Estava eu sentada sozinha, em Évora, Portugal, esperando meu almoço, que demorava mais que o normal. Na mesa ao meu lado, um casal e a filha adolescente. Ela lia Harry Potter e a Ordem da Fenix – o que me fez gostar deles imediatamente – em uma língua que parecia francês, mas os pais conversavam em espanhol. O garçom, super atrapalhado, chegou com meu almoço e levou para a adolescente um suco de sabor errado: eles tentaram em inglês, francês, espanhol e portunhol, corrigir o erro. Eu entrei na conversa e expliquei para o garçom. Foi assim nosso primeiro contato.
Em seguida, quando o garçom voltou para fazer não sei o que, eles mostraram um mapa de papel e pediram que ele apontasse onde estávamos e como fazer para ir a um lugar qualquer. O garçom olhou para eles e então para mim, desesperado. Não só ele não conseguiria responder a pergunta – que ele aparentemente não tinha entendido no portunhol do casal – como ele também não fazia ideia de como se localizar naquele mapa meio confuso.
Mais uma vez, entrei na conversa para ajudar, o que acabou significando que continuamos falando sobre a vida, as nacionalidades, os problemas, dicas de viagem e Harry Potter. Mas uma das partes dessa conversa adorável que mais me marcou foi quando eles comentaram o quanto gostavam de mapas de papel. Que a filha só sabia olhar o celular, mas que eles se recusavam a isso. A não ser quando estavam dirigindo, só usavam o mapa de papel, as próprias pernas e a ajuda de outras pessoas para se locomoverem por uma cidade. Eu sorri e disse: “realmente, se vocês não tivessem perguntado ao garçom sobre a direção no mapa, jamais teríamos nos conhecido”.
Acabei passando o resto do dia me lembrando os bons momentos que tive com mapas de papel em viagens. Eu sempre tento ir ao escritório de turismo de uma cidade e pegar um mapa. Mas a verdade é que desde que o Google Maps passou a ter essa opção de baixar os mapas offline, meus mapas físicos foram perdendo o sentido de uso para me encontrar (ou me perder) e têm se tornando cada vez mais apenas suvenirs.
Na nossa volta ao mundo, em 2011, a pessoa que olhava o mapa e achava os caminhos era apelidada carinhosamente de “O Mapa”. Eu era “O Mapa” na maioria das vezes, porque gosto da função e tenho um senso razoável de direção. Mas o Rafa (menos) e a Naty também tinham seus dias de “O Mapa”. Sempre dizíamos: “cansei de ser O Mapa, assume aqui”. Lembro-me de estar em Paris pela primeira vez, abrir o mapinha, ver um prédio bonito desenhado, fazer todo mundo caminhar até lá para então chegarmos no prédio do Arquivo Público. Sou zuada até hoje por conta disso. Ou quando a Naty foi tentar ser o mapa saindo do Louvre, às 21h, e resolveu testar o francês dela para descobrir onde estávamos. Ganhamos uma super explicação que ninguém entendeu, mas pelo menos o senhorzinho foi bem simpático.
Lembramos às gargalhadas, outro dia, nossa experiência pela cidade de Ipoh, na Malásia, quando ficamos perdidos por quase uma hora porque eu e a Naty não conseguíamos concordar em que direção era o hotel e andamos em círculos. Também me lembro da Naty tentando nos guiar pelo labirinto que eram as ruas de Veneza, na nossa viagem em 2013, porque aquele mapa em escala estranha parecia criar ruas que não existiam e apagar outras.
Em Nova York, em 2009, o mapa nos fez sair do lado errado do Central Park e conhecer outra parte da cidade. Ou em Roma, de tão surrado que já estava o mapinha, ele rasgou ao meio bem quando eu fazia a perigosa manobra de atravessar a rua e tentar me localizar ao mesmo tempo.
Usar um mapa de papel ao invés do Google Maps pode ser o melhor jeito de delatar “Sou Turista”. Mas quem se importa? A magia de ficar perdido e se encontrar pode ser uma das partes mais divertidas de uma viagem. Você pode descobrir coisas novas. Pode se encantar, rir ou conhecer um casal de uma espanhola com um francês e que tem uma filha que lê Harry Potter pela quinta vez. E ainda te convidam para ir a Paris, na casa deles.
Ps. Amo o Google Maps, é o aplicativo que mais uso e em diferentes situações pode te tirar de várias roubadas. Mas acho que vou tentar manter meu celular na bolsa e um mapa na mão nas próximas viagens. Depois conto se consegui essa façanha.
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Olá
Corroboro com vc. Não abro mão de um mapa em nenhuma circunstância. É vc, o mapa, o desafio e …o glamour de um mapa na mão.
Sou brasileiro pretendo morar em Portugal e conhecer as terras lusitanas … sempre com um mapa na mão.
=D
Isso me fez lembrar de minha viagem a roma no verão do ano passado. Calor terrível, na piazza del popolo parei na sombra de uma estátua e de repente senti cair um pingo de chuva na minha cabeça, e dois no mapa.
Só que os “pingos” eram umas minhoquinhas verdes, percebi que um pombo tinha defecado em mim e no meu mapa! Sem levantar a cabeça, certa de que a próxima aliviada dos pombos poderia ser na minha cara, saí correndo e ainda tive que ficar com a cabeça suja até voltar ao hotel e arrumar outro mapa!
Vão por mim, nunca fiquem debaixo de estátuas em viagem!
haahahahaha, que história triste, porém, engraçada
Hahaha amei o post, me identifiquei muito! No caso eu sou “O mapa” das viagens e tbm não troco pelo Google Maps. Abraços!
=D
Também não vivo mais sem o Google Mãos, muito embora prefira um aplicativo chamado Here WeGo.
Não conheço esse aplicativo Paulo. Mas gosto tanto do Google Maps que confesso ter dificuldade em trocar