Uma estrada reta de terra avermelhada cortava um cerrado que tende ao infinito. Olhei pela janela. De um lado, árvores tortas, vegetação rasteira e poeira. Do outro? A mesma coisa, até a vista falhar. Misture isso com um céu de cores quase inverossímeis. Acrescente cachoeiras, lagos, rios, algumas dunas e, claro, relevo à moda das chapadas. Assim é o Jalapão, uma parte especial do Tocantins.
Tocantins que, assim como o Jalapão, é novo, ainda desconhecido pelo viajante do resto do Brasil. Erro nosso, culpa nossa – já passou da hora de colocarmos o Jalapão na galeria dos grandes destinos brasileiros, lado a lado com Noronha, Foz e a Amazônia, entre outros.
Erro que tentei começar a corrigir na última semana, quando desembarquei em Palmas, a mais nova capital estadual do país, fundada em 1989. Mas não foi dessa vez que tive tempo para conhecer melhor essa cidade de avenidas retas e quarteirões organizados. Um dia depois de desembarcar no norte do país – sim, o Tocantins está na região norte – comecei a longa viagem rumo ao Jalapão.
Dentro do caminhão adaptado para estradas pouco adaptadas para caminhões, balançávamos sem parar. E, pouco a pouco, deixamos tudo para trás – asfalto, cidades, casas, carros e pessoas sumiram do mapa. É que o Jalapão, transformado em Parque Estadual em 2001, é enorme: maior que Sergipe. Só que no Jalapão gente é um artigo muito mais raro que no estado nordestino. A densidade populacional é de 0,8 pessoas por km², uma das menores do Brasil – há quem diga que é a menor.
Uma vez dentro do Jalapão, é possível passar dias sem trombar com gente. Como eu estava viajando em grupo, convivi diariamente com cerca de 30 pessoas, mas era raro cruzarmos com outros carros durante nossas andanças por lá. Só mesmo numa das poucas cidades que ficam dentro do parque, sendo que a maior serve de moradia para uma multidão de oito mil jalaponeses.
Tão pouca gente, tão poucas estradas. É preciso de um dia quase inteiro de viagem, a partir de Palmas e em veículos 4×4, para conquistar o Jalapão. Tudo isso fez com que uma das regiões mais bonitas do Brasil permanecesse preservada e desconhecida até o começo desta década, quando turistas começaram a chegar em maior número.
O Jalapão talvez seja a maior prova de que o Brasil ainda não revelou todos os segredos turísticos que é capaz. Um lugar lindo, único e que, vai entender como, esteve sempre ali, no coração do Brasil, mas escondido do brasileiro. Se o Brasil foi capaz de guardar o Jalapão por tanto tempo, o que será que ainda temos para conhecer?
Por ser o destino e a casa de tão poucos, o Jalapão logo conquista os que passam por lá. E olha que o tratamento preparatório para ficar uns dias no Jalapão é de choque. Primeiro você fica sem sinal de internet no celular. Depois é o próprio celular que se torna inútil. Conexão wifi também é coisa rara, para não dizer inexistente. Pronto! Está posta a receita para passar alguns dias desconectado de tudo. No Jalapão não é possível fotografar e compartilhar – o Facebook mais próximo está a horas de estrada de terra de você. Assim a gente desapega da necessidade de compartilhar tudo e se entrega a outro vício. O de contemplar.
Contemplar a Serra do Espírito Santo, o cenário mais incrível que encontrei por lá. Dunas, lagos e chapada se unem no mesmo local. Se algum dia fizerem um cartão-postal do Jalapão para vender em bancas de jornais, pode ter certeza que será da Serra do Espírito Santo.
Passamos por ela no segundo dia de viagem. Pouco a pouco, vencemos a estrada de terra que separava o acampamento daquele que seria o ponto para observar o pôr do sol. E foi aí que o dia escureceu, as estrelas apareceram e a lua – enorme, cheia, branca – passou a iluminar o território jalaponês.
Voltamos à Serra do Espírito Santo várias vezes nos dias seguintes. Num desses dias, subimos a serra, numa trilha de quatro quilômetros que forçou os joelhos, exigiu fôlego e descansou a vista, ao mostrar um Jalapão que parece engolir o mundo.
Mas o Jalapão é mais do que chapadas e cerrado. Tem cachoeiras, como a da Formiga, de água verde clara. Tem a Cachoeira da Velha, no Rio Novo. Cachoeira com 15 metros de altura – ali não dá para nadar, mas basta descer um quilômetro para achar uma prainha para chamar de sua. É esse mesmo Rio Novo que serve para nadar e, por que não, para o rafting dos mais aventureiros.
