Que viajar o mundo não precisa ser caro você já deve estar careca de saber. Afinal, desde que criamos o 360meridianos, no fim de 2011, batemos na tecla de que é possível viajar com pouco dinheiro. Mas o que você vai me dizer se eu te contar que economizei uma boa grana ao colocar uma mochila nas costas e cair na estrada? Pois foi exatamente isso que aconteceu comigo. E mais de uma vez.
Você já leu essa história dezenas de vezes aqui no 360: Em outubro de 2011, eu, Naty e Lu, autores do 360, resolvemos largar nossos empregos para fazer uma viagem de volta ao mundo e um intercâmbio na Índia. Já te contei até quanto gastamos: cerca de R$ 25 mil, valor que incluiu tudo – passagens aéreas, acomodação, seguro de viagem, transporte entre cidades e países, comidas, atrações turísticas, cerveja… Na época, contamos com uma taxa de câmbio bem mais camarada que a de hoje para ficar dentro desse orçamento.
Em Cingapura
Faça as contas, caro leitor, e você vai perceber que eu gastei R$ 2,5 mil por mês durante minha viagem de volta ao mundo. Sim, eu tenho consciência de que essa quantia representa muito para boa parte da população brasileira. Por outro lado, sei também que tem quem gaste muito mais que esse valor numa viagem de 20 dias pela Europa. A conclusão? Se viajar pelo mundo pode até não ser um sonho acessível para todo brasileiro, também passa longe de ser algo que só milionários podem realizar. Para deixar essa história clara, é hora de falar de dinheiro.
Em 2011, eu cometi um erro terrível: comprei um carro. Não que ele tenha sido inútil. Mas era caro. Eu pagava R$ 497 por mês na parcela do meu Celta (usado). O seguro automotivo levava embora outros R$ 110, enquanto meu gasto mensal com gasolina girava em torno de R$ 200. Como o carro era usado, coloque na conta também o valor da manutenção, vamos dizer que mais uns R$ 100.
497 + 110 + 200 + 100 = 907
Novecentos reais por mês só para ter um carro – e para me estressar no trânsito, claro. E note que não coloquei na conta o dinheiro do estacionamento, que jogaria o valor para a casa dos quatro dígitos.
Entendeu meu motivo para não ter um carro hoje em dia, mesmo vivendo no Brasil? Meu gasto com transporte público é quatro vezes menor, isso para não falar nos benefícios para natureza.
Kerala, Índia
Em 2011, eu não pagava aluguel e nem contas, afinal, ainda morava na casa da minha família. Como eu gastava metade do meu salário com um carro, o restante financiava um cursinho de inglês (R$ 250 por mês), minha conta de telefone (R$ 80), meus bares, cinemas e viagens, além de qualquer compra que eu precisasse fazer, fossem roupas ou um computador.
Assim iam embora R$ 2 mil por mês, quase o gasto mensal durante minha viagem de volta ao mundo.
“Mas pera aí. Você não disse que tinha economizado?”
Mudança para São Paulo
Quando voltei ao Brasil, em 2012, me mudei para São Paulo. Meu salário aumentou, mas meus gastos dispararam. Agora, o que consumia cerca de R$ 1 mil por mês era o aluguel e contas de luz, água e TV por assinatura. A conta do meu celular passou para R$ 140, enquanto o gasto com educação não diminuiu. O cursinho avançado de inglês custava cerca de R$ 330, enquanto o básico de espanhol me levava R$ 180.
Investimentos no futuro, eu sei, mas ainda assim um rombo no orçamento, né?
Nem preciso dizer havia um gasto mensal considerável com transporte público e com comida. E com bares, roupas, restaurantes e aquele monte de coisa que a gente muitas vezes não precisa, mas acaba comprando sem pensar. E, como não poderia deixar de ser, passei a ter pequenos custos típicos de quem começa uma nova vida em outro lugar. Foi preciso comprar uma cama, alguns móveis, eletrodomésticos… e a lista seria grande, não tivesse eu saído de São Paulo cerca de um anos depois de chegar lá.
Durante esses 12 meses, eu gastava entre R$ 2700 e R$ 3000 por mês. Faça as contas:
1000 + 140 + 330 + 180 = 1650
Os outros mil reais iam embora fácil, com os custos listados acima e o dia a dia numa cidade cara como São Paulo.
É claro que tem gente que vive na capital paulista com muito menos do que os valores citados. E sei que têm aqueles que precisam de mais para viver por lá – eu até que gastava pouco de aluguel e com as contas da casa, principalmente se comparado com amigos e conhecidos que tinham o mesmo padrão de vida.
A questão aqui é simples: no meu caso, viajar se provou mais barato do que viver o dia a dia de uma grande cidade. Pode ser que isso se aplique a você. Ou não.
