Se eu fosse um trabalhador de carteira assinada, já teria direito a pensar nas férias: tem quase um ano que trabalho por conta própria. Nada de escritórios, nada de deslocamento até o trabalho – hoje eu vivo no home office, por mais que o contexto de “home”, ou casa, seja bem versátil.
Nesse tempo, trabalhei da Europa, de São Paulo, de Belo Horizonte e de Guarapari, no Espírito Santo. Cada um desses lugares foi minha casa por alguns meses. Não vou mentir para você não: eu adoro minha vida profissional.
No meu último trabalho de carteira assinada, num veículo de comunicação de São Paulo, eu perdia quase 2 horas do meu dia no trânsito. Não é uma maravilha pensar que isso acabou?
Por mais que trabalhar de casa seja algo fantástico para mim, esse primeiro ano me ensinou também que a vida profissional fora do escritório tem seus problemas. O pior deles? Ninguém respeita o home office.
Equipe do 360 na “casa” de Berlim: um hostel
Mas como você vai ganhar dinheiro sem sair de casa?
Quando eu avisei que estava deixando meu emprego, em junho do ano passado, minha família não se importou muito. Aquele era meu quinto trampo de carteira assinada em três anos, mudanças que deixaram tudo mundo acostumado com minhas saídas repentinas de empresas.
O que assustou minha família foi outra coisa: eu disse que não procuraria mais um emprego.
E olha que na época eu nem destaquei meu plano completo – disse apenas que passaria a viver de frilas, trabalhos para as mesmas empresas que vinham me empregando nos últimos anos, mas agora no esquema home office e sem carteira assinada. Se eu tivesse falado o plano a médio prazo então, aí o pânico seria geral. Imagina o que sua família iria dizer se você contasse que seu plano é viver só de blog?
Pois é.
Mas, bem ou mal, já tem alguns meses que meu último frila ficou para trás. Hoje, 100% da minha renda vem do 360meridianos. Minha família começou a entender isso. Quer dizer, eles entendem que eu ganho dinheiro, afinal não peço grana para ninguém, mas não tenho certeza se eles entenderam a ideia de “viver de blog” + home office.
Eles já perceberam que, quando eu estou em Belo Horizonte, passo boa parte do meu tempo em frente ao computador, supostamente trabalhando, mas podem achar que eu estou vendendo drogas, ganhando dinheiro com poker online ou fazendo qualquer coisa mais palpável do que “ser blogueiro”. Não dá para culpá-los. Se a ideia de que uma empresa paga um funcionário para ficar em casa já é algo complicado de acreditar, pensar num blog como projeto profissional é um alvo mais alto ainda.
O que explica uma das perguntas mais frequentes que ouvi no último ano:
“Você não pretende achar um trabalho de verdade não?”, diz o parente X.
“Errr, não. Até por que eu tenho um emprego de verdade. E estou feliz assim.”
A resposta nem sempre convence o interlocutor. E isso leva a outra pergunta que já cansei de ouvir…
Por que você não faz um concurso público?
A primeira pessoa a sugerir isso foi minha avó paterna. Depois de tocar no assunto algumas vezes, sempre sem muito sucesso na conversa, ela desistiu.
Quer dizer, eu achei que ela tinha desistido, mas na realidade rolou só uma mudança de tática (né, vó?) – quando fui visitar minha outra avó, descobri que o discurso das duas estava estranhamente afinado. Então é assim: aparentemente minhas duas avós combinaram uma estratégia conjunta para me convencer que um concurso público é a melhor opção.
A intenção delas, e do restante da família que aderiu ao discurso, é boa, claro.
Mas não, gente, não vou fazer um concurso público. Eu trabalho de casa. E vivo do blog.
“Ai meu Deus!”
Você podia cuidar mais dessa casa, hein? Fica o dia todo por lá mesmo…
Segundo uma pesquisa feita em 2012 pela Regus, empresa multinacional, 64% dos profissionais brasileiros que trabalham no esquema home office dizem que as demandas familiares são o maior desafio para quem trabalha de casa.
Você podia lavar a louça. Levar o cachorro para passear. Limpar o jardim. Fazer o almoço. Bater um papo comigo. Que tal a gente tomar uma cervejinha agora, afinal você está sem fazer nada em casa mesmo, né? Ou então vem cá coçar minha orelha.
Sério que você precisa trabalhar agora?
Se você trabalha de casa, é provável que já tenha escutado algo assim. Leva um tempo para sua família (inclusive os pets) entender que você pode até não estar fisicamente no trabalho, mas nem por isso está vagabundando ou de bobeira na internet.
Eu sofri menos com isso porque não fiquei tanto em Belo Horizonte nos últimos meses, mas também precisei de passar por essa fase de adaptação familar.
