feriado seja cara. No ano passado, pagamos menos de 300 reais nas passagens de avião para Foz do Iguaçu, durante o feriado de Corpus Christi. Para fazer o mesmo, basta pesquisar e estar aberto para possibilidades. Se você ficaria num hostel na Europa, por que faz questão de ficar num resort no Brasil? Também não desconsidere viajar de ônibus quando as passagens de avião estiverem caras – foi assim que fomos ao Rio, durante o carnaval. Para viajar mais durante épocas concorridas, tenha flexibilidade.
3 – Viaje na sua cidade. É muito provável que o lugar onde você mora tenha várias atrações que você ainda não conhece. Que tal virar turista na sua própria cidade? Descubra passeios gratuitos e pare de procrastinar. Muitas vezes nós preferimos passar o fim de semana em casa, vendo TV, do que fazendo programas que deixariam muitos viajantes felizes. Mudar isso pode tornar seus finais de semana mais interessantes.
4 – Se seu trabalho te sufoca, lembre-se que a vida tem outros atrativos. A felicidade profissional é importante, mas divide espaço com família, amigos, lazer e descanso, entre outras coisas. Não deixe que seu trabalho sugue todo o seu tempo. De novo, é uma questão de evitar extremos. Sim, tirar um ano sabático pode ser uma experiência fantástica. Por outro lado, se isso ainda não é possível para você, evite cair no erro de só viver para trabalhar.
5 – Entenda que a vida não é uma sucessão de pontos altos, uma espécie de montanha-russa que tem que ser emocionante e memorável o tempo todo. É claro que muitas vezes o modelo de trabalho atual, que nos prende no escritório 6 dias por semana, 8 horas por dia, tem potencial para deixar a vida chata e tornar todos os dias iguais. Mas, pode acreditar: mesmo quem vive na estrada tem dias chatos, dias de ficar no hotel lendo um livro, dias de ficar de bobeira na frente da TV, enfim, dias que, anos depois, você não vai se lembrar o que fez. A vida é assim. Não podemos pautar nossa felicidade pelos momentos incríveis que nossos amigos compartilham no Facebook, afinal quase ninguém posta fotos de coisas entediantes.
Concluindo
O universo é igual ao meu quarto – ele tende ao caos. Por isso, toda decisão importante deve ser planejada e bem pensada, caso contrário nosso querido Murphy, um grande destruidor de viagens, pode aparecer. Veja a imagem abaixo, do sistema de preenchimento automático de buscas do Google. Sempre tem alguém querendo largar tudo para fazer alguma coisa, seja uma viagem, um novo amor, uma nova carreira ou para seguir Jesus.
Fazer isso é a decisão correta, ou uma baita cagada? Não há resposta certa e decisiva, afinal cada caso tem seu próprio contexto e no fundo toda decisão que tomamos na vida envolve deixar alguma coisa de lado. Se você escolheu fazer medicina, abriu mão da sua carreira na engenharia. Se escolheu um Deus, abriu mão de todos os outros. O cuidado a ser tomado é com os extremismos, tanto de pessoas que estimulam você a pedir demissão já, agora mesmo e de forma inconsequente, como de quem garante que só coisas ruins podem vir dessa decisão, muitas vezes apontada por essas pessoas como uma tentativa de fugir da realidade.
Índia
Se depois de muito refletir você resolver cair na estrada, uma última dica: pense de forma prática em como essa viagem pode te ajudar. Nós fizemos um intercâmbio profissional. Tem quem faça cursos de idioma. Ou trabalho voluntário. Enfim, ao procurar uma saída que vá além de só fazer turismo você abre as portas pra mudanças futuras na sua vida. No nosso caso, tão importante quanto o intercâmbio foi este blog, criado no dia que saímos do Brasil e já com grandes pretensões. Eu larguei meu emprego de carteira assinada e viajei o mundo, mas sempre tive a preocupação de postar e alimentar o 360meridianos, também um projeto profissional. Pouco mais de dois anos depois, o 360 virou minha única fonte de renda e possibilitou o estilo de vida que eu escolhi ter, o de nômade digital.
Viajar não significa fugir e nunca é igual a largar tudo, afinal certas coisas, como nossa família, sempre permanecem, mesmo que distantes. É possível criar e crescer profissionalmente durante uma grande viagem.
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Tenho muita vontade de fazer o ano sabático e viajar pelo mundo. Espero que consiga em breve. Adorei o post e ele me ajudou a criar mais coragem pra realizar!
Logo o mundo volta ao normal e dá pra gente planejar esses sonhos, Surian.
Abraço.
Quero muito viajar pra Kuala Lumpur, fiquei fascinado com o álbum de fotos do meu primo que foi em junho do ano passado pra lá, é lindo demais!
É uma cidade bem interessante, Fábio. Assim como o restante do sudeste asiático.