Os incríveis canais de Amsterdam

Toda cidade fica ainda mais bonita com um rio. Sim, caro leitor, essa regra vale até para São Paulo, cortada por Tietê e Pinheiros, embora eles estejam mais cheios de esgoto do que de charme. O que dizer então de uma cidade com quase 100 quilômetros de canais, todos eles limpos e bem cuidados? Esse lugar existe: Amsterdam, na Holanda, tem água por todos os lados, a ponto de ter gente que vive boiando. Literalmente.

As house boats – ou casas-barco – são um dos cartões-postais mais famosos de Amsterdam, que tem cerca de 2.500 delas. Morar sobre os canais da cidade é uma tradição desde o século 17, quando algumas pessoas tomaram a decisão óbvia de fazer casas completamente equipadas sobre a água, afinal a cidade tinha o recurso de sobra.

Por isso, não é incomum que Amsterdam seja comparada com Veneza, outra experiente no assunto água. Só que há uma diferença gritante entre as duas: “Deus criou o mundo, mas foram os holandeses que criaram a Holanda”, diz um ditado. E, temos que concordar, eles fizeram um trabalho impressionante em Amsterdam.

Veja também: Onde ficar em Amsterdam – os melhores bairros

Canais de Amsterdam

A história dos Canais de Amsterdam

“Onde você mora?”

“No rio Amstel, perto da barragem (dam)”, responderia o holandês do século 13.

Foi mais ou menos assim que surgiu o nome Amsterdam, uma prova de que origem da cidade está ligada à água. Os canais só vieram mais tarde, no século 17. Nessa época a cidade era uma das mais ricas do mundo, fato que atraiu um problema: gente. A população de Amsterdam saltou de 30 mil pessoas, em 1585, para 200 mil, em 1685. Assim como acontece em toda cidade, essa explosão populacional forçou o governo a trabalhar.  A cidade foi replanejada, e nesse planejamento surgiram os canais. Sim, eles foram feitos pelo homem, como fica evidente pela foto abaixo, afinal Deus não seria tão geométrico.

Canais de Amsterdam

 Foto: Swimmerguy269, Wikimedia Commons

Em formato de círculos concêntricos, os canais tiveram a função de dividir as áreas residenciais da cidade, além, é claro, de controlar água e servirem de vias de trânsito. Eram como avenidas, mas com uma vantagem: a obra saiu mais barata. Mas isso não significa que não tenha rolado um superfaturamento básico, lógico. Os políticos da época deitaram e rolaram, com alguns deles comprando terrenos a preço de banana para depois vender para o governo, com um lucro absurdo.

Agora, pensa comigo, o que rola com rios e canais que cortam cidades? Pois é, mais ou menos a mesma coisa que acontece hoje com os rios Tietê e Pinheiros – na falta de esgoto, vai tudo para o rio mesmo. Não foi diferente com Amsterdam. No século 19 a situação era grave, com direito até a uma epidemia de cólera. Até mesmo o aterramento dos canais chegou a ser cogitado, acredite se quiser. Teve gente que defendeu a substituição dos canais por ruas, afinal os carros eram (tente não gargalhar) o futuro.

Ainda bem que alguém teve bom senso. Os canais, que há séculos faziam parte da cidade, começaram a atrair turistas. E turistas andam com bolsos cheios de dinheiro. Por tudo isso, os canais de Amsterdam sobreviveram ao século 20 e hoje servem de testemunho de que até o mais poluído dos rios pode ser salvo.

Um passeio pelos canais de Amsterdam

Eles são as estrelas da cidade, as maiores atrações. Sem os canais, Amsterdam não seria a mesma. Enquanto estivemos lá, em outubro de 2013, aproveitamos para caminhar e conhecer vários pedacinhos dos canais que cortam a cidade. Óbvio que não vimos tudo: diz a Wikipédia que a cidade tem cerca de 160 deles, além de 1.500 pontes e quase 100 ilhas. A área ao redor dos canais mais antigos foi declarada Patrimônio Mundial pela Unesco, em 2010.

Amsterdam, na Holanda

Não faltam passeios de barco pelos canais de Amsterdam. Nós fizemos um, com duração de uma hora. Além de passear calmamente e ver a cidade de outro ponto de vista, esses tours costumam incluir uma explicação detalhada da história dos canais. As fotos ficam ótimas, mesmo num dia chuvoso, como o que encontramos no dia do passeio. Dica esperta: reserve seu passeio pelos canais com antecedência, pela internet, e economize quatro euros, já que o tour é mais caro se comprado na hora. A Ticketbar, uma empresa holandesa que é parceria do 360 e tem até site em português, vende os ingressos. Saiba mais aqui.