E aqui, uma dica: equilíbrio. O fato de você estar em casa não significa que você possa fazer N tarefas domésticas durante o expediente, mas também é possível usar uma das maiores belezas do home office, a flexibilidade, para se adaptar ao funcionamento da casa. Eu, por exemplo, comecei a trabalhar muito depois das 21h. Por sorte, esse é um dos horários que eu me sinto mais produtivo.
Você não acha que trabalha mais do que deveria?
Se no início minha vó queria que eu fizesse um concurso público, no mês passado ela me perguntou se eu não estava trabalhando mais do que quando eu era só um funcionário. A resposta?
Sim, sem dúvida. Muito mais.
Hoje, eu trabalho muito mais do que oito horas por dia. Não encerro meu expediente às 18h – na realidade, trabalho mais ainda depois que anoitece. Nem sempre tenho folga aos finais de semana e já nem me lembro que um feriado é um… feriado. Pra mim é só um dia como outro qualquer.
Mas tem uma diferença: eu faço isso por prazer. Faço isso porque quero e gosto. Além disso, como estamos finalizando o processo de profissionalização do 360meridianos, o primeiro semestre de 2014 foi mesmo muito intenso, mas não será assim a partir de julho, quando as coisas devem estar nos eixos.
E tem outra coisa positiva: demorou um ano, mas minha família percebeu que eu trabalho MUITO de casa. Agora só falta convencê-los que eu não manjo nada de poker online.
Você se sente com sorte?
Dica: garanta que pelo menos você respeite o home office
Se a sociedade tem dificuldades para entender que casa também é local de trabalho, certifique-se de que pelo menos você respeite a ideia. Uma das maiores dificuldades que eu enfrento no momento é a falta de um local de trabalho adequeado – cadeira e mesa apropriadas, por exemplo. O investimento até que é baixo, mas como eu vivo viajando e não tenho um local de trabalho fixo, não tem sentido fazê-lo nesse momento.
Se esse não for o seu caso, tire o escorpião do bolso e compre seu próprio escritório. Na mesma pesquisa citada acima, 32% dos brasileiros disseram que a falta de um local ideal de trabalho é um dos desafios do home office, o que pode ser um baita problema a longo prazo.
Foto: inkflo, Creative Commons
O também já citado equilíbrio entre trabalho e lazer é outro cuidado importante. Se eu quero assistir a um filme no meio da tarde de segunda-feira, eu simplesmente faço isso. Resolver não trabalhar numa terça, mas passar o dia na praia ou turistando por alguma cidade também é uma decisão fácil.
Por outro lado, tomo cuidado para nunca me esquecer dos compromissos e demandas profissionais. Para isso, criar uma rotina e ter um guia de demandas, uma agenda com tudo que tenho que fazer naquele dia, sempre é de grande ajuda.
Fora isso, tem sido um desafio não deixar o trabalho invadir os momentos de lazer. Como 360 mexe tanto com a gente, não é incomum que seja tema de conversas na mesa do bar, por exemplo. Recentemente passamos a fazer esforços para evitar isso – afinal de contas, é até aceitável levar o trabalho para casa, mas o bar é sagrado. É preciso respeitar alguma fronteira, nem que seja só de vez em quando.
*Imagem de abertura do post: Elly Köpf / CC BY-SA
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Artigo perfeito, eu comecei a trabalhar em home office tem pouco tempo, sou programador em uma empresa e tenho alguns blogs, mas por incrível que pareça as pessoas acham que eu passo o dia atoa, vou compartilhar essa matéria pra ver se assim o povo acorda que o futuro é home office
Por que será que o povo olha pra gente e acha que devemos ser funcionários públicos, né? No meu caso, toda minha família é e a família do meu marido, também! Por um bom tempo eu fui pra cursinhos, achando que esse era o meu destino!! Só que não!!! Também já trabalhei de carteira assinada, ganhando muito bem, por sinal. Mas me desliguei para acompanhar o marido, que trabalha numa empresa que transfere o povo a toda hora! Desde então, eu faço meus freelas e de um tempo pra cá, me dedico ao blog. Mas não sem ouvir dos parentes: “fica escrevendo tanto ai, pra quê? Não vejo resultado nenhum disso” ou “cadastra teu cv na Catho”… Ainda bem que o marido não fala nada ahahahah… Beijão
Já passei por isso, Marcia. Demora, mas uma hora o povo entende. Paciência. 🙂
Abraço e obrigado pelo comentário.
Ótimo texto Rafael. Voltei de uma viagem de bike que durou 1 ano e meio. Estou para lançar um site novo esse ano. Realmente…Minha mãe só vai entender que isso também é trabalho quando eu tiver ganhando grana com a loja virtual. Estamos cheios de coisas para agilizar, mas ela não entende. Achei qie fosse só comigo, fiquei até mais confiante depois de ler o seu texto. Abraços.
Deixa os frutos (ou seja, dinheiro) aparecerem. Um dia a família passa a acreditar.
Abraço e boa sorte, Julie.