Ao sair de São Paulo, passei dois meses viajando pela Europa. Estive em vários países: Espanha, Itália, França, Suíça, República Tcheca, Alemanha e Holanda. Em alguns deles, como a Espanha, meu custo de vida na estrada era muito mais barato do que meu custo de vida em São Paulo. Outras vezes eu quis voltar correndo para o Brasil, como na Suíça, que puxa seus Obamas numa velocidade impressionante.
Praga, República Tcheca
E até mesmo em cidades com fama de caras, como Paris, eu consegui viver com uma quantidade de dinheiro semelhante ao que eu gastava em São Paulo.
Sim, viajar pode ser mais barato ou ter o mesmo custo que a nossa rotina. E não apenas em lugares baratíssimos e que tornam qualquer brasileiro um milionário, como alguns países da Ásia, mas mesmo partes da Europa. Só que para isso é preciso transformar nossas viagens em… rotina.
Para economizar, viaje devagar
Quanto mais rápida for sua viagem, mais cara ela fica. Deslocamentos, sejam de avião ou por terra, encarecem viagens. Aquelas comprinhas que nós, brasileiros, tanto adoramos, também contribuem para tornar nossas viagens ainda mais caras. E atrações turísticas e bons restaurantes têm um preço – é óbvio que um turista gasta mais em Paris do que um parisiense, que compra comida no supermercado e não vai em uma atração turística por dia. Por isso, para transformar destinos turísticos supostamente caros em locais baratos, siga o mandamento: viaje devagar.
Burano, Veneza
Caia na estrada sem pressa. Fique dias, se possível semanas, na mesma cidade. Entenda que não é preciso visitar todos os pontos turísticos, comer todos os dias em bons restaurantes e nem comprar inúmeras lembrancinhas. Quando a estrada é sua casa e viagens são sua rotina, tudo se torna mais barato.
Bali, Indonésia
“Mas o problema não é dinheiro, é tempo”, você deve estar pensando. “Fora que, ou eu viajo durante minhas férias, usando meu salário, ou então como diabos vou arrumar dinheiro?”
Foi por isso que eu resolvi virar um nômade digital, um estilo de vida que me permite trabalhar de qualquer lugar do mundo, aproveitando as novas tecnologias e os milagres da internet. Com isso, posso ganhar dinheiro enquanto estou na França, na Índia ou no Japão.
Mas mesmo que isso não seja possível para você – ou que uma vida tão sem raízes não seja exatamente a sua praia – tenha em mente que viajar não precisa ser caro. É natural querer um pouco mais de conforto quando viajávamos muito raramente, mas o outro lado também é verdadeiro: se entendermos que viajar não é sinônimo de esbanjar, poderemos viajar mais. Você pode até não economizar ao cair na estrada, mas pelo menos não vai voltar pra casa cheio de contas enormes para pagar.
*Imagem destacada: Images_of_Money, Creative Commons
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Maneiro seu texto! Sua escrita é mt legal, de começo já dá pra sacar que foi vc que escreveu.
Me considero até bem econômica, o que me falta é coragem, pois é difícil conseguir cia para viagens quando você está disposto ($$$) a viajar. O jeito é ir sozinha mesmo.
Tô juntando coragem pra dar uma guinada dessas aí, até porque, profissionalmente falando, só patinei e não saí do lugar. Mas haja coragem, pqp!!!! Infelizmente minha área de atuação me impede de trabalhar em qualquer lugar. Mas, quem sabe eu não tenho uma ideia de gênio, né???
Vou continuar lendo os posts, valeu!!
Obrigado pelos elogios, Renata.
Se não achar companhia, vai sozinha! Você faz amigos pelo caminho, em hostels mundo afora.
Abraço e boa sorte!
Rafael,
Eu e minha esposa largamos aquela maldita “vidinha confortável” e caímos na estrada para dar a volta ao mundo, numa viagem de 1 ano. Já estamos viajando a 3 meses, no momento em Kuala Lumpur.
Estamos amando!!! E aquela sensação de qdo a gente sai da zona de conforto em algumas ocasiões, não tem preço..
Sempre ficamos de olho no 360 meridianos, pois as dicas que vcs nos dão são muito valiosas.
Você é um cara corajoso, e incentiva muita gente a não ter medo de se aventurar por esse mundo tão fascinante.. Continue assim!
Abraço. Marcel
Oi, Marcel!
Obrigado pelo elogio!
Que legal sua viagem? Está gostando de Kuala Lumpur? Eu curti bastante. =)
Vai contando pra gente como estão as coisas, onde vocês estão… É sempre legal acompanhar a viagem de outras pessoas.
Abraço.
Oi Rafa, obrigada pelos links!
Vocês do 360 Meridianos são muito queridos, dão dicas ótimas de um jeito leve e divertido…
Vou continuar lendo, aqui, que estou cada vez mais apaixonada por viajar…
🙂
Um grande abraço pra você e pras meninas!