Por falar em nadar, inclua no seu roteiro também os fervedouros, que num primeiro momento parecem ser apenas laguinhos de água azul, mas que na realidade escondem as nascentes de um rio subterrâneo. A ressurgência da água torna impossível afundar – você sempre é empurrado de volta para cima.
Depois de nadar e brincar nas águas do Jalapão, é hora de voltar para casa, mas não sem antes passar mais uma vez pela Serra do Espírito Santo. Sentado na beira da estrada, observando as chapadas do Jalapão, pensei nos filmes de faroeste norte-americanos.
Não pelo enredo, óbvio, mas pelo cenário. Vilas perdidas no meio do nada, estradas de terra e natureza exuberante. O Jalapão é nosso Monument Valley, nosso Velho Norte. Leve um bom livro, boas músicas e aprecie a passagem do Brasil pela janelinha do veículo. Que vai balançar.
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Sem dúvida um dos grandes destinos brasileiros. Fiquei 7 dias e tive a chance de conhecer os principais atrativos, fervedouros, cachoeiras, dunas.
Também senti falta de ficar mais tempo para conhecer Palmas e arredores, acho que pouca gente que vai ao Jalapão pensa nisso!
Abração Rafa
Obrigado pelo comentário, Guilherme.
Abraço.
Acabei de voltar do Jalapão que é tudo isso que você narrou e um pouco mais. Graças a Deus este santuário permanece preservado da ação predatória do homem e da ganância de grandes empresários. E é bom que continue assim longe de tudo e de todos e de acesso difícil. Parabéns pelo texto que retrata bem o que é o Jalapão. Também fui pela Korubo no pacote de 7 dias.
A viagem da Korubo é ótima, né? Gostei muito da experiência toda, Roberto.
Abraço.
Obrigada pela matéria. Eu sou louca para conhecer lá, está nos planos. Você gastou quando com os passeios?
Comprei o pacote com a Korubo. Veja aqui: https://www.korubo.com.br/index_br.asp
Abraço e obrigado pelo comentário.
Viajei no seu post! Bela descrição! O Jalapão tá na lista de desejos dos lugares que quero conhecer. Ansiosa aguardando os próximos posts sobre esse paraíso…
Logo eles começam a sair, Dalila.
Abraço.
Rafael, bacana demais cara!
Veja bem, qual empresa você fechou o pacote?
Sabe me dizer quantos dias dura o tour?
Não sou fã de turismo de massa, mas pelo que vi as únicas formas de acessar o Jalapão é contratando empresa ou um 4×4 né… (a segunda opção está longe de ser minha realidade… rs)
Fala, Julio. Fechei o pacote com a Korubo, que tem um acampamento no meio do Jalapão. Tudo é incluído, menos passagens aéreas e bebidas alcoólicas.
Você sabe que eu normalmente prefiro fazer viagens por conta própria, mas esse me parece ser um caso em que a agência ajuda e muito, já que eu não tenho o 4×4 e que encarar o Jalapão sem ajuda é meio tenso. Para você ter uma ideia, os dois carros da Korubo nunca andam separados, justamente para existir alguma ajuda, caso um carro atole, não ligue, etc.
O site deles: https://www.korubo.com.br/index_br.asp
Abraço.
Adorei o post! Descreve perfeitamente o meu sentimento. Obrigada, Rafa!
Que bom que gostou, Mari. 🙂
Obrigado.
Já deu saudades do Jalapão? hahaha
Ja estou morrendo de saudade daquela paz, daquele rio, de todos! =) bjs!
Quando vi o primeiro post a respeito de Jalapão, eu sabia que entraria na minha lista de lugares a ir. Lugar maravilhoso como esse, merece todo o esforço!
É incrível, Flávia. Em breve teremos mais posts do Jalapão aqui no blog.
Abraço.
Eu estava pesquisando esse destino dias atrás. Realmente é bem interesssante,belas paisagens ,os fervedouros,li que tem muito artesanato de capim dourado em Palmas.
Muito ineressante saber que Palmas é uma capital tão jovem, eu já falava e andava quando Palmas se tornou capital.
interessante
Pois é, Natália. Quero até voltar em Palmas, para conhecer mais da cidade e arredores mesmo. Parece ser interessante.
Abraço.