87.14%. Essa é a porcentagem do mundo que, segundo uma aplicação do Facebook, me falta explorar. Eu olho para as partes coloridas. “Você já visitou 48 países ou estados”, a página me informa. Parece muito. Eu movo meus olhos para as partes em branco no mapa. Agora parece pouquíssimo perto de todas as viagens que ainda me falta fazer.
E me vem outra vez aquele familiar comichão. Aquela vontade de colocar a mochila nas costas e pisar do lado de fora de casa. Caminhar até o próximo destino, pegar carona, ir para o aeroporto e entrar no primeiro avião sem me preocupar para onde. Eu poderia estar agora mesmo em uma vila no Himalaia, em uma praia paradisíaca no pacífico ou entre tribos nômades da Mongólia e meu encantamento seria o mesmo. O que importa é explorar. Sempre.
Não estou sozinha. Embora o turismo como setor comercial seja uma atividade relativamente recente, não é de hoje que os seres humanos lidam com a urgência de moverem-se pela superfície terrestre. Como explicar que, tendo surgido na África, a espécie tenha se espalhado aos recantos mais remotos do globo? Arriscar a vida cruzando mares em embarcações primitivas para instalar-se em ilhas na Polinésia? Tentar ser o primeiro a completar uma rota onde tantos já sucumbiram antes?
As viagens são tão antigas quanto a humanidade. Das primeiras pessoas que desceram das árvores e começaram a descobrir o mundo sobre duas pernas aos conquistadores das grandes civilizações da antiguidades, de Heródoto a Marco Polo, a Colombo, ao mochileiro que compra uma passagem de volta ao mundo pela internet. A inquietação sempre esteve aí.
Todas as diferentes motivações que nos levaram a sair de onde estávamos nos diferentes momentos históricos – a sobrevivência, o poder, a conquista, a riqueza, o lazer – estão ancoradas na vontade de explorar, na viagem como forma de descobrimento e aventura. E essa parece ser quase uma obsessão humana. Faz parte da nossa identidade enquanto espécie.
Talvez a ciência explique. A curiosidade e a vontade de se aventurar está inscrita em nosso genoma. De acordo com uma reportagem da National Geographic, cientistas conseguiram identificar o gene do wanderlust. O DRD4-7R, presente em cerca de 20% da população, intervêm no controle de dopamina associado à inquietude e à curiosidade. Os estudos revelam que os portadores desse gene são mais propensos a riscos, a novas experiências, a mudanças e ao movimento.
Coincidência ou não, o gene parece ter influenciado na história das nossas culturas. A variante está mais presente entre membros de culturas migratórias, como os ameríndios e as civilizações indo-europeias, que em culturas estáveis, como a chinesa. Outro estudo diz que o DRD4-7R é mais frequente entre os descendentes de populações que percorreram distâncias mais longas ao sair da África.
Mas somos humanos. E parte do que nos faz humanos é que não somos apenas frutos de uma programação biológica. Certamente o DRD4-7R não age sozinho. Somos cultura, somos o meio em que vivemos, somos as experiências que colecionamos. Somos história. E entendemos que não estaremos aqui para sempre, por isso precisamos ver tantas coisas com nossos próprios olhos antes que a luz se apague. No meio do caminho, quem sabe encontrar algum significado em tudo isso – e a busca por significados já é, em si, tão humana.
Como aves migratórias, somos animais viajantes. Somos exploradores naturais. E, se a superfície terrestre já está mais que conhecida e mapeada nos dias de hoje, seguimos buscando saber o que há para além das nossas próprias fronteiras, dentro e fora da gente.
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Olá Natália. Adorei seu post. Me identifiquei plenamente durante a leitura. Acho que faço parte dos 20% da população que tem o gene DRD4-7R.
Tenho um site de viagem com destinos no Brasil e com sua autoridade no assunto gostaria muito de sua opinião sobre ele, se possível.
O site é https://programeviagem.com
Muito obrigado e sucesso.
Vou me aposentar e virar cidadã do mundo, seu texto me convenceu ????
🙂 Fico feliz que tenha gostado, Denise!
Abraços!
Conheço esse comichão desde bem antes de poder viajar. Até agora, não passou.
Pois é Camila, o meu também não passa nunca
Texto incrível! Maravilhoso!
E devo confessar, imprimi e coloquei num envelope que só pretendo abri-lo daqui há alguns anos. louco? talvez…rsrsrs
Às temo que com o passar do tempo o ardor de “viajar-viver” passe e já não ache ser tão importante explorar o mundo. Mas vou guardando algumas reservas, algumas palavras que possam ser úteis no futuro. Hoje li seu texto com carinho como a pessoa que sou hoje. Quem sabe mais tarde eu leia com novas perspectivas?
É, essa wanderlust pega a gente e não larga memso, hein!!! kkkk
Abraços a todos deste blog! Nem sempre comento, mas adoro os posts!
hahah Thamires, não sei se é louco, mas fico muito feliz de ter um texto meu guardado nesse envelope! Eu acho que o desejo por explorar não acaba nunca. Pode ser substituido por outros prioridades, mas a semente vai estar sempre com a gente.
Abraços!
Adorei, Natália!!
A volta de férias me traz sempre esse comichão… já contando os dias p/ próximo “pé na estrada”… é praticamente um vício rsrs é mto engraçado, eu vivo num dilema eterno, conhecer uma nova fronteira, uma nova cultura, uma nova paisagem ou viver uma nova experiência em um local já conhecido? Independentemente da resposta, a ânsia de viajar está sempre aí…
O my Travel Map é mto interessante também, eu queria faz tempo por um mapa mundi na parede de casa e fazer exatamente isso, ir marcando onde já estive. Ótimo post!!!
haha conheço seu dilema, Bárbara! Passo pelo mesmo problema.
Abraços e obrigada por comentar!
Muito Bom ! Estou gostando bastante deste blog, os conteúdos publicado aqui, é muito bom e interessante,
estou sempre visitando e gostando muito.
Parabéns !
Ana Paula, que bom que gosta do nosso conteúdo! Volte sempre!
É aquele comichão que dá quando voltamos de viagem, já esperando pela próxima! 🙂
Abraço!
Esse mesmo comichão que conhecemos tão bem, não?