Ana
Concordo com a Ana Maria .
O que me despertou o interesse em ler foi justamente o titulo’como eu econ…’
Gosto muito de textos como esse pois desmistifica mas voce meio q esqueceu do titulo.
Abraço
Hugo, beleza?
Bom, obrigado pela crítica, que achei pertinente. =)
Só que com um porém: muitas das dúvidas que a Ana Maria levantou já foram respondidas aqui no blog, ao longo de quase 700 artigos.
Perceba que são perguntas complicadas e que colocar tudo isso num único texto seria inviável. Por isso, usamos links ao longo do texto, que redirecionam para textos complementares. Agora, percebo que eu poderia ter colocado mais links ou mesmo ter deixado isso mais claro. Vou corrigir o problema.
Se o que você quer saber é mais prático, tipo dicas para economizar na estrada, te aconselho a ler os seguintes textos:
https://www.360meridianos.com/dica/15-dicas-como-viajar-gastando-pouco
https://www.360meridianos.com/dica/dicas-como-economizar-para-viajar
https://www.360meridianos.com/2013/07/viaje-mais-gaste-menos-em-compras.html
https://www.360meridianos.com/2014/03/9-paises-fugir-precos-sao-paulo.html
https://www.360meridianos.com/2013/09/viajar-me-deixou-milionario.html
Abraço!
Abraço!
Oi Rafael!
Gostei muito do texto, mas parece que terminou de repente, sem responder a pergunta: “Como economizei dinheiro ao viajar pelo mundo”…
Assim como você discriminou as despesas no Brasil com perfeição e acho que muita gente se identificou, seria legal saber como vocês se viraram com os R$ 25.000,00 ao longo desse tempo de viagem.
Você colocou fotos de Cingapura, Índia, Praga, Veneza, Bali… Que tal fazer um levantamento das despesas em cada um desses lugares, como você fez com as de São Paulo? E que tal explicar melhor o conceito de “viaje devagar” e o que você quis dizer com transformar a viagem em “rotina”?
E outra dúvida que, se você achar interessante comentar, gostaria de saber: como vocês levaram dinheiro, para todo esse tempo? Em cash, travel money, cartão de crédito?…
Com certeza, anima os viajantes ler relatos assim, pois como você diz, não é um sonho impossível, dar a volta ao mundo!
Um abraço!
Ana Maria
Oi, Ana, tudo bem?
Obrigado pelo comentário. Fico feliz de saber que você gostou do texto e também agradeço pela sua crítica, que foi bastante educada e construtiva. =)
Então, muitas dessas perguntas já foram respondidas em outros textos do blog, afinal seria impossível colocar toda essa informação num único texto.
De qualquer forma, seu comentário me fez ver que eu deveria ter colocado mais links ao longo do texto, demonstrando onde estão as respostas e assuntos similares. E você também me deu ideias de temas que ainda temos que abordar por aqui.
Vamos lá:
Gastos de viagem – veja esses textos aqui:
https://www.360meridianos.com/dica/veneza-barata-e-possivel
https://www.360meridianos.com/dica/quanto-custa-viagem-de-volta-ao-mundo
https://www.360meridianos.com/dica/quanto-custa-viajar-para-tailandia
https://www.360meridianos.com/dica/quanto-custa-uma-viagem-para-india
https://www.360meridianos.com/dica/tira-duvidas-viagens-para-india-parte-1
https://www.360meridianos.com/dica/quanto-custa-um-mochilao-pela-europa
https://www.360meridianos.com/2013/09/viajar-me-deixou-milionario.html
Para volta ao mundo, veja esses posts aqui:
https://www.360meridianos.com/dica/planejar-volta-ao-mundo
Sobre como levar dinheiro, falei sobre isso em textos variados, mas realmente é um tema que pode ser melhor explorado. =)
Respondendo de forma simplificada, eu levei um travel card, habilitei meu cartão de débito para uso no exterior, levei dois cartões de crédito internacionais e levei um pouco de dinheiro em espécie.
Ou seja, praticamente todos os meios possíveis. Para uma viagem longa dessas isso é fundamental, assim você tem várias saídas, caso alguma falhe. Eu costumo manter meus cartões em locais diferentes também (alguns na doleira, outros na carteira, uns no cofre do hotel, tudo por questão de segurança mesmo).
Sobre a questão de viajar devagar, a ideia é não correr. Sabe aquela vontade de ver todos os lugares? Então, não faça isso. Fique mais tempo em cada cidade, ao invés de ficar mudando de cidade em cidade a cada um ou dois dias. Assim a viaja fica mais barata e mais relaxante. Falei brevemente sobre isso aqui:
https://www.360meridianos.com/dica/planejamento-de-viagens-seis-coisas-que-a-estrada-me-ensinou
De qualquer forma, vou fazer um post só sobre isso no futuro. E por indicação sua. hehehe
Abraço.