O que aprendi com a África

por Rafael Casagrande Feltrin

Talvez desde pivete, assistindo aos documentários do antológico “Planeta Terra”, da TV Cultura, o indivíduo que vos escreve já havia despertado uma sensação de fascínio pela África. Minha imaginação me teletransportava àquelas paisagens magníficas, safáris e afins; sim, todo o contexto “clichê” de África que arrebata nosso inconsciente quando ela nos vem à cabeça. Ainda mais numa criança encantada pelo filme do “Rei Leão”, o que fazia isso ser, praticamente, um brainstorm sem fim: “Um dia eu quero ir pra lá” – fazia questão de repetir mil vezes enquanto via um leão correndo atrás de uma hiena ou algumas girafas correndo sob o pôr do sol na savana.

África Rafael Feltrin

Alguns anos depois, dito e feito: entre algumas idas e vindas pelo mundo, havia chegado a hora dela – e não estou falando do leão, nem da hiena – me lembro como se fosse hoje, no dia 4 de Janeiro de 2008, às 17:10, sentado na sala de embarque do aeroporto de Guarulhos, aguardando meu voo com destino à Joanesburgo, para um curso na Universidade local e posteriormente uma extensão para Cape Town. Melhor impossível; o pivete fascinado pela África estava a poucos minutos de ter uma das melhores experiências da sua vida, que além da realização de um sonho, viria a ser um amadurecimento único.

Johanesburgo África

Chegando em Jo’Burg (só para os íntimos), me deparei com a cidade de São Paulo, um pouco mais tumultuada, mas com um trânsito menos caótico. “Ei, cuidado ao andar por aí, cara, eu sugiro que você pegue um táxi se quiser ir a algum lugar” foi a frase de boas-vindas que ouvi de um residente, enquanto aguardava minha bagagem na esteira. Claro que convém esse tipo de informação, afinal eu estava desembarcando em uma das cidades mais violentas do mundo, mas, para quem está acostumado com São Paulo, noção de segurança não é nada que a gente não saiba.

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Joanesburgo não para, por nada. A maior cidade da África do Sul tem horários de pico que me lembravam a Av. Paulista, com músicos em algumas esquinas tocando saxofone, mas por incrível que pareça, eles são respeitados e admirados no meio do caos que estiver rolando (diferente de SP).

Monumentos e lugares repletos de história, o museu do Apartheid – um bom banho cultural de um país que sorri todas as vezes que pronuncia o nome “Nelson Mandela”; Pubs e festas de música eletrônica numa terça-feira, típica de rotina; Joanesburgo era fantasticamente imprevisível aos olhos de quem estava descobrindo àquele gosto. E claro, como de praxe, referências ao futebol brasileiro em todo lugar que eu entrava, vestindo uma camisa da seleção.

Já em Cape Town, concluí que havia encontrado o paraíso. Sem demagogias ou exagero – entre todos os lugares que já conheci, nada se compara à energia daquela cidade, não somente pela beleza, como no clima, no astral e entusiasmo de todo mundo que mora lá. Esse lugar é daqueles que tem uma certa mágica, um tanto subjetiva, que te faz querer sentar na areia da praia e pensar “isso é o que eu quero da vida” e agradecer infinitamente a Deus por aquilo.

table mountain

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Sob uma geografia privilegiada, a cidade é colorida num azul de céu e mar que se confundem; areia branca e casas de verão perto de grandes rochas, onde vez ou outra recebem a visita de pinguins. A Cidade do Cabo é cativante, desse jeito mesmo. E não há preço ou valor algum, que pague o sol nascendo entre as montanhas. E eu fui abençoado ao trazer aquilo pro meu mundo. E meus sonhos da época de pivete também me agradeciam a cada sol que nascia e que se punha. Vivendo lá, o roteiro foi muito além dos sonhos, Moçambique, Zimbábue; claro que o “ex-pivete” foi parar onde sempre quis: no meio da savana, vendo leões, búfalos, elefantes e tudo o que seu coração tinha guardado há anos.

África Rafael Feltrin

África Rafael Feltrin
África Rafael Feltrin

Também conheci o que o outro lado da moeda chama de África e, este não existia nos meus sonhos quando assistia ao “Planeta Terra” na TV, quem dirá o “Rei Leão”. Vi o racismo explícito, muitos reflexos do Apartheid que existem até hoje, a pobreza extrema, vi um lugar onde o contraste social é desumano, o que me tornou muito mais humano, me fez olhar para dentro.

África Rafael Feltrin

África Rafael Feltrin

Não é um lugar perfeito, porém, no fim das contas a África me rendeu muito além do que eu imaginava. Nessa equação de aprendizado, o autoconhecimento e a sensação que esse tal continente me proporcionou, é algo que eu já guardei pra sempre. É onde eu já deixei boa parte de mim. Assim, no dia em que voltar, quem sabe aquele pôr do sol esteja mais bonito ainda.

 

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11 comentários sobre o texto “O que aprendi com a África

  1. Conheci Cape Town em maio de 2014. Fiz um intercambio, revezando entre aulas de inglês e passeios fodásticos pelos arredores da cidade – na melhor escola para estudantes estrangeiros lá: LAL SCHOOL.- fica bem no centro, ali no bairro Sea Point, na Main Road. Puta-que-o-pariu do pedaço de céu! (com o perdão da palavra).

    Não conheci uma pessoa ainda que não se deslumbrou com aquele lugar.

    abraço a todos gente e boas viagens!

  2. Nossa, nunca li palavras tão perfeitas pra descrever Cape Town! Um dia ainda volto! Estou adorando o blog, me faz recordar coisas lindas que vivi na África do Sul!

  3. Boa Noite, acabei de encontrar esse blog.
    Tenho ânsia de saber cada detalhe desse destino que irei conhecer em Setembro.

    Quais seriam as dicas pra quem viaja pra Johannesburgo e Cape town?
    Tenho várias dúvidas, como se levo dólar ou a moeda local?
    Setembro é uma boa época pra ir?

    Obrigada!!!

  4. Belo relato, retrata bem como fica a nossa cabeça depois de passar pela África do Sul, passei 29 dias na “Cidade Mãe” e todos os dias eu aprendia com os sul-africanos, desde o sorrir pelas pequenas coisas, até a luta diária nas townchips. Cape Town é demais seja pelo seu povo, seja por suas belezas, cada vez que vejo alguém falando bem dela, me emociono como se fizesse parte de mim.

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