Acho que nunca contei tanto da minha vida aqui no blog como neste post. A ideia de escrevê-lo nem foi minha, foi da Naty. Quando li o título “Por que larguei o emprego e fui viajar”, dei muita risada. Afinal, não larguei o emprego uma ou duas vezes, mas três. Tudo para viajar. Não que eu odiasse muito meus trabalhos (talvez um pouco). Na verdade, seguindo o clichê do término de relações – o problema maior era comigo, não com os empregos. Eu nunca consegui passar mais de 2 anos no mesmo lugar. Quando dava esse tempo de trabalho, eu já começava a ficar agoniada. Eu olhava histórias de gente que trabalhava há 10, 20 anos, na mesma empresa e me perguntava: “mas como eles conseguem?”.
Felizmente, com o 360meridianos essa agonia nunca surgiu. Já temos o blog há mais de 2 5 anos, e em nenhum momento pensei em desistir. Muito pelo contrário, imagino até projetos para o futuro com ele. Já que finalmente eu me encontrei, acho legal te contar minha história. Em seis anos, pedi demissão três vezes.
2008
Eu tinha acabado de começar o sexto período da faculdade. Na época, eu era estagiária na TV UFMG, o canal de televisão universitário na minha faculdade. O Rafa (o outro autor aqui do blog) foi contratado como estagiário na Globo. Com isso, a vaga dele como trainee na TV ficou em aberto. O cargo de trainee era muito cobiçado, não só pelo salário com carteira assinada, mas também porque era uma posição de responsabilidade – você passava a chefiar a produção do jornal. Mas quando eu fui promovida a essa posição, eu já queria sair da TV, onde estava trabalhando há 1 ano e meio. Ao mesmo tempo que aceitei o cargo, comecei a procurar, junto com uma amiga, vagas de intercâmbio nos Estados Unidos.
Lincoln, NH – Estados Unidos
Eu larguei o cargo de prestígio no meu estágio para ir fritar hambúrguer por três meses nos EUA. Por mais que a vaga de trainee tenha me ensinado muito sobre liderança e trabalho em equipe, foi trabalhando por três meses num McDonald’s de uma cidade de mil habitantes, onde fazia – 30ºC, que eu aprendi muito sobre mim e sobre o mundo. Fiz amigos e desfiz uma amizade, fiz meu primeiro mochilão, conheci realidades, culturas, desfiz meus preconceitos. E de quebra, ainda fui mordida pelo bichinho do viajante. Eu voltei para o Brasil sabendo que precisava viajar mais.
2011
O ano anterior tinha sido uma confusão bem grande na minha vida, como imagino que anos pós formatura na faculdade devam ser para muitas pessoas. Eu estava cheia de dúvidas sobre o que eu queria construir na minha vida, em pânico porque os 30 chegariam logo (hahaha, como temos medos bestas, eu tinha 22 anos…) e eu não tinha feito nada de útil. Enfim, em janeiro de 2011, sem emprego, decidi que queria passar o ano no exterior, trabalhando na minha área. Foi quando conheci a AIESEC e a possibilidade de fazer esse intercâmbio virou realidade.
No meio do caminho, surgiram três propostas de emprego, várias dúvidas, inseguranças e blablabla. Acabei aceitando uma posição que me permitiria viajar no segundo semestre, caso tudo desse certo. Só que tudo estava dando errado. Eu fui promovida no emprego novo, com o melhor salário que eu já tive na minha carreira até aquele momento. Ao mesmo tempo, não conseguia nenhuma vaga de intercâmbio na minha área. Me lembro bem de um bar onde eu, Rafa e Naty lamentávamos que o intercâmbio tinha dado errado. O problema era que, mesmo com o bom salário e o trabalho numa área que eu gostava, com uma equipe legal, eu estava infeliz com a minha vida. Eu sentia que precisava mudar e se eu não tivesse coragem de fazer isso naquele momento, não conseguiria fazer mais.
Por ironia do destino, a Índia nos escolheu: o prazo de buscar vagas no sistema da AIESEC, que é de três meses, já estava vencendo quando uma empresa indiana abriu três posições de uma só vez. Foi assim que decidimos ir para o país da vaca sagrada. Lembro do momento em que finalmente fechamos a vaga, passaram mil coisas na minha cabeça. Eu mandei uma mensagem para minha mãe e fui na sala do meu chefe. Quando contei, ele riu e perguntou se eu tinha noção do que eu estava me metendo. Foi uma conversa boa, felizmente. Pedi demissão e trabalhei até a semana antes do embarque, para conseguir juntar mais dinheiro para viagem. Recebi apoio dos meu amigos no trabalho e alguns olhares tortos de gente que fazia piadinha com a minha loucura de largar tudo e ir para Índia – a viagem, como vocês sabem, cresceu e se tornou uma volta ao mundo.
