A favela está presente em todos os cantos do país e tem muito mais histórias pra contar do que as que a gente vê no noticiário. Uma delas vem lá das bandas do Rio de Janeiro: é o “Favelados pelo mundo”, um projeto da Thamyra Thâmara e do Marcelo Magano. Ela veio de Gama, no Distrito Federal, mas agora mora no Complexo do Alemão, ele é da Cidade de Deus.
Eles se definem como: “um ator e uma jornalista sendo transformados pelos encantos dos cantos do mundo. Viajar é a escola que todos deveriam ter o direito de ir”.
São exemplos que a periferia precisa e merece. Afinal, são mais de 11 milhões de pessoas que moram nas favelas brasileiras. Segundo o IBGE, 12,2% dessas pessoas (ou 1,4 milhão) vivem no Rio de Janeiro. Isso quer dizer que cerca de 22,2% dos cariocas, ou praticamente um em cada cinco, são moradores de favelas. Um número que não podemos ignorar. Lá tem muita gente que precisa descobrir que é possível desbravar o mundo e conhecer lugares novos.
“Não importa a nossa origem social, raça ou gênero, é possível romper barreiras com muita coragem, planejamento e determinação”, afirma Thamyra.
Como nasceu o Favelados pelo Mundo
Há alguns anos, Thamyra, junto com uns amigos, resolveu viajar pela América do Sul. Se apaixonou. Começaram o mochilão com uma viagem de ônibus até Buenos Aires, dormindo em hostels e gastando pouco. Lá, ela conheceu gente do mundo inteiro e foi assim que descobriu que a experiência era mais importante do que o consumo. Os gastos com a viagem foram tão moderados que ela até conseguiu voltar pra casa com uma graninha sobrando. Dos R$3 mil que levou, R$300 ainda ficaram na carteira. O mochilão sul-americano, que começou de ônibus passando por Floripa, Curitiba e Buenos Aires, terminou em uma volta de avião, pela Bolívia. E tudo dentro do orçamento.
Depois de descobrir que viajar não é um sonho impossível, ela resolveu ousar e organizou a primeira viagem, sozinha. O destino foi Nova York, mesmo sem dominar muito o inglês. Para não passar perrengue, Thamyra escreveu em um papel todas as informações mais importantes que ela precisava, e foi com o inglês básico, na cara e na coragem. Super deu certo!
Quando voltou pro Brasil, já formada em Jornalismo, saiu do Distrito Federal e foi morar no Rio de Janeiro. Lá, começou a trabalhar com comunicação comunitária e agora está há sete anos vivendo no Complexo do Alemão. Foi nessa de escrever sobre a comunidade que ela conheceu o Marcelo. Ele, que é ator e roteirista, fazia parte de um grupo de teatro na favela, adorava viajar, mas nunca tinha saído do Brasil. Hoje, além de ator, é também roteirista do Zorra Total.
O trabalho dos dois fez com que eles se conhecessem. E a vida e os objetivos em comum fizeram com que se apaixonassem e encontrassem um no outro um novo projeto de vida.
Eles foram pra Colômbia na primeira viagem juntos. Lá, entenderam que muito mais do que turistar, eles podiam incentivar outros jovens a descobrirem o mundo. Assim criaram o “Favelados pelo Mundo”, nome escolhido pelo Marcelo.
Já nessa primeira viagem, eles produziram vídeos pro YouTube, materiais para as outras redes sociais e começaram a ganhar o apoio dos seguidores. É uma galera que viu neles a possibilidade de viajar, que percebeu que sair da favela não é impossível. Thamyra diz que chegavam mensagens de pessoas dizendo que se sentiam emocionadas. Eram seguidores falando que também queriam viajar. Foi a partir daí que eles viram o projeto tomando uma proporção maior.
A aceitação foi tamanha que logo eles começaram a viajar mais. Juntos, com o Favelados pelo Mundo, eles já foram para Angola, Nova York, México, Guatemala e várias cidades do Brasil.
Para a Thamy e o Marcelo, o principal objetivo dessa jornada é “conhecer pessoas de todos os cantos, aprender com as diferenças, ampliar o conhecimento, se divertir e voltar para o Brasil cheios de ideias para inovar e transformar suas vidas e de suas comunidades”.
Pra não perder o embalo, eles já estão com um projeto novo. O próximo passo é redescobrir nossas origens africanas.
Favelados pelo Mundo: missão África
Um resgate às origens, uma volta ao passado para entender o presente e desenhar o futuro. Para isso, a Thamy e o Marcelo vão para a África pra resgatar a memória afrobrasileira e afrodiaspórica. Serão dois meses nas estradas africanas pra aprender um pouco sobre as suas origens e depois poder contar tudo pra gente.
Eles vão vivenciar a cultura como verdadeiros locais. Dormindo na casa dos moradores, conhecendo a verdadeira África e, claro, gastando pouco. A viagem vai passar pela África do Sul, São Tomé e Príncipe, Gana, Nigéria e Senegal. “A gente vai fazer um programa mostrando as relações que a África tem com o Brasil a partir de dois jovens afrobrasileiros e que são moradores de favela, buscando essas relações ancestrais e mostrando a África a partir de um turismo artístico, cultural e afetivo para além dos estereótipos”, diz Thamyra.
Se você gostou do projeto, pode contribuir para tornar essa ideia possível. É que eles estão com uma vaquinha online para arrecadar uma grana e tornar a viagem real e muito mais informativa. E quem contribuir, além de ajudar nesse projeto super bacana, vai ganhar uns mimos da dupla. Legal, né?
Você pode doar aqui por esse link aqui.
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