Não tão longe da badalada e glamourosa Paris, Lyon, a terceira maior cidade e o segundo centro econômico do país, mostra a você uma outra face da França. As varandinhas rústicas e a simplicidade dos locais, as ruas tortas, os becos e restaurantes, tudo contribui para o clima retrô do lugar. Se Paris é uma cidade muito antiga, mas que acompanhou o mundo e chegou linda e poderosa ao século 21, Lyon é uma cidade antiga que te leva para uma viagem no tempo até a época do domínio do Império Galo-Romano na França, pelo menos dentro dos limites do centro histórico.
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A HI me forneceu um ticket de dois dias para esses hop-on hop-off buses, que, para quem não sabe, são esses ônibus turísticos que você pode pegar em um ponto, descer quando quiser e depois pegar o próximo no mesmo lugar para continuar o passeio. A intenção era que eu não precisasse bater perna demais pelas colinas de Lyon, o que eu fiz de qualquer forma. É que essa foi a primeira vez que eu usei um desses ônibus e logo descobri que não é muito a minha. Eu gosto mesmo é de andar pelas ruas no meu ritmo. Diversas vezes o ônibus passou em frente de lugares que eu considerei interessantes, mas não parou ali, seguiu para o próximo ponto turístico mainstream.
Lyon está localizada na confluência dos rios Saône e Rhône. Quase tudo o que você precisa ver na cidade está às margens do Rhône, no bairro Vieux Lyon e proximidades. Em bom português, o nome da vizinhança significa Velha Lyon. E não é por acaso: o bairro é medieval e ainda preserva o clima da época, embora também exale um ar renascentista. Não é a toa que você vai notar uma certa influência italiana nas construções, o que torna a cidade ainda mais diferente de Paris.
Eu sugiro gastar algum tempo perambulando pelas ruas desse bairro para descobrir os prédios e construções. Passe pelas Rue du Boeuf e des Trois Maries e se dirija para a Catedral St-Jean, construída em estilo romano entre os séculos 11 e 16. Eu passei por ela meio que por acaso: vi um prédio bonito e fui até ele ver o que era. Só mais tarde eu descobri que essa igreja já sobreviveu a guerras e revoluções, tendo sido, inclusive, completamente destruída três vezes ao longo da história. Não é preciso dizer muito mais de uma construção que foi cenário de revoltas da Revolução Francesa e alvo na Segunda Guerra para te convencer que vale a visita, não é mesmo?
Dentro da igreja fica um relógio astronômico do século 14. Uma relíquia da época em que todo mundo acreditava que o sol girava em torno da Terra (tem um vídeo bacana aqui sobre o relógio). O artefato possui um astrolábio que indica a posição da Terra, da Lua, do Sol e das principais estrelas observadas a partir de Lyon. Programe sua visita para um dos horários nos quais ele toca: às 12h, 14h, 15h e 16h.
Não muito longe dali, na outra margem do rio, estão a Praça Bellecour, uma das maiores da Europa, a bela Ópera de Lyon e a Place de Terreux, um amplo espaço com uma bela fonte no centro e ao lado do Museu de Belas Artes (entrada por 7 euros).
Paredes Pintadas
Uma das dezenas de particularidades de Lyon são as imensas paredes pintadas que enfeitam as ruas. Na maior parte das vezes, as pinturas imitam janelas e portas, como se fossem de verdade. Na mais famosa delas, é possível contemplar alguns dos mais célebres cidadãos lionenses, Irmãos Lumière e Saint-Exupéry, o escritor do Pequeno Príncipe, são provavelmente os mais famosos entre os retratados. Algumas vezes, quando eu olhava para algum prédio mais distante, era difícil dizer se as janelas eram reais ou de tinta, tão comuns e realistas as pinturas são.
Essa história de parede pintada teve início na década de 1920, quando um grupo de dez estudantes lionenses fez uma excursão ao México para estudar a pintura de paredes como narrativa e como as técnicas da arte renascentista poderiam ser modificada para passar mensagens políticas. De volta à França, os estudantes criaram o coletivo CitéCriation e marcaram para sempre o visual das ruas de Lyon. Você pode ler mais sobre esses famosos muros aqui (link em inglês).
Outra pintura muito importante é conhecida como Bibliothèque de la Cité, que fica logo na esquina da Quai de la Pecherie com rue de la Platière. O paredão tem 500 metros de referências literárias de autores nascidos na região francesa dos Rhône-Alpes.
Fourvière e as ruínas Galo-Romanas
Subindo as colinas da Vieux Lyon, aquelas ali próximas à Catedral St-Jean, está a região de Fourvière, ou onde tudo começou. É que há uns dois mil anos os romanos se instalaram ali e construíram a cidade de Lugdunum. Esse era o início da Lyon que conhecemos hoje.
A marca mais importante da ocupação romana na região é um teatro do ano 15 a.c com capacidade para acomodar uma audiência de 10 mil pessoas. O mais interessante é que até hoje o lugar é palco de shows e eventos culturais, da mesma forma como era usado pelos romanos. Incrível, não? A entrada no espaço é gratuita. O lugar é composto pelo teatro principal e por um odeon adjacente, que foi usado para apresentações menores e para recitais e leitura de poesias no período romano.
Ali dentro, não deixe de visitar o Museu da Civilização Galo-Romana (7 euros), que reúne artefatos da época encontrados do Vale do Rio Rhône. O museu é enorme e muito bem organizado.
Outra construção importante por ali é a Basílica Notre Dame de Fourvière. Essa igreja fica bem no alto da colina e pode ser vista de diversos pontos da cidade, como se abençoasse Lyon. Da mesma forma, é possível ter excelentes vistas da cidade a partir da igreja. Ao contrário dos outros pontos turísticos citados nesse post, a Basílica data de um período não tão antigo: foi construída no finzinho século 19 e sua arquitetura contrasta com o restante do centro histórico. Lá dentro é possível fazer um tour de uma hora pela área principal e pelas criptas (2 euros) ou subir até o telhado para admirar o teto esculpido em pedra (5 euros).
Uma dica: Quando for subir até a Fourvière, economize suas pernas e pegue o funicular construído em 1900 que sai do metrô Vieux Lyon. Os passes do metrô valem também para o funicular.
A viagem à França foi patrocinada pela Hosteling International como prêmio pelo concurso Big Blog Exchange.
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