Amritsar, Índia
Tem uma parte engraçada nessa história, que são as minhas relações familiares. Acho que uma das grandes frustrações da minha família foi a minha decisão de fazer jornalismo, não medicina. Pois é, na minha festinha de despedida, no sítio dos meus avós, minha mãe disse a seguinte frase: “É Luca, se você tivesse feito medicina não ia poder dar a volta ao mundo agora. Talvez você tenha feito a escolha certa”.
2013
Eu retornei da volta ao mundo muito diferente. Mas uma decisão que havia tomado antes mesmo de partir é que eu não iria mais morar em Belo Horizonte quando voltasse. Mais ou menos um mês depois de chegar, eu já estava embarcando de mala e cuia para São Paulo. Consegui um trabalho numa assessoria de imprensa. Foi a minha primeira e única entrevista de trabalho depois de voltar de viagem. Para aqueles que temem tirar um ano sabático e ficar “fora do mercado”, vou dizer que nunca tive tanto assunto e atraí tanto interesse de um entrevistador quanto dessa vez. O fato de ter trabalhado na Índia e dado uma volta ao mundo só favoreceu o meu currículo, assim como me tornou uma pessoa mais madura e preparada para lidar com várias situações da vida.
Ao mesmo tempo, foi a volta ao mundo e este blog que colaboraram para eu odiar meu trabalho com todas as forças. Fiz bons amigos lá, sem dúvida. E também aprendi bastante sobre um universo que nunca tinha trabalhado. Mas deixando de lado as problemas corporativos que vivi lá, o que mais me incomodava era o fato de ter que trabalhar de 9h às 18h, sem a menor flexibilidade. Um trabalho que na maioria das vezes eu poderia fazer de casa ou de qualquer lugar do mundo. Eu já estava para completar um ano como funcionária, com férias marcadas, quando decidi que iria pedir demissão.
Praga, República Tcheca
Não foi fácil, mesmo eu não gostando do que fazia. Passei semanas pensando, conversando com colegas, pedindo conselhos para minha irmã. O Rafa e a Naty já tinham decidido partir rumo à incerteza que é ser nômade digital no Brasil – já faziam freelas e investiam seu tempo no blog. Eu sou um pouco mais pé no chão ou medrosa quando o assunto é estabilidade financeira. Mas percebi que não dava mais. Claro que o crescimento do blog e propostas mais sólidas de parceria me fizeram ver que valia a pena apostar no 360meridianos como uma pequena empresa. Foi assim que eu pedi demissão mais uma vez para viajar. Saí da empresa e dois dias depois embarquei para uma viagem de 50 dias na Europa.
2014
Hoje, gasto meu tempo no 360meridianos. E consegui tempo para fazer um mestrado em Portugal. Sim, eu sou um pouco maluca por trocar um emprego certo para investir num projeto que, como todo projeto, pode dar errado. Mas é um projeto que eu acredito. Ser uma empreendedora através de um blog de viagens provoca olhares tortos e vários questionamentos não só da minha família, mas da sociedade. Mas estou apostando no que eu acredito e no que quero construir para minha vida. Não me vejo mais largando tudo para ir viajar, porque, afinal, hoje o meu trabalho viaja junto comigo.
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ME identifiquei muito com a seguinte frase “Eu nunca consegui passar mais de 2 anos no mesmo lugar”.
Eu sou exatamente assim, mas no meu caso, eu nunca passei de 1 ano na mesma empresa. Eu enjoo facilmente das coisas, da mesmice. Com isso, estou sempre mudando de emprego, o que é muito ruim para meu currículo.
Mas a vontade de sair para desbravar esse mundo nunca cessa.
Estou com inscrição aberta para fazer um intercâmbio de trabalho pela AISEC e espero que seja tão incrível como a sua.
Ei João,
Entendo sua inquietação e torço para que você encontre algum trabalho que alimente essa sua curiosidade. E bom intercâmbio
Olá Lu (olha a intimidade,rs)
Cheguei no 360 meridianos justamente por estar mudando minha vida…O que um primeiro mochilão não faz com gente, não é? Lendo sua trajetória, me identifiquei bastante com o início do seu processo e a personalidade (também sou mais medrosa quando o assuno é estabilidade financeira) e queria conversar mais sobre isso. Irei tomar o mesmo rumo que você, largar tudo e cair no mundo e, como sou jornalista, também pretendo investir em um blog profissional. Pode me dar umas dicas para esses primeiros passos? Tenho muiiiitas dúvidas sobre questões de trabalho.
Um grande abraço.
Oi Taís, tudo bom?
Já fizemos um monte de posts sobre esse processo, dá uma olhada se te ajuda:
https://www.360meridianos.com/2014/10/como-ter-um-blog-de-viagens-profissional.html
https://www.360meridianos.com/2013/04/nomade-digital-vida-com-mochila.html
bjss