Os moradores da cidade (gente sortuda) também usam e abusam dos canais, com direito a passeios de barco e até a uma pescaria de vez em quando. Mas e nadar, pode?

Normalmente não, tanto pela qualidade da água, já que há pouco tempo muitas das house boats não estavam ligadas ao esgoto, como também por questões de segurança, afinal os canais estão repletos de barcos. Mas de vez em quando essas restrições são retiradas. É quando rola a Amsterdam City Swim, um evento de caridade normalmente organizado em setembro. Se você estiver por lá nessa época, pode ser uma oportunidade para conhecer os canais de Amsterdam de outra perspectiva.

passeio de barco em Amsterdam

House boats em Amsterdam

Já os mergulhos não intencionais são frequentes o ano inteiro. Como muitas vezes não há nada que separe o canal da calçada, os mais desatentos podem repentinamente descobrir como está a temperatura da água. Tipo o turista do vídeo abaixo.

E se Amsterdam tem mais bicicletas que habitantes, parece lógico que essa estatística seja mantida debaixo d’água.  Segundo a Associated Press, todo ano cerca de 12 mil bicicletas são retiradas dos canais de Amsterdam. Um trabalho de pescaria e tanto, ó:

Pior mesmo é quando a pescaria envolve um carro. Durante o tour pelo canal, o guia explicou que um carro por semana cai dentro dos canais da cidade, na maioria das vezes por imperícia do motorista. Achei o número meio exagerado, mas esse texto aqui explica que Amsterdam tem até uma equipe de mergulhadores, disponível 24 horas por dia, para resolver esses probleminhas causados por aquela parte do veículo que fica entre o banco e o volante. Tá aí um jeito de conhecer os canais que eu não quero testar.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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16 comentários sobre o texto “Os incríveis canais de Amsterdam

  1. Muito bom, assim como outros artigos do 360 meridianos. Vocês continuam viajando e escrevendo o blog? Não tenho visto postagens mais recentes. Leio muito sobre viagens, e o de vocês é sempre bem escrito, com uma pesquisa sobre a história local que eu adoro.Parabens.

    1. Oi, Natalia, Obrigado!

      Sim, postamos todos os dias. Clica na logo do blog que você verá, na home, os posts mais atuais.

      Todos continuam indo para o Facebook, mas infelizmente a rede social mostra cada vez menos as postagens para os curtidores. O jeito é entrar direto aqui. 🙂

      Abraço e obrigado mesmo pelos elogios.

  2. Parabéns Rafael por mais este post incrível. Ativou preciosas memórias. Fez crescer a vontade de retornar munida dessa riqueza de informações propiciadas e fazer do retorno uma experiência tanto ou mais extasiante que a primeira.

  3. Amsterdã é uma cidade sem igual, e os seus canais tornam o local ainda mais fascinante. Sem dúvida, está no topo da minha lista de cidades da Europa. 🙂

  4. Texto impecável, nunca havia lido tantas curiosidades a respeito dos canais de Amsterdam. Achei linda a foto aérea, não imagianav ser tão geométrico. E essa história da pescaria de bicicletas… haha, sensacional.

    Estaremos por lá em Setembro, já que a cidade é um dos destinos de nossa viagem de volta ao mundo (aliás, obrigado por serem uma fonte de informação e inspiração!). Vamos fazer um passeio de barco e alugar uma bicicleta – mas tomar muuuuito cuidado pra não acabar caindo, rs.

    Abraços!

  5. hahaha adorei o texto! Amei o passeio de barco que fiz por lá! Eu cheguei na cidade no dia da final da Copa de 2010 e msm perdendo a final para a Espanha, os holandeses fizeram questão de comemorar. 2 dias depois, a galera estava nas beiras dos canais esperando a seleção desfilar de barco e começaram a fazer várias brincadeiras, inclusive jogar bolas de uma margem para a outra. Adivinhem o final? Alguém jogou muito fraco e a bola caiu no meio do canal. Um maluco qualquer pulou naquela água imunda para pegar a bola e a multidão aplaudiu! rs

    1. hahahaha

      Nossa, tá aí uma experiência que deve ser incrível: Amsterdam em dia de final de Copa do Mundo, com a seleção deles jogando.

      Abraço!

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