Hoje vivo do mercado financeiro, sou “Day Trader” e encontro dificuldades para que os demais reconheçam e aceitem esta minha escolha. Já fui concurseiro acredita? E pior, passei no último que fiz… isso já tem dois anos e um dia irão me chamar… mas… problemas deles! kkk To adorando minha nova vida, é o que sempre quis, apesar de ainda estar longe dos meus ganhos esperados!
Mas liberdade compensa o lado financeiro, né? Eu sei bem como é isso. 🙂
E uma hora, com muito trabalho, o lado financeiro melhora.
Abraço e obrigado pelo comentário, Filipe.
Esse post complementou um muito interessante que li no blog FÊliz com a vida.
Realmente o Home Office ainda é um mistério para muitos. Muitos que acham que os resultados vem apenas do suor e sangue (drama rs).
Há anos venho tentando e estabelecer em Home Office mas só agora tenho a sensação de que entendo como as coisas funcionam. Não ganho quase nada assim e não é minha renda principal mas mesmo assim acredito que com o passar dos anos conseguirei o que desejo.
Já tenho um bom espaço para trabalhar, agora só falta ajeitar as coisas comigo mesmo.
Abraço!
P.s: Falar em concurso público me causa urticária seguida de calafrios intensos.
Tenho tremedeiras só de pensar em concurso público, Vinícius.
Abraço.
Até hoje não entendi como alguém consegue ganhar dinheiro com blog. Como um blog pode ser produtivo e vital para terceiros ? Como pode gerar renda ?
Me desculpe o desconhecimento mas gostaria de respostas.
haha! Pouca gente entende, Laender. Minha família, por exemplo, me pergunta isso diariamente.
Mas é relativamente simples: um blog é um veículo de comunicação, assim como um jornal, um rádio ou uma emissora de TV.
A Globo produz conteúdo gratuito (jornais, novelas, etc) e, em troca, vende propaganda nos intervalos. Essa lógica também vale para um blog – vendemos espaços publicitários, os banners que estão no site e outras ações semelhantes.
Muitas vezes pensamos num blog como um hobbie, o que tem sentido, já que os blogs começaram assim. Mas muitos hoje já tem audiência de gente grande e planejamento profissional. =)
Além disso, também vendemos produtos (livros) e participamos de programas de afiliados, que permitem que um leitor reserve um hotel a partir do blog.
Enfim, é um trabalho como o de qualquer outro veículo de comunicação. Se tiver curiosidade, leia sobre nossa política de monetização:
https://www.360meridianos.com/politica-comercial
Abraço!
Caraca, parece que eu escrevi esse post. hahaha
Concurso público é uma parada que me irrita. Também tenho uma penca de gente tentando me convencer a ser funcionária do governo. To fora.
Sobre equilibrar as tarefas domésticas com o trabalho, é complicado mesmo. Não quero soar machista mas acho que é até mais chato pras mulheres porque espera-se que ela limpe, cozinhe, lave e passe. Mesmo assim, prefiro parar várias vezes no “meio do expediente” pra fazer essas coisas do que perder 4 horas no trânsito todo dia.
Eu também rendo muito mais à noite, é impressionante. Não sou uma morning person de jeito nenhum. Fico até 2, 3 da manhã trabalhando feliz e contente mas não me acorde às 6!
Também estou com a dificuldade da falta de um espaço dedicado para trabalhar. No meu antigo apartamento (que era provisório e praticamente não tinha móveis) eu trabalhava no sofá. Entreguei o apt e me mudei pra casa da minha mãe enquanto o visto pra Arábia não saía. Nesse tempo todo trabalhei na mesa de jantar. Semana que vem chego na minha nova casa na Arábia e nem sei se tem mesa lá. rsrsrs
Eu ainda tenho muuuita dificuldade em parar no meio do dia pra ver um filme ou me dar ao luxo de não trabalhar um dia da semana. Acho que me cobro muito pra produzir, sabe? Estou tentando relaxar mais nesse aspecto mas por enquanto eu sou aloka do home office que trabalha 14 horas por dia. rs
Estou super curioso pra saber como vai ser sua vida na Arábia, Debora. Começa agora, né? Vou acompanhar tudo. hehehe
Boa sorte pra você! Tenho certeza que será uma experiência incrível.
Abraço!
Uau! Adorei o post e JURO DE PÉ JUNTO que acordei pensando em fazer um post sobre meu próprio home office hoje, pois estava batendo uma luz tão bonita que tirei uma foto! Daí por coincidência, abri meu face e estava o seu. Me identifiquei bastante, meus parentes não entendem porque estudei taantos anos na vida, faculdade, mestrado etc e agora fico “zanzando na internet” o dia todo. Muitas boas as dicas, meu maior desafio é dividir o tempo entre o trabalho com as tarefas domésticas. Tô indo comprar uma mesa nova.
😉
Que bom que gostou do post, Adriana!
Depois faz um sobre o seu home office e manda pra gente. =)
Abraço.